Campeão olímpico e vice-campeão mundial, o ponteiro Douglas Souza destacou a luta para ser aceito dentro das equipes. E nesta sexta-feira (28/6), Dia Internacional do Orgulho LGBTQIA+, o jogador lamentou ainda ter que falar sobre o tema.
– Não é que eu era superaceito, que todo mundo adorava o “viado” no time, não, mas eu me fazia ser, porque iam precisar de mim, na minha cabeça era isso. Sempre deixei isso muito claro, porque eu sabia que, se ficasse entre o Douglas e o heterozinho padrão, iam ficar com o heterozinho padrão. Então, eu sempre tentei o meu máximo para que o time precisasse de mim, que precisasse do Douglas para ganhar jogos, para ganhar campeonatos. Eu meio que forçava, ‘vai me aceitar, sim’ – disse o jogador, em entrevista ao Abre Aspas, do Globo Esporte.
– É meio exaustivo todo santo ano ter que ficar falando sobre sexualidade dentro do esporte, mas infelizmente é uma coisa que a gente tem que falar. (Estamos em) 2024 e a gente ainda está falando sobre isso, ‘Ah, o Douglas é homossexual’, tá, mas e daí? O Douglas vai ser cobrado do mesmo jeito, sendo homossexual, sendo heterossexual, sendo o que for – complementou.
Novo contratado do Sada Cruzeiro, Douglas acredita ainda que em algum dia o preconceito ainda vai terminar, mas vai durar muito tempo.
– Eu acredito. Não sei se vou estar vivo para isso, infelizmente, mas eu acredito. Eu acredito que principalmente agora com essa nova geração, a geração Z. Eles estão vindo totalmente diferentes, com informação muito diferente, com a cabeça muito diferente – disse.
Fora das Olimpíadas
Em abril, Douglas Souza recusou o convite para voltar a defender a Seleção. O ponteiro revelou que precisa cuidar de sua saúde mental e das pessoas próximas, como sua família e seu noivo.
– Eu tinha comentado com o meu empresário, que é um pai para mim. Em 2017, eu cheguei a comentar com ele que começaram a acontecer coisas muito pesadas na minha vida. Depressão, ansiedade, eu não sabia de nada dessas coisas, eu não tinha essa informação tão clara. Eu falei para ele que estava acontecendo isso, isso e isso, eu estava me achando muito estranho, não sei se isso iria crescer, se iria aumentar, mas eu não estava me sentindo feliz e alguma coisa estava acontecendo comigo – afirmou.
– Na final da Liga das Nações, uma coisa que para mim foi o pior que foi você não sentir nada. Você não sentir gosto das coisas, não ver cor nada coisas, isso foi o pior para mim, pensar fazer as coisas erradas comigo mesmo, aí foi o estopim para mim – contou.
Sobre os Jogos de Paris, ele disse que não pretende acompanhar e revelou quais são os seus planos.
– Eu não sei, porque, provavelmente, eu não vou nem assistir. Eu torço muito para o Brasil, mas eu não assisto a todos os jogos. Eu não costumo acompanhar muito vôlei. Eu sou muito dos jogos (games), então eu passo o pouquíssimo tempo que a gente tem, que a gente não está treinando, que a gente não está malhando, eu passo jogando, passo com o meu noivo, eu passo fazendo algo fora do vôlei, fora do trabalho, para que isso me acalme, não me deixe ansioso.
Douglas Souza no Sada Cruzeiro
A temporada de 2024/25 do Sada Cruzeiro começou oficialmente na última quarta-feira (26/6), com a reapresentação do clube estrelado no CT do Barro Preto, em Belo Horizonte. O treinador Filipe Ferraz e a comissão técnica receberam o grupo, que terá o campeão olímpico Douglas Souza e Matheus Brasília como novidades.
– O Filipe foi um dos grandes motivos de eu ter fechado no Cruzeiro, porque joguei muito contra o Filipe, já apanhei bastante, já perdi muito. Para mim, você trabalhar com um técnico que recentemente era um dos melhores ponteiros do Brasil, era muito constante, ajudava o time em tudo que podia.