O Diário do Nordeste publicou, uma semana atrás, a história de vida do ponteiro Lucas Souza, do Rede Cuca. Ontem (27/10), ela repercutiu na transmissão do Sportv. E, não tenho dúvidas, de que ela precisa chegar ao maior número possível de pessoas, dentro ou fora da bolha do vôlei, para inspirar.
Morador do Assentamento Groenlândia, na cidade de Tabuleiro do Norte, a mais de 200 quilômetros de Fortaleza, Lucas sempre gostou de vôlei. Juntamente com um primo chamado Jezueldo, ele precisava improvisar para jogar entre os 12, 13 anos. Descalços, na terra, com a rede sendo uma cerca de arame farpado. A bola era de futebol, aquela chamada “Dente de Leite”. E foram várias bolas furadas ao tocar no arame, recorda.
Um dia, ganhou de um professor uma velha rede não mais utilizada numa escola. Juntou amigos, limpou um terreno baldio, livrando-se de pedras e espinhos, para montar uma quadra. Até luz o espaço ganhou com o tempo. Era ali que passaram a organizar pequenos campeonatos. Em um deles, como lembra a reportagem do Diário do Nordeste, o prêmio era uma caixa de chocolate. Lucas foi o destaque e teve uma foto publicada no Facebook.
A exposição na rede social fez Lucas, então com 14 anos, ser visto pelo técnico do time de vôlei de Tabuleiro do Norte. O garoto ganhou um convite e passou a disputar campeonatos. “Nunca tinha pisado em quadra. Não vou negar que eu não sabia o que era vôlei de quadra”, contou.
Com 17 anos, foi chamado para um teste no Vôlei Renata, a partir de convite do conterrâneo Bruno Canuto, ex-atleta do time campineiro. Lucas vendeu rifas para ajudar na viagem. Canuto arcou com as passagens aéreas. Viajou pela primeira vez, conheceu a estrutura de um time de Superliga, mas veio a pandemia. Treinos suspensos, isolamento social, mortes… Lucas ficou cinco meses longe de casa, mas precisou voltar para Tabuleiro do Norte, novamente com vaquinha sendo feita por amigo e famílias para o retorno.
Na volta às origens, o sonho parecia ter acabado. Foi morar com a avó e passou a trabalhar como açougueiro. Ainda estudava. No pouco tempo que sobrava, treinava vôlei. Ao disputar uma competição sub-21 no interior do estado, foi visto por Malbha Tahan, supervisor do Rede Cuca. E recebeu convite para fazer uma peneira para o time que disputaria a Superliga B na temporada passada. Sem consultar os pais, aceitou. Foi tentar realizar seu sonho. Passou. Jogou. Viu o time ficar em terceiro lugar e depois herdar a vaga na elite por conta dos problemas financeiros do Funvic/Natal. Foi acolhido na casa de Malbha. Ganhou uma oportunidade no elenco dirigido por Marcelo Negrão, deixando de atuar como oposto para ser central. Nas últimas semanas, em um ginásio cheio, pôde enfrentar Sada Cruzeiro e Vôlei Renata. Esteve ao lado de ídolos. Ontem deu até entrevista na TV. O sonho, tão distante anos atrás, começa a se realizar. Obrigado por não ter desistido, Lucas!
Por Daniel Bortoletto