A melhor participação do Brasil na história do Pan-Americano (55 ouros, 45 pratas e 71 bronzes) não teve vôlei e do vôlei de praia como protagonistas em Lima.
Nas quatro medalhas em disputa pelas modalidades, foram conquistadas apenas duas no Peru. E ambas de bronze: no vôlei masculino e no vôlei de praia feminino. Pouco perante a tradição, o investimento, a representatividade e a expectativa do vôlei e do vôlei de praia em qualquer competição internacional.
Para uma análise honesta (alerta de textão!), é preciso colocar na balança, em primeiro lugar, os atenuantes:
– A prioridade nos dois casos era a classificação para Tóquio. Como o Pan não dava vagas ou pontos em um ranking olímpico, os principais nomes da quadra e das areias não estiveram em ação pelo Brasil
– Alguns países levaram força máxima para o Pan. Dos quatro primeiros colocados no vôlei feminino, República Dominicana, Colômbia e Argentina. No vôlei masculino, Cuba. No vôlei de praia, os primos Grimalt (CHI), Virgen/Ontiveros (MEX), Galay/Pereira (ARG)…
Com isso apresentado, minha opinião: os resultados ainda assim deveriam ser muito melhores. E agora é a vez dos agravantes!
No vôlei de praia feminino, Ângela/Carol Horta tiveram no primeiro set das semifinais com as americanas Karissa Cook/Jace Pardon, uma enorme vantagem. Estavam atropelando as rivais de forma categórica. Lembro de ter dito na transmissão da Record News estar vendo o melhor jogo das brasileiras no Pan. De uma hora para outra, as rivais mudaram a estratégia de saque, Ângela e Carol passaram a errar demais e a vaga na final escapou de forma surpreendente. O mérito foi vê-las muito dispostas e focadas na disputa do bronze. A comemoração de Ângela, uma veterana lutadora de 38 anos, provou o quanto o Pan era levado a sério por ela.
No masculino, Oscar e Thiago acabaram sofrendo duas derrotas: uma na fase de grupos para os cubanos Reyes/Gonzalez. Ainda assim saíram em primeiro do grupo e passaram em primeiro no grupo e tiveram certa dose de azar no cruzamento com Virgen/Ontiveros, campeões no Pan de Toronto, em 2015. Em um jogo equilibrado, derrota por 27-25 e 22-20. Gosto amargo de uma eliminação antes da disputa por medalhas. Experientes, os brasileiros tinham potencial para a busca por um lugar no pódio sem sombra de dúvidas.
Nas quadras, a expectativa era ainda maior. A Seleção masculina contava com o campeão olímpico Éder, além de jogadores utilizados no último Mundial e nas edições recentes da Liga das Nações: Lucas Lóh, Thiaguinho, Kadu… Sem contar jovens talentos em busca de espaço no cenário nacional e Marcelo Fronckowiak, assistente de Renan, no banco de reservas. Mas, em poucos momentos na campanha, o Brasil mostrou o que se esperava. Perdeu set para o México na estreia, no dia seguinte para o Chile, até sair atrás do time universitário americano por 2 a 0 e conseguir uma virada para evitar a eliminação na primeira fase. Eu esperava um outro Brasil após a reação. Mas na semi o time verde-amarelo foi atropelado por Cuba em sets diretos. O bronze, na disputa com o Chile, era uma obrigação. E essa, ao menos, foi conquistada.
Nitidamente o time sentiu falta de ritmo de jogo no Pan. Para alguns atletas em busca de um lugar ao sol na Seleção, a competição em Lima poderia ser um divisor de águas. O oposto Abouba na primeira fase e o ponta Kadu, em parte da reta final, merecem uma menção honrosa.
No feminino, ter José Roberto Guimarães no banco e três titulares do Pré-Olímpico (Macris, Mara e Lorenne) aumentou a expectativa por um desfecho feliz. Em cinco jogos, porém, o Brasil venceu apenas dois. Além de duas derrotas para a Argentina (todas por 3 a 0) e uma incrível virada sofrida diante da Colômbia (3 a 2). Um quarto lugar muito abaixo do esperado, com algumas atuações sofríveis. O passe, problema também do time A, deixou muito a desejar. Tanto que alguns dos melhores momentos do time tiveram uma oposto atuando na posição (Paula Borgo). Zé também usou pouco Tainara e Julia Bergmann, duas jovens atletas testadas em boa parte da Liga das Nações, semanas antes. O espírito do time como um todo também me decepcionou. Faltou aquele “sangue nos olhos” em alguns momentos. Sobrou apatia em outros.
Um balanço da CBV com as respectivas comissões técnicas é necessário. Para quem em 2023, em Santiago, os resultados possam ser bem melhores.
Por Daniel Bortoletto, publicado inicialmente no LANCE!