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Brasileiro treina Muserskiy no Japão e “desmistifica” o algoz russo

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Muserskiy, no Brasil, é sinônimo da dolorida virada imposta pela Rússia em cima do Brasil na final dos Jogos Olímpicos em Londres, em 2012. Um algoz que o torcedor brasileiro tem pesadelos até hoje. Para um brazuca, porém, a imagem do gigante russo de 2,18m começou a mudar poucos meses atrás.

Leonardo Carvalho, durante muito tempo treinador das Seleções Brasileiras de base, comanda Muserskiy na Suntory, do Japão. Uma relação profissional de admiração, ainda em uma convivência ainda recente, já se transformou em laço pessoal após o conhecimento mútuo. Estrangeiros em um país bem diferente de Brasil e Rússia, eles compartilham as dificuldades de adaptação, da língua, da culinária e o amor ao vôlei. E assim o treinador passou a conhecer um outro Muserskiy, desconhecido do grande público.

Léo rasga elogios não apenas ao demolidor capaz de jogar bem como oposto ou central com o mesmo nível altíssimo, mas ao ser humano Dmitriy Muserskiy, o Dima.

– Ele é uma figura humana diferenciada. Ele é uma pessoa discreta, extremamente educada, um cara gentil, mesmo com todo aquele tamanho. Apesar da seriedade é uma pessoa muito comunicativa e simpática, mas acima de tudo na minha opinião a maior característica dele é a simplicidade! – comentou ao Webvolei.

Por enquanto, a parceria vem colhendo frutos dentro de quadra. A Suntory lidera o Campeonato Japonês com 34 pontos (12 vitórias e uma derrota). No fim de semana, na vitória no tie-break sobre o JT Thunder, o russo marcou 43 pontos. O vice-líder é a Panasonic Panthers, do polonês Kubiak, comandada pelo também brasileiro Maurício Paes. O próximo passo será a disputa da Copa do Imperador.

Até aqui, uma experiência pessoal e profissional ímpar para Leonardo Carvalho:

– O que posso dizer é que viver no Japão é uma experiência única em todos os aspectos. De modo geral, na minha opinião, apesar das enormes diferenças sócio-culturais, o cômputo geral é extremamente positivo e eu nesse momento tenho tentado desfrutar ao máximo essa oportunidade.

Confira o papo com o treinador.

1- Como surgiu a possibilidade de comandar a Suntory?

A Suntory tem já há alguns anos uma tradição de contar com jogadores e treinadores brasileiros. Já passaram por aqui o Chiquita, Gilson Mão de Pilão, Jaime Lanzini, ex-preparador físico do Sesi e atualmente em Taubaté, Marcel Matz, que na temporada passada esteve à frente do Vôlei Canoas e no último campeonato foi a vez do Gerson Amorim, atual técnico do Corinthians Guarulhos. Eu e o Gersinho trabalhamos juntos nas Seleções de base. Ao retornar para o Brasil, ele foi procurado por diretores da Suntory, que pediram a ele que indicasse outro treinador brasileiro. Então o Gersinho me ligou perguntando se eu teria interesse. Daí surgiu meu primeiro contato com a equipe. Atualmente são três treinadores brasileiros por aqui: Marcos Lerbach na equipe do Sakai Blazer, o Mauricio Paes na Panasonic Panthers e eu na Suntory. Curiosamente todas as equipes ficam em cidades da província de Osaka e desta forma estamos sempre nos encontrando fora do ambiente das quadras.

2 – O pedido de contratação do Muserskiy foi seu?

Não foi uma solicitação minha. Quando iniciamos as conversas da minha contratação a negociação com ele já estava iniciada. No entanto, foi uma negociação longa e trabalhosa pois ele ainda tinha mais um ano de contrato na Rússia. Pelo que sei havia uma multa, enfim, não foi uma ideia minha. Na verdade o próprio jogador tinha interesse em atuar no voleibol japonês e a Suntory ao saber disso se interessou em tentar viabilizar essa negociação.

