O vôlei brasileiro precisa evoluir as regras do fair play financeiro. E a opinião não é apenas minha. Em conversa com diferentes entes da cadeia produtiva da modalidade nas últimas semanas, atletas, técnicos, dirigentes e empresários defenderam uma discussão conjunta com a CBV para evoluir o mecanismo já para as próximas temporadas.
Para o bem geral da nação, a regra do fair play parece que veio para ficar. Um ponto para ser comemorado no país do jeitinho. O ambiente ficou um pouco mais seguro, uma vez que a obrigação da entrega de um documento de quitação, assinado por jogadora(e)s e integrantes da comissão técnica, para a inscrição no ano seguinte, aumentou a pressão sobre os maus pagadores.
Mas isso não foi suficiente para zerar os problemas. A última Superliga viu diversos casos de atrasos de pagamento, bem antes de a pandemia chegar, interromper as disputas e se transformar na culpada por tudo. A justiça também já foi usada na temporada passada para aproveitar brechas no regulamento.
A entrega da documentação assinada não pode ser o fim do processo. É o meio. Muitos times precisaram fazer acordos com seus profissionais em busca das sonhadas assinaturas. Eles ficaram devendo e, para evitar a perda da vaga, fizeram promessas e acordos para quitação futura. Com a presença na próxima Superliga garantida, vários deixarão de cumprir e, no linguajar popular, darão o calote. Uma das possibilidades é estipular que os pagamentos pendentes da temporada passada precisam ocorrer até o fim do ano seguinte, com a CBV exigindo a entrega de comprovantes a cada três, quatro meses.
Se isso já existisse, Caramuru, por exemplo, com dívidas da temporada 2018/2019, não teria vaga em 2020/2021. Vários atletas com pendências daquela época enviaram recentemente mensagens para a CBV contrários à presença do time paranaense na próxima Superliga. Obtiveram como resposta da entidade “lamentos sobre a situação e a sugestão de buscar os direitos na justiça”.
Também ouvi como sugestão de alguns a criação de um tópico no regulamento aplicando a perda de pontos no início da Superliga para quem não tiver honrado os compromissos assumidos. E eles levam em conta as atuais datas para defesa deste ponto. O fair play foi entregue em 15 de julho. Será que até fim de outubro ou início de novembro, quando a Superliga normalmente começa, as dívidas estarão quitadas ou sendo pagas como o acordado?
Ambas as possibilidades me agradam e já ajudariam a evitar o calote após a garantia das valiosas assinaturas. Mas a existe uma outra discussão: a regulamentação sobre contratos dos atletas.
Hoje, poucos possuem registro na carteira de trabalho. Alguns recebem parte do contrato “por fora”, uma forma de minimizar impostos e deduções obrigatórias por lei. Outros sequer possuem um contrato formal. Acertam um valor de “imagem” e, quando ficam sem receber, não conseguem brigar pelos próprios direitos. Mas esse tema importante e repleto de nuances fica para uma próxima coluna.
Por Daniel Bortoletto