Douglas Souza completou 26 anos na última sexta-feira (26.08), depois de ver a sua vida virar de cabeça para baixo nas últimas semanas. Em pouco mais de um mês, suas postagens bem-humoradas nas redes sociais no período de preparação para os Jogos de Tóquio e durante a Olimpíada fizeram o ponteiro de 1,99m passar de 260 mil para os atuais 3,1 milhões de seguidores no Instagram.
Ele também já tem mais de 100 mil inscritos no seu canal do YouTube. Chegou ao Brasil depois do quarto lugar no Japão e já foi logo assinando contrato com empresas para cuidar da sua marca. Agora oficialmente um influencer, ele é o jogador de vôlei com mais seguidores no mundo no Instagram.
Em entrevista ao G1 publicada na sexta-feira, Douglas Souza falou sobre futuro, sua paixão pelos games, fama repentina e a expectativa de defender seu primeiro clube estrangeiro, o Vibo Valentia, da Itália, na próxima temporada.
“A Itália é praticamente a capital do vôlei, onde tudo acontece. Então pensei que era a hora de ir para lá. Veio a oportunidade de ir para o mesmo time de mais dois brasileiros: o “Jorges” Maurício Borges, e Flávio. Pelo menos na minha primeira experiência não estarei completamente sozinho”, disse.
Confira, abaixo, alguns trechos da entrevista ao G1:
COMEMORAÇÃO DO ANIVERSÁRIO
À noite vou para a casa dos meus pais fazer uma festinha só com a família, algo bem íntimo. No sábado, acredito que eu me reúna com alguns colegas que quero ter um pouco mais de intimidade. Uma coisa muito legal de dessa vida é ter contato com a Pabllo Vittar, Matheus Massafera, Lia Clark. Nada com muita gente pra evitar aglomeração. Pelo amor de Deus! Não estamos todos vacinados ainda. Quando estiver todo mundo vacinado aí a gente arrasa.
PARIS-2024
Para ser bem sincero não estou pensando muito no futuro. A minha vida hoje está mega acelerada. Inclusive meu namorado me ajuda a dar uma respirada e uma desacelerada. O máximo que estou pensando é no mês que vem. Daqui a pouco vou estar na Itália, disputando campeonato italiano. É o máximo que estou pensando. Senão começo a fazer plano, plano, plano e começa a dar ansiedade.
ITÁLIA
A decisão de ir para a Itália foi quase forçada. Eu amo jogar no Brasil. Minha família toda aqui, meus amigos. Eu construí uma história muito bacana aqui no Taubaté, que foi meu último clube, mas infelizmente a situação do nosso país, do nosso esporte, não dá. É muito difícil segurar o jogador de alto nível jogando no país. Acabou que a Superliga não vai ter aquele nível que a gente espera, que sempre teve nos últimos anos e o que resta é sair do país.
PROPOSTAS
Fiquei entre Rússia, Itália, Japão (é um país que penso jogar mais para o fim da carreira), mas a Itália é praticamente a capital do vôlei, onde tudo acontece. Então pensei que era a hora de ir para lá. Então veio a oportunidade de ir para o mesmo time de mais dois brasileiros: o “Jorges”, o Borges. Pelo menos minha primeira experiência não estarei completamente sozinho. Isso pode ser um pouco assustador no começo. Já que vai ter o Borges e o Flávio, que também já jogou na seleção, era a oportunidade boa para ser inserido no meio do vôlei internacional.
COMPANHIA
O meu namorado vai comigo (para a Itália). A nossa família: eu, ele e nossas duas filhinhas de 4 patas, a Zoe e a Chloe.
JORGES
Não tem como eu falar que tudo que aconteceu comigo nas Olimpíadas, toda visibilidade, esse público que veio literalmente do nada, que eu esperava. Ninguém vai para uma competição achando que vai ter milhões de pessoas acompanhando tudo que a gente está fazendo. Mas acho que foi uma coisa muito natural. Eu e o Borges, essa é a nossa relação o tempo inteiro, desde que a gente se conheceu. Criamos uma intimidade. Brincamos um com o outro. Tem coisas que a gente não posta. A gente acha que vai ficando demais (ri). A gente fica dançando no quarto. Dançamos Pabllo Vittar, várias músicas de drag queen. Ele coloca playlists que eu adoro de Drag Race ou Poser, que eu amo. Ele assistiu comigo Drag Race em 2016. Ele gosta de estar nesse mundo junto comigo. Foi uma surpresa, mas muito bacana as pessoas aceitarem a gente, nosso grupinho do jeito que era.
