Uma das verdades absolutas de longas coberturas internacionais feitas por jornalistas esportivos: motoristas sempre viram pauta nos primeiros dias. E aqui em Paris, neste diário mais leve e menos rigoroso, não tinha como ser diferente. E por isso resolvi compartilhar com vocês os 10 minutos emocionantes nas ruas locais.
Ele apenas falando francês. Eu, com pouco conhecimento do idioma local, em inglês. Sabia que o trajeto seria curto, segundo o Google Maps, pouco mais de 10 minutos. Entreguei um papel com o endereço a ele. Segurou, olhou, parecia pensar. Resolveu então perguntar para um companheiro taxista que estava por perto.
Eles se entenderam com o destino. E lá fomos nós! Homem de poucas palavras, ele me pede novamente o papel instantes depois de a corrida começar. Entreguei, meio ressabiado. Reparo que o carro cheirando a novo tem o seu GPS bem destacado no painel. Mas ele não seria utilizado na minha corrida.
Tento quebrar o clima e pergunto o nome dele.
– Sou o Lalana.
E a única coisa que o nome me sugeria era futebol.
– Mesmo nome de um jogador – emendo, com as lembranças do Liverpool de anos atrás.
– Inglês – responde Lalana, de bate-pronto.
Quando acho que a conversa vai embalar, a ducha de água fria.
– Não gosto dos ingleses.
Pra mim, estava claro o fim da conversa. Começo a me concentrar então na paisagem ao redor e percebo que Lalana é fã da faixa da esquerda. Estávamos em uma larga avenida, acho que quatro faixas, e ele calmamente mantendo 65 km/h.
Um motorista querendo usar o limite de 90 km/h emparelha ao nosso lado, encara o meu motorista e ultrapassa pela direita mesmo. Lalana segue em frente, na faixa da esquerda, sem esboçar qualquer sentimento.
Segundos depois, mais um motorista se irrita com a “velocidade” de Lalana. Corta pela direita, abre o vidro e manda aquele mundialmente conhecido gesto com o dedo do meio.
Penso eu: agora o Lalana vai ficar p. da vida! Nada. Segue tranquilo, quase sempre na faixa de esquerda. Até que o telefone dele toca.
Sem quebrar a regra básica de falar ao volante, ele coloca a ligação no viva voz. Ganhou pontos comigo! Entramos numa outra avenida, essa com duas faixas. Estou localizado pelo Google Maps e perto do meu destino.
Começa a conversa, em tom ameno, até Lalana levantar a voz!
– Contravention? Contravention?
A palavra multa tirou a paz de espírito daquele senhor, na casa dos 60 anos. Ele parecia questionar o motivo, sem aceitar as explicações que vinham do outro lado da linha. Ouço um “parking”. Entendi qual foi o pecado do Lalana.
Vejo meu destino e aponto. Ele segue o papo pelo viva voz. Para no lugar exato, sem placar de proibido parar, pega o dinheiro e vai embora. Me despedi, triste pelo preju que o Lalana deve ter tido e pela minha falta de habilidade para fazer amizade com ele.
Por Daniel Bortoletto, em Paris