A Confederação Brasileira de Vôlei (CBV) se posicionou, no início da noite desta segunda-feira (29/1), sobre as acusações de racismo em jogos da Superliga B, no último fim de semana.
A primeira delas aconteceu na sexta-feira, pelo torneio feminino, durante o jogo entre Curitiba x Tijuca, na capital paranaense. Já a segunda, pelo masculino, em Saneago/Goiás x Natal/América-RN, no domingo.
De a acordo com a entidade, o primeiro caso já foi encaminhado para o Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD), como primeiro desdobramento. Já o mais recente, segundo a CBV, ainda depende de um posicionamento da equipe potiguar.
Confira abaixo as notas oficiais da CBV, do Saneago/Goiás, do Natal/América-RN e declarações do técnico Alessandro Fadul, além do trecho do regulamento da Superliga sobre casos assim.
Posição da CBV
“A CBV iniciou, nesta segunda-feira, o envio ao STJD de informações e documentos (súmula e relatório do delegado da partida) de Curitiba Vôlei x Tijuca Tênis Clube, válido pela Superliga B feminina. Nesta terça-feira, representantes da CBV irão ao Tijuca Tênis Clube ouvir atletas e dirigentes para reunir mais informações sobre o caso.
Sobre a partida Saneago Goiás Vôlei x Natal América RN, válida pela Superliga B masculina, a CBV aguarda um posicionamento oficial da equipe de Natal e de seu técnico para seguir os devidos trâmites.
É importante reforçar que a CBV não tolera qualquer tipo de ato discriminatório em suas competições e, desde que teve conhecimento dos casos, está tomando as medidas cabíveis para que sejam analisados no âmbito esportivo e perante o poder público”.
Posição do Goiás
“Em relação ao suposto episódio de racismo, que teria acontecido durante o jogo entre as equipes do Saneago/Goiás Vôlei x Natal/América-RN, realizado no último sábado (27/1), envolvendo um membro da comissão técnica do time visitante, a Associação Esportiva Vôlei Pró vem esclarecer que não houve comprovação de qual fato tenha acontecido.
Ao contrário, na súmula da partida não consta qualquer referência ao suposto fato pela comissão de arbitragem ou pelo delegado da Confederação Brasileira de Voleibol.
Se acordo com o Registro de Atendimento (Registro número 324446 – SSP/GO), os policiais afirmaram textualmente que estiveram no local e que o próprio solicitante da diligência policial, supervisor da equipe do Natal/América-RN, informou que havia sido apenas um mal-entendido, o que resultou no encerramento da ocorrência.
Assim, diante do que foi apurado, a Associação Esportiva Vôlei Pró esclarece que não houve o alegado fato envolvendo insultos racistas por parte de um torcedor, noticiado por alguns meios de comunicação.
A Associação Esportiva Vôlei Pró sempre teve como postura o combate intransigente a qualquer forma de discriminação seja ela de cor, credo ou orientação sexual, motivo pelo qual jamais admitirá condutas deste tipo”.
Posição de Natal
“Estamos comunicando oficialmente a CBV a respeito dos atos de racismo cometidos contra nosso técnico e através deste documento solicitamos respostas urgentes da entidade de gestão desportiva.
Não queremos a perda de pontos nem a punição do clube, porém atitudes devem ser tomadas e providências imediatas para que situações gravíssimas como as que ocorreram em Goiás no último dia 27 não voltem a se repetir, causando tamanha dor e angústia em um ser humano por um comportamento tão desrespeitoso, instituído e enraizado em nossa sociedade”
Declaração de Fadul
– Durante o 3º set, eu falando com o meu time, cobrando, e um torcedor, que estava a uns 4 metros, soltou um “Fica quieto macaco”. No que ele falou, a minha reação foi de raiva. Como ele estava perto, na minha direção, foi uma flecha no meu ouvido. Foi extremamente gratuito. Não teve nenhum momento do jogo com algo que acarretasse uma reação da torcida. Fui na direção dele e disse: “Repete o que você falou”. A esposa dele o cutucou e ele começou a gritar “Vamos jogar, Natal, vamos jogar, Natal”. Foi aquele bate-boca e discussão. Esperava uma atitude de averiguação, os seguranças vieram perto do torcedor, e queriam nos tirar daquele momento no intuito de apaziguar a situação. Falamos com o delegado que o torcedor tinha de sair, tinha de se averiguar. A resposta dele foi que ele não ouviu e era para seguir o jogo. Ele não tomou a providência e eu fui punido com cartão vermelho por retardar a partida. Não quiseram acionar a polícia na hora, o jogo transcorreu mas nós acionamos a polícia depois. A polícia chegou ao ginásio no final da partida. Depois começou uma pressão grande para que não levasse o caso a diante, não representasse uma queixa contra o indivíduo. Naquela situação, que eu estava emocionalmente envolvido, com muita raiva, queria sair daquele ambiente. Acabei cedendo a essa pressão de não levar o caso adiante e deixei pra lá. Eu não conversei com o rapaz, sequer olhei pra ele, eu nem conversei com ele, nada. A única coisa que participei foi pedir desculpas para a esposa e para os filhos dele, que não precisavam passar por essa situação. A gente viajou no dia seguinte, mas a situação vem me consumindo e resolvi me posicionar e não deixar passar em branco.
Regulamento da Superliga
CAPÍTULO 23: PUNIÇÃO APLICAVEL EM CASO DE ATOS DISCRIMITÁRIOS
Art. 117º – Caso configurada a prática de qualquer ato previsto no artigo 243-G e §§1º a 3º do CBJD, quando não identificados os infratores e não for comprovada a adoção das medidas administrativas e criminais pela equipe em face dos autores do fato, ou, ainda, em caso de reincidência, a equipe vinculada à pessoa ou às pessoas que incorreram na prática do ato será penalizada com a perda de 1 (um) ponto.
Art. 118º – A punição prevista no caput aplica-se se a conduta for praticada por atleta, mesmo se suplente, dirigente, treinador, médico ou membro da comissão técnica, e torcedores, e considera-se para fins de reincidência condenação anterior reconhecida pelo STJD do Voleibol por decisão transitada em julgado