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1 ano para Paris-24. Certezas e dúvidas do vôlei brasileiro

Daniel Bortoletto faz uma análise das Seleções Brasileiras de vôlei um ano antes dos Jogos Olímpicos de Paris
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Nesta quarta-feira, 26 de julho, é celebrada a data de 1 ano para o início da Olimpíada de Paris. E qual o cenário do vôlei atualmente, logo após o encerramento da Liga das Nações e a volta ao trabalho já pensando nos Pré-Olímpicos?

Pela primeira vez desde 1997, o Brasil não conquistou uma medalha em ao menos um dos naipes nas competições da FIVB (Liga Mundial, Grand Prix e agora rebatizados de VNL). Divido o textão em feminino e masculino para facilitar:

FEMININO

– O Brasil ficou devendo na última VNL e sabe disso. E aqui a crítica não é feita pela falta de uma medalha, mas sim pela irregularidade das atuações. Questões físicas, ausências por lesão, momento técnico ruim de algumas atletas. Tudo isso somado aumentou a quantidade de perguntas que precisam ser respondidas nos próximos meses.

– A primeira constatação da VNL: Ana Cristina faz muita falta. A jovem ponteira foi destaque na semana 1 da competição e traz um peso ofensivo diferenciado ao time. E a dificuldade para aproveitar contra-ataques, sem ela em quadra, foi nítida nas etapas seguintes, sobrecarregando Gabi.

– Quem será a oposta titular? Seis atletas (Kisy, Rosamaria, Lorrayna, Lorenne, Tainara e Maiara Basso) foram usadas na VNL na função e a dúvida persiste. José Roberto Guimarães não tem hoje uma jogadora que esteja tão acima das demais. E, por ser uma bola de segurança para momentos de instabilidade do passe, a importância de uma definição cresce com o passar das competições.

– E quem será a líbero? Natinha e Nyeme seguem dividindo a posição. Em recente entrevista ao Web Vôlei, Zé Roberto lembrou de uma passagem de Barcelona-92, quando os próprios atletas, em uma atividade, escreviam qual companheiro passava mais segurança em momentos de decisão. Tantos anos depois, o mesmo exercício talvez ajude a responder a pergunta acima.

– A volta de Thaísa é um enorme bônus para a Seleção. E ela já mostrou na VNL que ainda faz a diferença e traz uma nova bola de segurança para o ataque brasileiro. Mas ainda persiste a dúvida sobre rede de 2 e rede de 3, com necessidade de um ajuste fino com Carolana, a outra titular da posição, permitindo a possibilidade de uso mais frequente da “China”, além de uma melhoria obrigatória na eficiência do bloqueio.

Thaísa voltou bem na VNL (FIVB Divulgação)

– Saque e volume de jogo: dois pilares do vôlei, duas características dos times de Zé Roberto. Sem a melhoria de ambos, o estilo de jogo brasileiro fica em risco.

– Por fim, Maiara Basso foi quem mais aproveitou a VNL. Uma estreante que entrou na briga por uma vaga em Paris.

MASCULINO

– Minha maior crítica ao trabalho neste ciclo olímpico foi não ter aproveitado mais oportunidades para testar e iniciar uma transição para renovação. Se Paris-24 deve marcar despedidas de alguns campeões olímpicos da Rio-2016, os sucessores já deveriam ter acumulado maior quilometragem. E em muitas posições da Seleção isso não aconteceu. Brasília, o atual terceiro levantador, não jogou. Terá chance agora na Copa Pan-Americana. Mas não deveria ter sido testado em uma competição maior como a VNL? Para mim, com certeza.

– A falta de quilometragem internacional para alguns atletas implica em dependência. Basta ver como Lucarelli precisou estar em quadra em todos os jogos, suprindo a ausência de Leal e a aposentadoria precoce de Douglas Souza da Seleção após Tóquio.

– A dúvida entre Nyeme e Natinha também existe entre Maique e Thales. Eles têm se alternado na titularidade. O ponto positivo é não ver mais um só passando e outro só defendendo.

– Honorato foi quem saiu bem maior do que entrou na VNL. Com atuações consistentes, o ponta afastou parte da desconfiança por ter 1,90m, “abaixo do padrão internacional”. Entrou de vez na briga por vaga entre os 12 para Paris.

– Judson vem pedindo passagem. Não sentiu o peso de estrear pela Seleção, trouxe muito eficiência ao ataque e deve ganhar mais oportunidades.

Judson ganhou espaço na última VNL (FIVB Divulgação)

– Ter um equilíbrio maior entre o saque forçado, arma imprescindível no vôlei moderno, e as variações. O Brasil, em muitos momentos, tem facilitado a vida dos nossos rivais, já que erra demais ao buscar entrar na “pancadaria”.

– Por fim, temos de diferenciar garotos de atletas sem experiência internacional. Garotos no elenco da VNL eram Arthur Bento e Thiery apenas. Outros atletas podem não ter rodagem, mas não podem ter mais a “proteção da idade” como desculpa para pouca utilização.

Para encerrar, uma constatação válida para ambos os naipes. O vôlei mundial está muito equilibrado, com mais países chegando para brigar. A diferença entre cair nas quartas de final e estar em um pódio é pequena. Por isso cada detalhe fará diferença em Paris.

Por Daniel Bortoletto

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