DIFERENÇA DAS VILAS OLÍMPICAS DO RIO E DO JAPÃO
A primeira coisa que me chamou muito a atenção foi o tamanho da Vila. A Vila da Rio 2016 era muito maior. Tudo que a gente tinha que fazer (no Rio) tinha que pegar um ônibus ou no mínimo uma bicicleta. Lá em Tóquio era tudo mais próximo. Eu prefiro andar a pé a ficar pegando ônibus. O nosso prédio Brasil ficou muito bem localizado. A gente ficava perto da saída do treino, do jogo, dos dois refeitórios.
ORGANIZAÇÃO DOS JOGOS
A organização do Japão é muito boa. O único problema que eles têm é na questão de improvisar. Eles seguem tudo à risca. Se algo sai dos planos, eles não sabem como agir. Eles demoram um pouquinho até pegar a situação. A lavanderia foi o caos. Você chegava lá para pegar a sua roupa e, de repente, eles não achavam de primeira. Ao invés de falarem “fica aqui um pouquinho e vamos procurar”, ele ficava com você até achar a roupa. Se ele ficasse 40 minutos procurando a sua roupa, enquanto isso a fila ficaria gigante. Eles não tinham esse jogo de cintura.
VIDA NA VILA
Não vi festa dessa vez. Na Rio 2016 eu lembro que tinha galera que fez muita festa. Inclusive, nós fomos o último país a sair, porque a gente fechava literalmente os Jogos. Um dia antes tinha uma galera no prédio fazendo festa. Dessa vez eu não vi. Ao lado do nosso ficava o prédio da Alemanha. Toda vez que chegava um medalhista eles faziam uma festa de comemoração, batendo palmas, faziam um discurso na frente de todo mundo. Era só isso. De festa, com música e bebida, eu não vi.
PAIXÃO PELOS GAMES
É uma paixão antiga, de muitos anos. Desde criança fui muito ligado a jogos eletrônicos. Eu devo ter ganhado o primeiro videogame da minha mãe quando eu tinha uns 8, 9 anos. Desde então nunca desgrudei. Estava sempre jogando, conectado no mundo virtual. Eu comecei a me aproximar desse mundo de lives e Youtube em 2017. Foi onde conheci a Samira Close (drag queen, gamer e influenciadora digital). Vi os vídeos dela no Facebook, gostei e fui pesquisar no Youtube. Adorei. Fiquei acompanhando o trabalho dela. Sempre joguei muito com meus amigos. Zoava muito e comecei a pensar: “Eu podia fazer uma live para as pessoas conversando, brincando, zoando”. Eu tenho isso em mim. Ano passado veio a pandemia, ficamos em quarentena, fiquei 5 meses dentro de casa sem poder fazer nada. Sem ir ao ginásio, sem tocar na bola. Então comecei a fazer umas lives teste. Fiz no Facebook para entender como funciona. Eu sou a tia da tecnologia. Para mim é difícil configurar um OBS. Tive que aprender do zero. Até hoje eu sou assim. Jogo muito em live. Meu canal no Youtube é praticamente dedicado a isso, que é League Of Legends (LOL), Valorant, jogo Overwatch também, jogo de tudo um pouco. O que dá na cabeça eu jogo. Testo jogos novos em live.
LIVES
Depois da visibilidade que eu tive nas Olimpíadas, o meu público cresceu muito, então abri para falar sobre outros assuntos. Essa semana sai o especial de 100 K (100 mil seguidores). É um vídeo que a galera pediu muito: como contei sobre a minha sexualidade para os meus pais. Vou começar a fazer “Doug responde”. Já teve alguns quadros com meu namorado. A galera está gostando. Quero abrir para mais coisas e não deixar só para game player.
