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A influência política na saída de Adriana Behar

Texto de Daniel Bortoletto sobre a saída de Adriana Behar da posição de CEO da CBV, após menos de dois anos no cargo
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Durou menos de dois anos a passagem de Adriana Behar como CEO da Confederação Brasileira de Vôlei (CBV). E a precoce saída mostra como a politicagem é mais forte do que o trabalho em alguns ambientes.

Como executiva remunerada, ela chegou com “carta branca” para modernizar a entidade. Mas, aos poucos, os velhos métodos de um modelo arcaico de comando do esporte vieram à tona. E assim não há profissionalismo que resista.

Para tentar explicar, é preciso voltar ao modelo eleitoral da CBV. Por mais que no discurso seja bonito dizer que atletas e comissões ganharam espaço nos últimos anos, na prática não funciona assim. Quem escolhe a presidência são as federações estaduais. E elas têm muita voz na condução da entidade.

Na eleição do vôlei nacional, os votos têm pesos diferentes. Cada voto das 27 federações estaduais vale por seis. É o mesmo peso dos quatro atletas das Comissões Nacionais (dois de vôlei de quadra e dois de vôlei de praia). Já os 54 atletas das Comissões Estaduais (dois por unidade federativa), os oito medalhistas olímpicos eleitos, que passaram a ter direito a voto, além de mais nove clubes, têm peso 1. Ou seja, a partir de um conta simples. Os votos de 22 federações são suficientes para fazer o vencedor da eleição, mesmo que todos os demais 80 votantes escolham o outro candidato. Neste cenário, o placar por peso, o que vale na contagem final para definir o eleito, seria 132 a 125.

Dito disso, fica claro como as federações apoiadoras do presidente têm força. E uma parte delas foi decisiva para a saída de Adriana Behar. Pressionaram até pelo fato a então CEO ter acertado com a presidência da CBV um formato híbrido de trabalho, sem a necessidade de estar todo dia presencialmente na sede da entidade, no Rio. Na prática, a pandemia provou, por A + B, que a produtividade até aumenta com o trabalho remoto. Se a questão fosse essa, o presidente da CBV não poderia morar em Alagoas, com raríssimas aparições públicas em eventos e reuniões da entidade.

No plano de trabalho de Adriana Behar, alguns temas também não eram vistos como prioridade por algumas mentes arcaicas, como a política de equidade de gênero e a valorização da diversidade dentro da CBV. O que ganha uma federação com tal política? Cheguei a ouvir essa pérola, meses atrás.

Ex-jogadora (e das boas), Adriana tentou ouvir muita gente nos seus 20 meses de trabalho na CBV. Sabia que apenas relatórios e planilhas não eram suficientes para a detecção dos problemas mais profundos e criação de um plano de melhorias. E essa abertura também não agrada quem prefere manter o poder em torno de uma única mesa. A declaração forte de Gabi, capitã da Seleção Brasileira, é uma prova de que a aproximação de Adriana Behar com atletas era muito bem-vinda pela “classe”.

Muito vencedor dentro das quadras, o vôlei brasileiro não tem a mesma excelência fora delas. E qualquer movimento de modernização sofrerá forte resistência da ala política da entidade.

Por Daniel Bortoletto

Tags: Adriana BeharCBVGabi

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