A Argentina jogou muito melhor. É fato. E tal análise deve abrir este texto para não desmerecer o ótimo trabalho feito por Marcelo Mendez e também não ignorar as atuações individuais enormes de Conte, De Cecco & Cia. na final. Dito isso, a derrota do Brasil por 3 sets a 0, em casa, na final do Sul-Americano, incomoda por diversos motivos.
1) Faltou ATITUDE. Perder é do jogo, mas a forma como uma derrota acontece é opcional. Basta comparar como o outro lado para ter essa certeza. A Argentina estava com muito mais fome. Esteve sempre muito mais ligada, com muito mais gana. Para mim, inadmissível. E olha que o Brasil jogava em casa, com apoio incondicional da torcida no Recife.
2) Sem EVOLUÇÃO. Existia uma expectativa de ver um Brasil melhor após a VNL, já que houve tempo para treinamento. Mas no único jogo com nível para uma análise neste Sula os erros de sempre foram vistos. O bloqueio foi muito aquém. Faltou volume de jogo. Sobrou oscilação no passe. A falta de precisão em muitos levantamentos custou caro. Em resumo: muita coisa para consertar.
3) Opções QUESTIONÁVEIS. Não é de hoje que as escolhas de Renan são contestadas. Com o time pecando na defesa na final, qual o motivo de não colocar Maique, especialista no tema, em quadra? A fase técnica de Bruninho é nitidamente ruim, mas Cachopa ou qualquer outro levantador não tem uma sequência. A paciência com um novato, como Judson, é curta, como visto no primeiro set da decisão. Mas com um veterano, como Lucão, ela é bem maior.
4) Clima ESTRANHO. Poucos entenderam Abouba não estar com o grupo, após participar de toda fase de treinamentos em Saquarema, enquanto Darlan, voltando da Copa Pan-Americana com a Seleção B, no México, viajou para Recife. Também está mal explicada a ausência de Carlos Schwanke. Segundo a CBV, o assistente pediu dispensa por problemas particulares. A ver se ele voltará na sequência do trabalho para o Pré-Olímpico ou não.
5) Falta CONFIANÇA. “A gente não conseguiu reproduzir o que treinou”. A frase é de Bruninho após a derrota. Ajuda a entender que existe um componente emocional nesta equação. Será que está sendo dado o devido valor a esse aspecto? Arrisco a dizer que não.
6) Aumento da PRESSÃO. O tempo para o Pré-Olímpico é curto. E o fim de uma hegemonia continental só aumenta a responsa pela classificação para Paris. O Brasil, durante anos, conviveu com a pressão de se manter no topo no vôlei masculino. E soube lidar como poucos. E o que fará agora, quando os títulos rarearam e as dúvidas se acumularam?
7) COBRANÇA é obrigatória. Numa empresa, exigir o cumprimento de metas é parte da rotina, assim como a mudança é consequência quando os resultados ficam aquém. Não deveria ser diferente em uma entidade esportiva. A CBV está satisfeita com os resultados e com o processo realizado até aqui?
Por Daniel Bortoletto