Enquanto vários clubes precisaram regularizar, nos últimos dias, os pagamentos da temporada 2019/2020 para a garantia da inscrição na próxima Superliga, débitos de anos anteriores seguem sendo descumpridos. O levantador Índio, que disputou a última Superliga B pelo Anápolis, e atuou em Caramuru nas temporadas 2017/2018 e 2018/2019, entrou em contato com o Web Vôlei para reclamar de pendências do clube paranaense.
– A temporada 2017/2018 terminou com dois salários em atraso, mas o Fábio (Sampaio, técnico e dono do Caramuru) fez acordo para conseguir o fair play. Na temporada seguinte (2018/2019), contratou-se um time mais caro, com um orçamento maior e a temporada já começou errada. O primeiro salário saiu com dois meses de atraso. Demoramos mais um mês para receber o resto. Jogamos o Campeonato Paranaense em débito, fomos para a Argentina em débito, o time contraiu um monte de dívida, mudamos várias vezes de restaurante para almoçar, mudamos várias vezes de academia até a Smart Fit tornar-se um patrocinador depois. Mas, a respeito dos salários, ficamos muito tempo sem receber – contou o levantador.
– Algumas pendências estão na esfera judicial e estão sendo resolvidas como determina a lei – disse Fábio.
No início de 2019, segundo o jogador, Fábio Sampaio reuniu os atletas e expôs a situação do time. A equipe estava recebendo a cota de apenas um dos patrocinadores, a Copel, no valor mensal de R$ 60 mil, sendo que a folha salarial girava em torno de R$ 130 mil. Portanto, os salários eram parcialmente quitados, proporcionalmente.
– Acabou a temporada e alguns atletas foram processados para que o time conseguisse se inscrever na próxima – contou Índio.
Essa é uma jogada que alguns clubes lançam mão para poderem continuar com o CNPJ limpo, quando não fazem acordo com um ou outro atleta e conseguirem o fair play financeiro junto à Confederação Brasileira de Vôlei (CBV). O time processa o atleta por alguma razão qualquer, e enquanto o processo se estende na Justiça ele ganha tempo para quitar a dívida e manter a equipe em quadra. No caso de Caramuru, na temporada passada, a vaga na Superliga foi conseguida na Justiça Comum de Ponta Grossa. O projeto processou a CBV e acabou garantido presença.
Montes Claros foi outro que usou a Justiça para jogar a última Superliga. Após emprestar o CNPJ para o Corinthians/Guarulhos, o projeto mineiro usou uma brecha no regulamento para processar atletas, que não receberam parte do contrato, e assim disputou a temporada passada com o nome de América Vôlei.
O ponteiro Jonatas Cardoso, que na última temporada defendeu o próprio América, foi um dos que foi processados pelo Caramuru para que o time pudesse jogar Superliga 2019/2020.
– Mesmo eles terem pisado na bola comigo, eu dei um voto de confiança no final da temporada 2018/2019 e assinei o acordo, parcelando a minha dívida em quatro vezes, com a promessa de que eles pagariam a primeira parcela em janeiro deste ano, para que eles pudessem jogar a Superliga, mas nada foi pago até agora. E eles nem dão satisfação. Eu ligo, ninguém atende nem responde as mensagens. Há pouco tempo meu empresário ligou para o Fábio Sampaio e ele alegou que tinha esquecido que me devia – contou Índio.
– A CBV convidou Caramuru para jogar, sendo que o time ainda tem débitos da temporada 2018/2019. Ouvi relatos de que foi trágica a vida deles na temporada passada em relação a treino e alimentação (quando a equipe jogou com o nome de Ponta Grossa). Como um time desse pode ser convidado ou jogar a Superliga? – questiona o levantador.
Pelo regulamento da Superliga, caso um dos dez primeiros da temporada anterior desista de participar, o 11º, que seria rebaixado, é convidado. Na sequência é chamado o 12º e, caso necessário, o próximo é o terceiro colocado da Superliga B. Para a temporada 2020/2021, com as desistências de Sesc e Maringá, América e Caramuru foram convidados. Ainda é possível que Anápolis entre na vaga de Ribeirão.
Por Patrícia Trindade