Até os playoffs do Campeonato Paulista, torcida, narradores e comentaristas de vôlei falavam o nome dela errado. A grafia é Nyeme e todo mundo falava “Nieme”. Foi preciso o pai explicar, via SporTV, que a pronúncia correta é “Naieme”, nome que ele mesmo escolheu, após assistir a um filme americano na TV.
Até então, pouca gente tinha reparado naquela jogadora do São Paulo/Barueri, que até ano passado ainda jogava na base do Bradesco, em Osasco. Sabia-se que ela tinha sido eleito a melhor líbero do Mundial Sub-20 no México, em 2017, quando o Brasil ficou na quinta colocação. Mas, ela ainda não havia jogado uma competição adulta como titular na carreira.
De jogadora desconhecida à revelação do Estadual e nome aclamado nas redes sociais para defender o Brasil nos Jogos de 2024. Foi essa a trajetória surreal da líbero Nyeme, 1,75m, 21 anos nas últimas três semanas. Se Lorenne foi o grande nome da conquista do Campeonato Paulista, sexta-feira, sobre o Osasco/Audax, no José Liberatti, Nyeme foi, sem dúvida, uma grata revelação para o vôlei brasileiro.
O volume de jogo de Barueri impressionou nas duas partidas das semifinais contra o Sesi/Bauru e nas finais contra Osasco. Tainara e Maira seguraram bem o passe, mas Nyeme protagonizou defesas inacreditáveis, sempre bem posicionada, vibrante, jogando com personalidade e a tranquilidade de uma veterana. Confira o bate-papo que essa jovem e talentosa jogadora teve com o Web Vôlei:
Como vocês explicam essas grandes atuações na reta final do Paulista?
Muito treino, muito estudo. A gente estuda muito os adversários, mas principalmente a gente treina muito e acho que isso faz a diferença no momento decisivo. O Zé sempre fala: “Treino fácil, jogo duro. Treino duro, jogo fácil”. Então, acho que é isso que a gente faz. A gente treina pesado, para quando chegar na hora do jogo e estar solta. E acho que isso fez bastante diferença.
Como é ser treinada pelo Zé Roberto?
Um sonho para qualquer jogadora. E eu estou tendo essa oportunidade e vou tentar tirar tudo de melhor que ele tem para me ensinar, que com certeza eu vou evoluir muito, porque ele é fera, ele é muito bom.
Quais os pontos fortes e fracos da equipe para a Superliga?
Nosso ponto fraco é que a gente ainda está cometendo muitos erros em sequência, muito instável no placar. E o nosso ponto forte é que a gente joga coletivamente, é uma ajudando a outra, principalmente nos momentos decisivos. A gente não deixa a responsabilidade só para uma, a gente tenta jogar coletivamente, porque o conjunto faz a diferença. As seis são importantes.
Como você começou no vôlei?
Comecei em Barra do Corda (MA), na minha cidade. Eu me lembro, aos 12 anos, jogando na rua. Onde tinha vôlei eu ia jogar. Mas eu nunca fiz base lá, porque nunca teve. Sempre joguei com os adultos, seja homem ou mulher, sempre joguei pelada. Comecei lá, na minha cidade, aos 9 anos.
Como foi receber o prêmio de melhor líbero do Mundial sub-20 de 2017?
Não dá para explicar a sensação porque é única. Foi algo sobrenatural, não sei explicar, mas o resultado de muito trabalho, suor. Deus honra quando a gente trabalha, dá o nosso melhor, quando a gente é justo, honesto, faz as coisas certas. Foi tão surreal, porque a gente ficou em quinto. E ainda estava vendo a final quando alguém da organização da competição foi ao hotel em que a gente estava, perguntando: “Cadê a número 6?”. E eu respondi que era eu. E ele disse que eu tinha que voltar urgente para o ginásio, que eu iria receber um prêmio. E fiquei sem entender, porque ainda estava tendo o jogo… Teoricamente, as melhores estavam lá, na final. Foi difícil acreditar. Nunca imaginei. Mas, foi uma das melhores experiências que eu tive na minha vida. É muito bom ser recompensada por aquilo que você faz. Eu fiquei muito feliz!
Quais eram as outras jogadoras daquele time do Mundial?
As outras jogadoras que estavam eram a Jackeline (Jacke), Tainara e Diana (São Paulo/Barueri), Karina, Lorrayna e Lorena (Pinheiros), Karyna e Amanda (Osasco), Glayce (Sesi), Júlia Moura (Fluminense) e Júlia Bergmann (NCAA).
Quando e como você deixou o Maranhão?
Saí da minha cidade primeiramente em 2012, e fui para a capital São Luiz. Eu tinha 13 anos. Fui jogar pela escola. Aí, no mesmo ano, eu fui para a seleção maranhense. Aí no ano seguinte, em 2013, teve o Maranhão Vôlei adulto, que iria jogar a Superliga, e eu fui, fiquei nesse time, jogando durante o ano de 2013 inteiro, mas não jogava, porque eu tinha 13 anos ainda. Estava lá mais para compor, para treinar. O técnico era o Chicão, hoje no Joseense, e ele disse que era melhor eu ir para São Paulo, para ter mais oportunidade de jogar. Eles me indicaram, mas meu pai não queria deixar, porque eu era muito nova, mas eu insisti, falei que era meu sonho e ele acabou deixando. Eu cheguei em São Paulo em 2014, aos 15 anos, sem nunca ter treinado em nenhuma categoria de base. Meu primeiro time da base foi em Barueri. Joguei o segundo ano de infanto, com 15 anos de idade.
Como foram os primeiros dias numa cidade como São Paulo?
Foram muito difíceis para mim. Eu morava num alojamento com outras meninas, foi muito diferente, difícil no sentido de estar longe dos meus pais, da minha família, mas foi e continua sendo uma experiência maravilhosa, porque eu tive a oportunidade de conhecer pessoas novas.
Quais são os seus ídolos no vôlei?
Eu me inspiro na Fabizinha, na Brenda Castillo, que são da minha posição e fizeram história.
Sua família mora atualmente em São Paulo?
Eles ainda moram em Barra do Corda. Eu sou casada e moro com o meu esposo.
Você pensa em Seleção adulta?
É um sonho. Mas cada coisa a seu tempo.
Por Patrícia Trindade
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