3 – Já vi fotos de vocês com a família em momentos de lazer. Como é o russo fora das quadras?

Nos conhecemos há dois meses aproximadamente e somos vizinhos, pois moramos no mesmo prédio e compartilhamos a mesma paixão: o voleibol. O que posso dizer sobre o Dima, como ele gosta de ser chamado, é que ele é muito mais do que um jogador excepcional. Ele é muito mais do que um profissional competente e comprometido. Ele é uma figura humana diferenciada! Ele é uma pessoa discreta, extremamente educada, um cara gentil, mesmo com todo aquele tamanho. Apesar da seriedade é uma pessoa muito comunicativa e simpática, mas acima de tudo na minha opinião a maior característica dele é a simplicidade! Ele é uma estrela do voleibol mundial, um dos melhores jogadores do mundo, campeão olímpico, e apesar de ter a noção exata do que ele representa e da importância que ele tem, por exemplo para a equipe da Suntory, ele nunca se coloca acima dos demais jogadores ou acima da equipe. Ele não tem nenhuma necessidade de chamar atenção para si próprio. Sempre vejo ele colocando o seu talento em prol da equipe e essas atitudes acabam fazendo com que ele brilhe ainda mais intensamente. Resumindo, o Dima é um verdadeiro “team player”.

4 – Vocês lideram o Campeonato Japonês. Qual é a principal característica do time?

A Suntory não teve um bom desempenho na temporada passada e por isso investiu pesado para a contratação do Muserskiy. Basicamente são os mesmos jogadores mais o Dima que chegou esse ano. De modo geral a equipe é equilibrada. Temos um ótimo levantador, na minha opinião, um dos melhores do Japão e que para mim pode inclusive estar futuramente na equipe olímpica em 2020. Ele, apesar de ser jovem (tem apenas 23 anos), tem muito potencial. Esse ano está jogando sua primeira temporada completa, pois chegou à equipe em janeiro, ou seja no meio da temporada passada. Temos também um líbero experiente e dois bons ponteiros: um excelente passador, com ótimo desempenho no fundo de quadra e com ótima capacidade técnica geral. Já o outro com características mais ofensivas, com bom alcance de ataque (para os padrões japoneses), mas com algumas dificuldades na recepção. Em relação aos centrais fazemos um revezamento pois temos 4 centrais basicamente do mesmo nível, mas com características bem diferentes: dois com mais peso de ataque e saque viagem forte, mas com mais dificuldades de bloqueio, e outros dois com melhor aproveitamento de bloqueio mais altos, mas com saque flutuado e regulares no ataque. A equipe vem tendo um bom desempenho em todos os fundamentos mas com destaque para o aproveitamento de recepção, ataque e bloqueio.

Russo deu show em Londres-2012 (FIVB Divulgação)

5 – Já teve a oportunidade de dar uma “prensa” no russo por aquela atuação dele na Olimpíada de Londres?

Já conversamos sobre aquela final algumas vezes. Foi um momento especial e inesquecível para ele (infelizmente para nós também) e que até hoje o emociona. Ele relembra algumas dificuldades do início da carreira, do momento em que teve que decidir se seguiria uma carreira esportiva profissional ou se iria se dedicar aos estudos, da mudança com a família da Ucrânia para a Rússia, dos momentos de incerteza ao sofrer uma lesão grave ainda jovem e sem saber se a carreira dele estaria em risco ou não. Enfim, foi um momento especial para ele. Eu assisti àquela final num hotel na Itália, pois estávamos fazendo jogos preparatórios para o Sul-Americano de 2012. Eu estava com a comissão técnica e os atletas de seleção sub-21 no lobby do hotel. Realmente jamais esqueceremos aquele jogo. Quatro anos depois tivemos outra oportunidade no Rio de Janeiro e, mais uma vez em Saquarema, junto com vários colegas de trabalho, pude ver pela terceira vez a Seleção masculina ser campeã olímpica, no Rio de Janeiro.

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POR DANIEL BORTOLETTO

Tags: Japão

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