Procure no esporte mundial, em qualquer modalidade, atletas utilizando máscara durante um jogo oficial. Talvez você lembre-se apenas do central Lucão, do EMS/Taubaté. O campeão olímpico usou o equipamento de proteção na estreia do time no Campeonato Paulista, diante do Vedacit Guarulhos, no último fim de semana. E garante que seguirá usando em todos os treinamentos e partidas da temporada 2020/2021.
Em conversa com o Web Vôlei, Lucão explicou os motivos da utilização da máscara, a preocupação com a prevenção e também algumas dificuldades para adaptação.
Talvez você seja o único atleta a utilizar máscara durante o jogo em várias modalidades esportivas profissionais já reiniciadas após a paralisação por conta da pandemia. Explique quais motivos o levaram a tomar a decisão.
Primeiro pois a gente ficou aí quatro meses parados. Então, com certeza, tivemos perdas grandes de massa muscular, de nível de treinamento e eu fui talvez um dos poucos atletas que conseguiram manter uns 70%, 80% de treinamento. E a máscara, querendo ou não, me ajuda e evitar o contato, mesmo que seja um pouco mais do que os outros, com um possível infectado pelo vírus. Eu não quero, depois de quatro, cinco meses de trabalho, ficar 14 dias em casa, trancado, perdendo toda essa parte física e todo esse período de treinamento. É o que se faz hoje em dia, né, quando a pessoa pega o vírus. Elas são isoladas em casa pelo menos por dez dias. E nesses 10 dias de isolamento a perda é muito grande para o atleta. O outro motivo é que o meu filho tem tendência a ter febre, ele tem problemas com bronquite, esse tipo de coisa. Não me preocupo em pegar, mas passar para ele vai me deixar preocupado. Então esse é o outro motivo pelo qual estou usando a máscara.
Li muitos comentários positivos nas redes sociais pela sua atitude. Você tem recebido muito feedback sobre isso nos últimos dias?
Eu realmente não leio praticamente nada do que escrevem na internet. Meu sogro comentou alguma coisa, me falou que estavam falando sobre o motivo ou não de usar máscara. Tinham uns apoiando, outros não sabiam o motivo, estavam falando sobre testagem. E eu falei para o meu sogro: “A gente faz testagem a cada 14 dias e no meio disso existe um tempo muito grande. Qualquer pessoa pode se infectar e passar para os outros”. Eu não sei o que os outros atletas estão fazendo, com quem eles estão convivendo o tempo inteiro. É uma forma de eu me prevenir para não perder mais tempo do que já perdemos esse ano, um jeito de não desfalcar a minha equipe. Se eu perder aí uns 14 dias, demora mais um mês para voltar a estar bem fisicamente no nível que eu estou. Então eu considero um pouco arriscado, por isso eu prefiro estar usando a máscara. Eu me adaptei e não acho que precise ter cobrança para os outros usarem.
Você sente alguma dificuldade com a respiração pelo uso da máscara?
Realmente às vezes é um pouco incômodo, mas como o voleibol é um esporte mais de explosão, tempo curto de exigência da parte cardiovascular, não tem essa falta de ar que todo mundo fala. É mais tranquilo de usar do que no futebol ou outro esporte que exige um pouco mais. No começo, um pouco eu me isolava. Quando tem um rally maior, eu me afasto, levanto um pouco a máscara para respirar. Mas depois de uma, duas semanas de treinamento, eu já estava bem adaptado. Foi bem tranquilo.
No Brasil já são 4,5 milhões de casos. O coronavírus atingiu muitas pessoas do seu convívio?
Não, graças a Deus, no meio da minha família e mais próximos foram poucos casos. Quem pegou foi praticamente assintomático ou com sintomas mais leves. A grande parte da minha família é do Sul, do interior, então o contato com o vírus foi menor, demorou a chegar lá. A grande maioria não teve contato.
Gostaria de dar algum conselho aos seus fãs sobre o tema?
A verdade é que ninguém sabe nada (risos). Quem sou eu, se a própria OMS (Organização Mundial da Saúde) já deu conselho, já voltou atrás de certas coisas, tomou atitudes que viram que estavam erradas e depois tiveram de corrigir. Eu não sou ninguém a passar conselho. As pessoas têm de se cuidar do jeito que dá. O jeito que eu estou fazendo está dando certo, minha família está aí quase toda sem pegar. Acho que é um pouco de destino, sei lá, não dá pra falar.