Campeão da primeira etapa do Circuito Brasileiro Open em 2019, em São Luís (MA), em janeiro, o paraibano Álvaro Filho, de 28 anos, está sorrindo como nunca. Junto com o chapéu de vaqueiro, sua marca registrada, voltou ao lugar mais alto do pódio e comemora o fato de ter feito as pazes com o corpo após um 2018 marcado por lesões que atrapalharam a regularidade. Junto do campeão olímpico Ricardo, Alvinho sabe quais os próximos passos quer dar.
Em entrevista ao site da Confederação Brasileira (CBV), o medalhista pan-americano e campeão brasileiro da temporada 2016/2017 fala sobre a ligação com a cultura nordestina, o momento mais emocionante vivido no vôlei de praia e a admiração pelo CT Cangaço, onde treina diariamente.
O que mais lhe impressiona em seu parceiro Ricardo, que aos 44 anos segue em alto rendimento?
O que mais admiro é a mentalidade do Ricardo, a força psicológica dele. É a mente de um campeão, ele conquistou tudo que disputou e segue motivado. Alguns atletas acabam relaxando após vencerem um grande torneio, mas ele segue com essa ‘fome’ de campeão. Segue se desafiando, segue buscando aprender coisas novas, melhorar todos os dias e alcançar novos títulos. É um exemplo para treinar mais, buscar se aprimorar sempre. Se chegar aos 40 anos com parte da energia que ele exibe agora, será ótimo.
Você sofreu com lesões em 2018, foi um ano difícil. Como manteve o foco para dar a volta por cima?
Acredito que o que me deu base para manter o foco e paciência para me recuperar foi minha família. Foi um ano difícil, muitas vezes eu estava em reta final de recuperação e acontecia alguma outra lesão. Além disso, a equipe do CT Cangaço também ajudou demais nesse período. A vida do atleta é feita de altos e baixos, seja um campeão olímpico, seja de um atleta jovem, buscando seu espaço. É importante entender essa particularidade da profissão e confiar no trabalho realizado. Fico feliz por estar mantendo um trabalho forte desde o final do ano passado, estou me sentindo talvez até melhor do que antes.
Você sempre leva o chapéu de couro de vaqueiro no pódio. Como começou essa história?
Meu pai teve essa ideia, ele era vaqueiro, me pediu para que usasse o chapéu no pódio. Eu não poderia negar. É uma honra representar o povo nordestino, nossa cultura. Fico feliz quando pessoas me param na rua e comentam sobre essa marca registrada. Um povo que muitas vezes supera dificuldades como a seca, está sempre lutando. Tento trazer isso para minha carreira. Possuo essa identificação grande com o povo brasileiro, que busca superar as dificuldades, que batalha diariamente por seus sonhos.
Qual momento mais especial vivido no vôlei de praia?
Já vivi muitos momentos marcantes, mas acredito que o mais especial foi ser campeão de uma etapa do Circuito Brasileiro Open em casa. Não foi o título mais importante que já conquistei, mas foi muito especial. Na época, um paraibano não vencia a etapa de João Pessoa há 15 anos, desde o Zé Marco, em 2000, e pude realizar esse sonho junto do Vitor Felipe em 2015. Era uma dupla 100% paraibana. Eu olhava nas arquibancadas e as pessoas estavam chorando, comemorando. Foi muito bonito, até pela presença de pessoas especiais que estavam no torneio, o próprio Zé Marco, o Gilmário Cajá, entre outros.
Você cursou um ano de Engenharia. Pretende continuar o curso um dia?
Pretendo fazer um curso superior, mas acho que não seria mais Engenharia. Vivia na época aquela dúvida entre focar no ensino e na profissão, ou apostar na vida de atleta profissional. A família foi fundamental para que eu seguisse no vôlei de praia. Os professores cobravam, exigiam que eu tivesse dedicação. Tive que deixar o curso. Espero voltar para a universidade no futuro, fazer algo ligado ao esporte e ao lado social. Temos um estado com um potencial muito grande para o esporte, espero conseguir aliar esses dois pontos. A parte social me atrai bastante.
O Circuito Mundial faz com que os atletas rodem o mundo. Qual sua cidade favorita?
Primeiro vem João Pessoa (risos). Fora do Brasil, tenho uma relação muito bacana com Gstaad, na Suíça. A etapa lá é sempre fantástica, com a arena lotada, o público adora voleibol. E foi um lugar que me acolheu. Quando era mais novo e passei a rodar o circuito, tinha pouco dinheiro, mas fiz amigos lá que me abrigaram, ajudando nos custos. Ganhei uma segunda família por lá. E foi também onde venci minha primeira etapa ao lado do Ricardo, em 2013. Além das paisagens, da natureza linda daquele lugar, cheio de montanhas e rios de degelo.
Quais os objetivos para o futuro no vôlei de praia?
Ouvir o hino nacional em solo estrangeiro é uma coisa muito especial, uma emoção indescritível. Quero passar essa emoção cada vez mais, Ricardo e eu estamos trabalhando para isso, estou buscando aprender sempre com ele. Esse ano temos o Campeonato Mundial, os Jogos Pan-Americanos, em 2020 teremos os Jogos Olímpicos. São competições que todo atleta sonha em participar. Vamos trabalhar forte para evoluir cada vez mais. Sabemos das nossas metas e do alto nível das duplas brasileiras, por isso teremos que ser merecedores para representar nosso país.
Qual a importância do CT Cangaço na sua formação como atleta e cidadão?
Falar do CT Cangaço é até difícil para mim. É uma família e foi uma espécie de faculdade no vôlei de praia. Grandes profissionais estiveram aqui, não posso deixar de citar nomes como Marcelão, Giuliano Ribas (Juba), Gilmário Cajá, Rossini Freire. Atualmente, nós damos seguimento a tudo que essas pessoas plantaram. Eles transformaram a Paraíba em um polo do vôlei de praia, conquistaram muitas coisas, ajudaram no sucesso de grandes atletas como o Zé Marco, Ricardo, Emanuel, Harley, entre outros. Estamos em um estado que talvez não tenha tantos recursos quanto outras capitais, mas a palavra de ordem aqui sempre foi o trabalho. A renovação continua com nomes como o George, os gêmeos Renato e Rafael, Thiego e vários outros meninos que estão buscando seu espaço. É um trabalho elogiável, e não só o CT Cangaço, mas também outros CT´s aqui em João Pessoa.
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