O título do Bolívar na primeira edição da Libertadores masculina de vôlei merece uma reflexão. Principalmente para os brasileiros.
Para ficar com o título, o time argentino passou pelas quatro maiores potências do Brasil, um quarteto com orçamentos muito acima da média do esporte no restante do continente.
Ao superar Sesc, EMS/Taubaté, Sesi e Sada/Cruzeiro, o Bolívar deixa claro que os brasileiros não são tão donos da modalidade em âmbito continental como se pensava.
E ninguém pode dizer que a conquista foi uma questão de sorte. A competência dos hermanos ficou provada na categórica vitória sobre o Sesc, na final, por 3 sets a 0. Na véspera, ao calar o Ginásio do Abaeté, vencendo o Taubaté, dono da casa, no tie-break, o Bolívar já havia mostrado qualidade no sistema de jogo, sangue frio nos momentos decisivos e nenhum temor de encarar o então favorito no papel.
Taticamente, o técnico Javier Weber, com extenso currículo no vôlei brasileiro, demonstrou a característica básica do vôlei argentino: ser “jogueiro”. Uma vez, ao usar o termo em um texto sobre um Campeonato Mundial qualquer, fui questionado por um saudoso editor do LANCE!. Ele sugeriu que eu não usasse mais a palavra, por ela não ser compreendida por 100% dos leitores do jornal/site. Entendi a tese dele, mas argumentei, tentando com que ele compreendesse que jogueiro, no vôlei, é praticamente um sinônimo de sistema de jogo, o tal volume mostrado por um time, com excelência. Se o editor ainda estivesse entre nós, hoje, eu mostraria um clipe de lances do Bolívar para exemplificar jogueiro.
Para os rivais, chegou a irritar a quantidade de vezes que o sistema defensivo do time argentino tocou na bola. E olha que nas finais da Libertadores o Bolívar teve pela frente Lucarelli, Wallace, Douglas Souza e Maurício Souza, quatro dos principais atacantes do vôlei brasileiro, além do búlgaro Penchev. Em alguns momentos, parecia um time asiático em ação. Abre parênteses: como jogou o veterano líbero González, de 37 anos!
Além do DNA argentino, o Bolívar tinha a dupla cubana Escobar e Hierrezuelo. O oposto conhecido do público brasileiro por passagem pelo Minas e o talentoso levantador, titular da última grande seleção cubana, vice-campeã mundial em 2010. A dupla desequilibrou nas finais e merecidamente entre na seleção do campeonato. Mostra acerto dos dirigentes na escolha dos estrangeiros.
Vocês ainda podem argumentar que a Libertadores é experimental, não vale vaga no Mundial, ainda carece de relevância… OK, é verdade. Mas o ditado de aprender com as derrotas deve ser levado ao pé da letra pelos brasileiros, em prol da própria evolução.
Por Daniel Bortoletto
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