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Débora Santos: “Não dá para fazer vista grossa”

Árbitra Débora Santos revela que todos as equipes cometem a infração e que a orientação é marcar os casos ostensivos
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Em conversa com o Web Vôlei, a árbitra Débora Santos explicou os critérios que normalmente são usados pela arbitragem para marcar ou não os erros de posicionamento, que geraram polêmica na partida entre Itambé Minas e Osasco São Cristóvão Saúde na última sexta-feira (28.11), pela sexta rodada da Superliga Feminina 2020/21.

Na ocasião, jogadoras e comissão técnica do Minas alertaram os árbitros antes do jogo e durante a partida sobre o fato de algumas jogadoras de Osasco – principalmente a central Mayany – estarem trocando de posição (saindo da posição de rodízio para a posição em que joga) antes de a sacadora golpear a bola – o que configura, de acordo com a regra, que a bola está em jogo efetivamente.

As reclamações geraram cartão vermelho para o técnico do Minas, Nicola Negro no segundo set e um bate boca depois do jogo com o técnico Luizomar de Moura. Ontem, a capitã do time mineiro, Carol Gattaz, publicou um vídeo nas redes sociais explicando o motivo dõ descontrole do treinador e revelou que o clube anotou 34 infrações de Osasco contra o Sesi Bauru, na rodada anterior, e que, contra o Minas, foram 24. Veja aqui o vídeo da confusão.

O Web Vôlei ouviu Débora Santos sobre o assunto. Veja abaixo os principais trechos da entrevista:

TODOS FAZEM

DÉBORA SANTOS – Em primeiro lugar, é bom deixar bem claro: todas as equipes fazem. Todas. Não tem uma única equipe, um único atleta ali, principalmente os centrais, que não faz essa saidinha antes na hora do saque. Ninguém vai poder reclamar acusando o outro, porque todos fazem. Mas tem uma série de coisas: tem árbitro que vê e não marca; tem árbitro que não sabe identificar, tem árbitro mal posicionado, tem uma série de coisas envolvidas nessa situação específica que prejudica a marcação.

ORIENTAÇÃO

DÉBORA SANTOS – Os árbitros são, sim, orientados a serem mais condescendentes com essa situação, a só marcar os casos mais ostensivos e tentar deixar o jogo correr da melhor forma. Mas aí a gente cria um problema. O fora de posição está na regra. E se você não marca a infração, você dá vantagem ao infrator. Isso é um fato. Eu identifico muito. Marco pouco, mas identifico muito.

PARA INIBIR A AÇÃO

DÉBORA SANTOS – Quando a gente marca um fora de posição e eu já fiz isso com a Adenízia, com a própria Mayany, você inibe a movimentação da atleta. você não inibe a falta. A falta vai continuar acontecendo seja com a central, seja com a levantadora saindo antes na infiltração, mas você inibe a movimentação da atleta. E isso atrapalha a mecânica do jogo e é o que a gente procura não fazer. Quando você fica o tempo todo erro de posição você interfere no jogo.

INTERPRETAÇÃO

DÉBORA SANTOS – É uma falta, assim como quando a bola sai da mão do levantador num passe ruim e ele vai lá numa posição desconfortável, desfavorável, pega a bola, coloca a bola lá na entrada para o atacante, fazendo dois toques, mas a bola fez uma parábola, foi onde ele queria que fosse, é o tipo de dois toques que a gente sabe que existe, mas é para deixar. Chama-se “critério da espetacularidade”. A nossa orientação é sempre deixar o jogo fluir. E aí é muito difícil ver o limite onde você está deixando o jogo correr e onde está beneficiando o infrator.

COMO VAI SER AGORA?

DÉBORA SANTOS – O fato é que agora vai acontecer uma coisa muito ruim no jogo. Vai ter um monte de gente marcando o fora de posição. Isso é da velocidade que o jogo tem agora. O que se precisa é esclarecer a regra: você só pode trocar de posição após o sacador golpear a bola. Não é na corrida, não é quando ele joga a bola pro alto, é quando ele efetivamente saca. Com a velocidade do jogo, é praticamente impossível um central trocar de posição e se posicionar para realizar o ataque em tempo. Essa é a mecânica que a gente tenta não atrapalhar.

CONVERSA COM O TIME

DÉBORA SANTOS – Eu prefiro a dar um toquezinho, falo “olha, gente, dá uma segurada aí, está saindo muito antes”, uma colocação discreta e se o time insistir, você vai lá e marca. O que não pode acontecer é a gente fazer vista grossa para um erro que está acontecendo de maneira ostensiva e sistemática. Estão falando muito da Mayany, mas muita gente faz. Adenízia faz, Carol faz, Wal… lá no Super Vôlei eu dei uma conversando com elas… Se o sacador ainda nem se movimentou, está andando par ao saque e você já está lá na sua posição, você está tirando uma vantagem absurda de uma situação que eu tenho de marcar.

PRESSÃO NOS ÁRBITROS

DÉBORA SANTOS O árbitro não trabalha só com a regra. ele tem a regra, o case book, o guide line, o regulamento e orientações verbais que não são registradas em lugar – nenhum. E você fica vendido. Se você está num evento que tem um avaliador, ele faz o seguinte: se o árbitro vai lá marca o fora de posição, seu orientação te chama a atenção ou te faz perder ponto porque você está sendo rigoroso demais. Se você não marca, ele te tira ponto também, porque você não marcou. Então, nessa situação específica do fora de posição, o árbitro fica entre a cruz e a caldeirinha. A minha opinião pessoal é que deve ser marcado sim, porque é uma falta. E os atletas precisam se adaptar. Nada impede de a gente dar aquela chamada, dar aquela lembrada para evitar parar o jogo toda hora, o jogo fica chato, tira o interesse comercial. Mas acho que tem, sim, que marcar.

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