Em setembro, após Carol Solberg gritar “Fora, Bolsonaro!” ao fim de uma entrevista durante etapa do Circuito Brasileiro de vôlei de praia, a CBV divulgou nota oficial repudiando a manifestação da atleta. O texto terminava assim: “Por fim, a CBV gostaria de destacar que tomará todas as medidas cabíveis para que fatos como esses, que denigrem a imagem do esporte, não voltem mais a ser praticados”. Foi o início de um processo com dois julgamentos, no fim, inocentando Carol.
Quatro meses depois, Radamés Lattari, novo vice-presidente da entidade, e Renan Dal Zotto, técnico da Seleção Brasileira masculina, posaram segurando uma camisa com o número 11 e o nome Arthur Lira, candidato apoiado por Bolsonaro na eleição para a presidência da Câmara dos Deputados. A foto foi publicada pelo pelo ex-vereador Wilson Cesar Lira , do PSD, com a seguinte legenda: “Torcida forte para Câmara ter voz: os ídolos Renan Dal Zotto e Radamés Lattari. Agradecer ao amigo Gustavo Toroca e ao grande mestre Toroca pela torcida”, como mostrou o Blog Olhar Olímpico, do Uol.
O político ainda cita o nome do presidente da CBV e seu filho pela “torcida”, ou seja, a cúpula da entidade.
Ora bolas, um lado não pode se manifestar e merece punição por denigrir o esporte, enquanto o outro pode?
A CBV fez a mesma coisa de Carol: se posicionar politicamente. Por mais que a nota oficial da entidade tente se explicar: “A CBV é uma entidade que não tem preferências políticas ou partidárias e não se posicionou a respeito da disputa eleitoral na Câmara dos Deputados. A foto em questão não configura, em nenhum momento, apoio institucional da CBV ao deputado Arthur Lira. Não houve nenhum evento formal da entidade, e as manifestações de apreço foram feitas em ambientes estritamente pessoais, não representando a posição institucional da CBV. A camisa com o nome do congressista foi somente um presente a um deputado federal que sempre esteve ao lado de nossa modalidade”.
E a questão do timing, CBV? Tal acontecimento às vésperas de uma eleição deve ser entendido como natural, normal? Não, não pode.
Renan usou as redes sociais, nesta sexta-feira, para se explicar, dizendo estar chateado com a repercussão:
“Foi feita uma foto, com uma camisa customizada, com o nome de um político. Essa camisa, na minha cabeça, era uma ação de marketing. Jamais passou pela minha cabeça se tornar uma ação política, pois nunca me envolvi em política”, falou o treinador, que postou fotos de outras camisas com nomes de políticos, como Lula, entregue em encontros com a Seleção de vôlei, no passado, após alguma conquista importante.
Carol Solberg também fez uma postagem no Instagram, sobre o tema:
“Meses atrás minha liberdade de expressão foi ameaçada quando me processaram por ter me manifestado após um jogo contra o governo Bolsonaro. Ontem recebi uma imagem do vice presidente da CBV e CEO ao lado do técnico da seleção masculina de vôlei. Eles exibiam uma camisa da seleção brasileira com o nome de Arthur Lira, candidato de Bolsonaro à presidência da câmara. Ver o principal membro atuante da CBV manifestar seu apoio a um candidato político através da camisa da seleção brasileira de vôlei de quadra, às vésperas de uma eleição tão decisiva para o país e ainda dizer que esse apoio não representa a CBV, não faz sentido e é no mínimo muito controverso. E só para reforçar, defendo até o fim o direito de todo mundo se manifestar. O que não da mais para ouvir é que política e esporte não se misturam e essa máxima só prevalecer sobre os direitos dos atletas. Parece hipocrisia. E é’.
Se a CBV queria, de alguma forma no ano passado, banir manifestações políticas depois do caso Carol, ela não tem mais argumentos para contestar quando voltar a acontecer.
Por Daniel Bortoletto