A partida entre Fluminense x Energis 8/São Caetano, no último dia 16, seria a primeira na temporada 2022/2023 da Superliga apitada por Débora Santos. O nome dela apareceu na escala da rodada, nas notas oficiais da Confederação Brasileira de Vôlei (CBV), no site oficial, como manda a regra, em 1/12. Quatro dias depois, a escala foi alterada, com Anésio de Souza Leão substituindo Débora. Para a árbitra, não foi uma surpresa.
Na temporada passada, Débora se recusou a apitar jogos da Superliga. Ela não aceitou um contrato de direito de imagem da CBV, que havia assinado um patrocínio da Sky, e não repassaria qualquer valor aos árbitros. Neste ano, sem tal acordo, ela se colocou à disposição para retornar. Mas foi informada pela Federação Carioca que “seu nome não havia sido aprovado pela Confederação Brasileira de Vôlei”.
Em entrevista ao site Flashscore, ela admitiu já esperar tal decisão:
– É fato que existem represálias. O fato que aconteceu comigo é prova disso. Foi uma consequência por ter contestado publicamente as atitudes tomadas contra os árbitros. Se você vai contra a estrutura, pode ter certeza que será punido. Eu já contava com isso e não fiquei surpresa, é assim que funciona. Ninguém fala nada, se falar não será escalado. Quem joga o jogo e não quer ficar de fora, não se manifesta.
Vale lembrar que durante a fase de classificação da Superliga, a arbitragem é sempre local, ou seja, árbitros só atuam em partidas dentro estado de filiação. Débora, neste caso, no Rio de Janeiro.
No início de dezembro, ela já havia escrito um post no Instagram sobre o tema:
“Eu perdi a conta de quantas vezes me perguntaram se eu voltaria a apitar a Superliga. Pra quem não sabe, no ano passado eu me recusei a apitar porque foi imposto aos árbitros um contrato imoral com cláusulas com as quais eu não concordava. Por convicção, decidi não atuar. Esse ano não há contrato por causa de um processo movido contra a CBV por um sindicato que “SUPOSTAMENTE DEFENDE OS ÁRBITROS”; como não há contrato, me coloquei à disposição para atuar. Fui escalada para uma partida que seria realizada no próximo dia 16 de dezembro, porém minha federação foi comunicada por telefone que a escala não foi aceita e seria alterada. Então, pra quem perguntou, eu não voltarei a atuar na Superliga. Não me perguntem o motivo porque não me foi informado; não houve nenhuma comunicação oficial sobre a minha suspensão do quadro nacional de arbitragem. A Cobrav não autoriza a minha escala e ponto. Aceita que dói menos. Podem existir milhares de motivos para que os membros da Cobrav tenham decidido que eu não estou apta a continuar em seu quadro mas, como tudo que envolve a CBV, nada foi esclarecido. Ninguém sabe quem decidiu, nem porque decidiu. Apenas cumpra-se. Eu definitivamente não sou a melhor árbitra e, principalmente, não sou melhor do que ninguém mas, como todo mundo, esperava que as decisões tivessem um mínimo de transparência; se eu fiz algo que desabone a minha conduta como árbitra, deveria ser informada e permitido, ao menos, o direito de defesa. Fica o registro e o esclarecimento para aqueles que me perguntaram tantas vezes se eu voltaria a atuar na Superliga. Por decisão da Cobrav, a resposta é não”, escreveu.
Na entrevista publicada nesta terça-feira, Débora reclamou do tratamento que os árbitros recebem no Brasil:
– Minha relação com a CBV e com a Cobrav é ruim porque, há muitos anos, eu cobro coisas que nunca aconteceram. Seria importante termos cursos de reciclagem e de aperfeiçoamento, algum tipo de feedback e avaliações, observações das arbitragens, reuniões regulares. Tudo isso simplesmente não existe. Não temos reuniões de padronizações. A Superliga começou sem uma simples reunião entre os árbitros, mesmo com diversos erros sendo cometidos na última Superliga, isso somente nos jogos com TV. Se formos falar nos jogos sem TV então, o número é maior ainda. De uma temporada para a outra, se esquece o que aconteceu e deixa-se que os novos erros aconteçam até que sejam esquecidos novamente. Não existe ação efetiva para melhoria da qualidade técnica dos árbitros, não existe investimento ou preocupação com a arbitragem.
Por nota oficial, a CBV respondeu:
“Ressaltamos que a preocupação com a formação e o desenvolvimento dos árbitros é constante. Somente em 2022, a Cobrav realizou 18 avaliações de promoção de categoria (nove de árbitro regional para aspirante à nacional, e nove de árbitro aspirante à nacional para nacional); 25 cursos de formação de árbitros e apontadores (14 de quadra e 11 de praia); clínicas de vôlei de praia durante as etapas do Circuito Brasileiro adulto e de base; além da elaboração de material de apoio, como a Padronização Administrativa e Técnica da Arbitragem 2022/2023 e o Guia de Utilização da Súmula Eletrônica”.