FAMA NA VILA
Muito. Como a gente estava confinado. A Vila era o Big Brother dos atletas. É o Big Brother do esporte. Conforme as coisas foram acontecendo, eu não tinha noção do tamanho, da proporção do que estava acontecendo. Era do treino para o quarto, do quarto para o jogo. Basicamente era essa nossa rotina. Com o passar dos dias tinha gente da Colômbia, República Dominicana, que vinham pedir foto pra mim. Eles falavam: “Acompanho o seu Story”. Gente de outros países. No nosso prédio também. As meninas do vôlei Brasil falavam “você está muito famoso!” E eu falava: “Lógico que não. Nem sei o que está acontecendo”.
MUDANÇA DO DIA PARA A NOITE
Foi. Eu fui dormir tinham 70 mil pessoas assistindo o meu Story. Quando eu acordei já tinha meio milhão. Foi um pulo gigantesco. Quem é influenciador vai construindo a sua comunidade. Eu como gamer, por exemplo. Para eu abrir uma live, preciso construir uma comunidade. Não vai, do nada, ter 200 pessoas me assistindo. Foi literalmente do nada. Eu acordei e já tinha aquela galera me acompanhando. Vários famosos. O maior impacto era ver pessoas que eu admirava mandando mensagem, falando “Douglas, você é maravilhoso”. O que está acontecendo?
DIA A DIA
Depende de quão confortável eu estou no lugar. Eu me sinto muito à vontade com algumas pessoas da seleção. Não vou chegar no meio de 20 pessoas e vou falar exatamente o que falo nos stories. Eu vou fazer perto do Borges, perto do Lucarelli, perto de gente que eu gosto. Não é com todo mundo que eu tenho essa intimidade. Com a minha família eu tenho um pouquinho de respeito, fico mais na minha (ri). Com os meus amigos, com o Gabi que é meu namorado, sou exatamente daquele jeito. Lucarelli até respondeu caixinha de pergunta: “O Douglas é exatamente assim?”. Ele fala “o Douglas é louquinho assim mesmo. A gente tem que conviver com ele dessa forma”. Eu não fiz nada demais. Simplesmente comecei a filmar coisas que eu já fazia com todo mundo. Me permiti mostrar um pouco mais para as pessoas.
DERROTA PARA A ARGENTINA
Foi horrível. A gente sabia que tínhamos um jogo praticamente ganho. Isso já tinha acontecido no jogo anterior contra a Rússia. Estávamos em uma situação confortável e de repente estava tudo um caos. O que ficou pra gente foi que nós lutamos. Em nenhum momento desistimos. Teve muita luta. Não era o resultado que a gente queria, obviamente. Mas durante a gente se manteve em primeiro lugar, mesmo com pouco investimento. Infelizmente é uma realidade. Em 2016, olha a minha santa inocência, fomos campeões olímpicos em casa e eu imaginei que iria chover patrocínio, imaginei que iria mudar nossa vida. A gente perdeu patrocínio no ano seguinte. Bate até um certo medo agora. Imagina: se em 2016 a gente ganhou e foi assim, imagina agora que ficamos em 4° lugar. Temos que começar a construir tudo de novo. Espero que as pessoas tenham entendido que o atleta também é um influencer. O atleta influencia milhares de pessoas, ele tem que ter voz, visibilidade. Todos ganham, não só o atleta individualmente. Tem que desmistificar que o atleta só tem que comer, treinar e dormir. Nós temos vida. Saímos com nossos amigos, bebemos, postamos stories, nos divertimos, damos risada. Somos seres humanos. Não somos robôs.
FUTURO COMO STREAMER
A única carreira que eu penso fora da quadra, mas que eu já sou, é streamer. Estou ali todo dia à noite na minha página fazendo live, conversando com meu público, jogando LOL. Os melhores momentos eu passo para o canal no Youtube. Só isso que estou pensando. Já era um plano. Quando eu estiver bem mais velho (não penso nisso agora), preciso preparar a minha transição de carreira. Seu eu fizer isso no último ano de vôlei, não vai dar certo. Espero jogar vôlei.