O que você ser quando crescer? Essa pergunta, tão comum na infância, foi feita cinco décadas atrás para uma dupla de garotos argentinos. Carlos Javier Weber e Eduardo Horácio Dileo sonhavam em viver do esporte, mas sabiam o quanto precisariam batalhar para realizá-lo. Lutaram e conseguiram. Hoje, às 21h30, estarão mais uma vez reunidos, em Saquarema, para tentar cumprir mais um objetivo nas já vitoriosas carreiras. Para Weber, vencer com o EMS/Taubaté na segunda partida da semifinal significará uma vaga na decisão da Superliga masculina. Para Dileo, a vitória servirá para forçar o terceiro confronto em busca de uma inédita final para o Vôlei Renata.
Os caminhos dos dois se cruzaram muito cedo, no início da década de 1970. Horácio, três anos mais velho, e Javier, que ainda dividia seu tempo com o futebol, optaram por atuar na mesma posição. Logo, os levantadores estavam disputando espaço para jogar no mesmo time. Naquele River Plate, estava presente um outro garoto sonhador: Marcelo Rodolfo Mendez, um central com uma cabeleira vasta, que se transformaria, muito anos depois, no técnico mais vencedor da história das competições de clubes do Brasil.
– Naquela época tínhamos cabelo – relembra e brinca Horácio. – Mas foram momentos marcantes. Aquele time passava muito tempo junto dentro do clube. Tenho as lembranças mais fantásticas da minha adolescência daquele time. Era um grupo que se divertia estando junto – emenda.
Rapidamente, na disputa entre os levantadores, o mais novo tomou conta do pedaço, desbancando o até então capitão Dileo.
– Ele me arrasou. Passou por cima de mim – diz o comandante do Vôlei Renata.
– Não foi bem assim, não é verdade – rebate Weber.
Aquele início avassalador do atual comandante de Taubaté foi decisivo até para o encaminhamento das carreiras de ambos. Weber se transformou em um dos maiores levantadores da história da Argentina, com três Olimpíadas disputadas e uma medalha de bronze conquistada em Seul-88. Dileo, por sua vez, optou por seguir a carreira de técnico antes de completar 30 anos, algo raro na profissão.
– Nos conhecemos desde os oito, nove anos de idade, e fomos crescendo juntos, até jogarmos a primeira divisão argentina. Nunca esqueceremos aqueles momentos – admite Weber.
Das quadras, em Buenos Aires, foram sendo criados laços fortes entre eles. Tratam o relacionamento como uma “irmandade”. A relação sofre uma “mudança drástica” quando estão em lados opostos para uma decisão, como a de hoje, em Saquarema.
– Somos amigos, mas quando estamos em quadra somos rivais. O respeito e o carinho ficam fora de quadra. No jogo, ele é um guerreiro e eu sou outro – completa Dileo.
No duelo dos guerreiros, quem ganha hoje é o vôlei brasileiro.