Desde Fernanda Venturini e Fofão, dupla de levantadoras de dar inveja aos rivais em Atenas-2004, a Seleção Brasileira feminina de vôlei não largava para uma edição olímpica tão convicto sobre suas referências na função como em 2022. Macris e Roberta alcançaram um grau de maturidade que as distingue da média brasileira atualmente.
Em Sofia, na Bulgária, elas vão para a terceira etapa da Liga das Nações (VNL). Ambas estão cientes de suas responsabilidades no grupo e da vitrine que representam para as novas gerações, como deixaram claro em papo com o Web Vôlei antes da VNL.
Em terceiro na classificação geral, a Seleção enfrenta a China nesta terça-feira, às 11h (de Brasília). A partida pode ser mais um passo para confirmar a classificação para a fase final.
Macris, de 33 anos, se consolidou como uma das levantadoras mais habilidosas do mundo nos últimos anos. Comandou a equipe verde-amarela na conquista do vice-campeonato olímpico em Tóquio, em 2021. A caminhada envolveu atitudes que ela agora gostaria de ver nos jovens nomes da posição.
Na temporada 2022/2023, Macris viverá sua primeira experiência internacional em clubes, no Fenerbahçe, da Turquia. É o fim de um ciclo de cinco anos no Minas Tênis Clube. A veterana deixa uma lacuna importante na Superliga, após sete troféus de melhor levantadora do torneio nacional.
– Algo que eu daria como conselho para as novas levantadoras é assistir a vídeos de grandes atletas, pegar referências e tentar agregar o que virem ao seu jogo. Eu fiz muito isso. Assistia pelo YouTube mesmo. É preciso ter esse tipo de iniciativa e nem sempre acontece. Hoje, temos a possibilidade de aprender mesmo à distância – disse Macris, ao ser questionada sobre o impacto de sua saída do país.
A velocidade do jogo da paulista de Santo André que encantou o mundo tem sido absorvida por Roberta, de 33 anos, mas não só isso. Na Olimpíada do Japão, a atleta mostrou preparo mental ao substituir Macris após a titular sofrer uma torção no tornozelo direito na fase de grupos.
A arte de esperar
Ela, que durante nove anos defendeu o Sesc RJ Flamengo, de Bernardinho, vai para a segunda temporada no LKS Lodz, da Polônia, em momento de paz interior e titularidade no clube. Após longo período na reserva observando grandes referências como Fofão, Fernanda Venturini e Dani Lins, a paranaense de Curitiba alcançou o posto de levantadora principal do time carioca, passou dois anos em Osasco e hoje se vê pronta para lidar com qualquer situação de jogo.
– Eu, assim como a Macris, tive a oportunidade de trabalhar com grandes levantadoras. É na observação do dia a dia nos treinos e no olhar sobre como elas sentem o jogo e como se comportam que aprendemos. Isso é algo que busquei muito durante esses anos e acredito que as meninas novas têm de fazer, com paciência. Além, é claro, de melhorar a postura dentro de quadra – avalia Roberta.
É o tipo de conselho que a veterana busca passar para Kenya, de 21 anos, e hoje considerada a terceira levantadora da Seleção. A jovem do Osasco/São Cristóvão Saúde não chegou a ser testada na VNL, mas vem ganhando bagagem ao lado das veteranas nos treinamentos.
– É muito legal ver essas meninas que vêm surgindo, como a Kenya e também a Jacke (de 22 anos, ex-Barueri e contratada pelo Gerdau/Minas). Elas já passaram pela escola do Zé, então já apresentam um movimento muito bonito e jogam com velocidade – disse Roberta.
Comparações com bom senso
Enquanto a paranaense teve Bernardinho e sua comissão como pilares, Macris trabalhou por três anos no Pinheiros com Wagão, auxiliar de Zé Roberto. Foi lá que começou a incorporar a linha de trabalho da Seleção, especialmente os detalhes de movimento tão valorizados pelo treinador tricampeão olímpico, ex-levantador. Em 2015, veio a primeira oportunidade na equipe.
À medida que a fama veio, a interação com os fãs aumentou. E trouxe ganhos que ela também compartilha com as novas gerações.
– O engraçado é que a interação com fãs e torcedores pode ser algo bom. Foram eles que trouxeram dicas e opiniões como “você me lembra aquela levantadora”, “olha que legal a forma como ela joga”. Eles me falavam delas e faziam comparações. Como por exemplo a Maja Ognjenovic (da Sérvia) e a Nootsara Tomkom (da Turquia). Quando eu as assistia, pensava: “Caraca! Elas também são consideradas baixas, mas têm um jogo muito veloz e fazem uma finta muito boa para trás” – lembra Macris, deixando claro que existem diferenças importantes entre cada atleta.
– É claro que a gente olha, mas não tem como copiar. Técnica, mobilidade de punho e as atacantes à disposição são diferentes, mas agrega quando você olha e analisa. Fui pegando aos poucos, modificando e tendo ideias. Hoje em dia, depois da consciência que o Zé me passou do que é ser uma boa levantadora para além do levantamento, passei a pegar todo o resto: saque, defesa e bloqueio – completou a paulista.
* Por Jonas Moura