Na última segunda-feira, durante a live do Web Vôlei com foco na análise da fase final do Campeonato Mundial masculino, aproveitei parte do meu tempo para citar o case de sucesso da Itália, campeã do mundo nos dois naipes em 2025, além de colecionar várias conquistas recentes nas categorias de base. E sugeri que o modelo italiano fosse estudado, entendido e talvez utilizado no Brasil em busca de melhorar a modalidade por aqui.
E um dos pontos citados foi o fato de a Federação Italiana cuidar das seleções, enquanto ligas profissionais e muito sustentáveis fazem a gestão dos torneios de clubes, reconhecidamente entre os melhores do planeta. “É a hora de algo ser discutido seriamente no Brasil nestes moldes”, foi a minha provocação.
E, a partir de uma publicação de O Tempo e depois uma nota oficial da Confederação Brasileira de Vôlei, essa discussão começou a acontecer “publicamente” nesta semana, após um esboço de discussão entre clubes e a entidade acontecer dois meses atrás, quando a insatisfação com os rumos da Superliga ficou clara em uma reunião no Rio de Janeiro.
O primeiro ponto para o processo ter chance de ser bem-sucedido é o entendimento de todos os interlocutores de que a situação atual não é a ideal. Isso passa pela discussão de aspectos estruturais, comerciais, de direitos de televisão, qualidade do produto, entre outros pontos. Ficar na defensiva não ajudará a chegar no cerne da discussão, na minha opinião: será mais saudável para todo o ecossistema do vôlei brasileiro ter uma melhor divisão de tarefas na gestão das seleções e dos clubes?
Também é preciso, em um segundo ponto, ser muito claro na argumentação de ambos os lados. Em prol da modalidade, a narrativa deve ser a mais precisa possível. Não adianta a CBV publicar uma nota incluir como “benefício” da Superliga o desafio eletrônico da arbitragem e as estatísticas em tempo real dos jogos. Isso é uma obrigação em competições do patamar do nosso campeonato nacional. É quase o mínimo necessário.
Não adianta também querer explorar a desgastada imagem atual da CBV nas redes sociais e se falar em liga independente quando o novo modelo discutido promete remunerar a entidade, utilizar todo o sistema de inscrição/regularização de atletas e arbitragem da entidade. Que eu saiba não existe um motim e muito menos o interesse de a entidade ser escanteada pelos clubes. Será que falar em “uma nova Superliga” não é melhor do que tratar como “uma nova liga”? Parecem bem semelhantes, mas o significado é muito diferente entre as duas opções.
O vôlei brasileiro poderá sair bem maior de tudo isso, mas exigirá um esforço considerável de todos os envolvidos. Os clubes estão mesmo dispostos a deixar de olhar para o próprio umbigo em prol do “bem comum”? A CBV está pronta para abrir mão do seu poder na Superliga? Todos os envolvidos conseguirão sentar em volta da mesma mesa, assumindo fraquezas, construindo pontes e pensando no melhor para todo o ecossistema voleibol no Brasil?
Aguardemos os próximos capítulos.