Bicampeã olímpica (Pequim-2008 e Londres-2012), pentacampeã do Grand Prix, 10 vezes campeã da Superliga com o Sesc RJ. E por aí vai. Um breve resumo do currículo vitorioso de Fabi, ex-líbero da Seleção Brasileira, candidatíssima a melhor da posição em todos os tempos.
Depois de aposentar as joelheiras, ela aceitou um novo desafio e hoje é titular absoluta em outro time de sucesso: o de comentaristas de voleibol no Grupo Globo.
Fabi, 39 anos, se prepara para comentar o torneio feminino do Pan-Americano com uma motivação a mais. Há exato um mês, no dia 2 de julho, nasceu Malu, a primeira filha da bicampeã olímpica com Julia Silva, gerente de seleções da CBV (Confederação Brasileira de Vôlei).
Nessa entrevista exclusiva ao Web Vôlei, Fabizinha falou da emoção de ser mãe, contou como se prepara para comentar os jogos, revelou como foi o início da carreira na TV, comentou que o problema em revelar ponteiras-passadoras não é exclusividade do Brasil e disse que sente sim, saudade das quadras.
– Eu fui até o momento onde tinha que ir. Foram 20 anos vivendo sensações incríveis, muito mais do que podia imaginar. É uma saudade nostálgica. Quando entro no ginásio lotado, faço o mesmo caminho de quando eu era atleta mas, ao invés de ir para a quadra, vou para a cabine. Amo o vôlei – declarou Fabi.
Confira a entrevista com a craque Fabi:
Como foi o convite para ser comentarista? Como você foi amadurecendo essa ideia durante a transição da carreira no vôlei?
O convite veio logo depois que parei de jogar pela seleção, em 2014. Eu já fiz parte do Time de Ouro da Globo, um time de comentaristas criado para a transmissão dos Jogos Rio 2016. Na época, eu ainda jogava em clube e foi uma experiência muito bacana. Ser comentarista era uma das possibilidades após a aposentadoria das quadras.
Eu gosto de desafios, de fazer coisas novas. Não é um terreno que eu domine tanto ainda, mas atleta vive de desafios. Trabalho com uma equipe muito boa, o que me deixa muito à vontade. Eles lançam esses “mini desafios” dentro dessa nova posição e eu só venho aprendendo com as novas possibilidades.
Precisou fazer alguma mudança no visual, na voz, na forma de falar, para estar na TV, ou foi algo bem natural?
Não fiz mudança, sou a mesma Fabi de antes. A preocupação em melhorar e poder acrescentar nas transmissões que é primordial. É o meu objetivo. Tento evoluir a cada dia e ter essa experiência é enriquecedor. Com o tempo, você vai pegando o timing. A voz passa a ser uma ferramenta de trabalho. Vamos tentando nos aperfeiçoar e treinar, mais ou menos como funciona dentro das quadras. Somo uma equipe ali e nos dedicamos a fazer o melhor sempre.
Como você vê o vôlei do Brasil tanto feminino quanto masculino no Pan-Americano de Lima, mesmo sabendo que não vamos com a nossa força máxima?
Sobre o desempenho, é um ano importante para o vôlei brasileiro, no qual todos querem garantir a classificação antecipada para Tóquio 2020. Certamente o Brasil vai com uma equipe para brigar por medalha. Vejo com bons olhos até uma medalha de ouro, mesmo sem a força máxima. Vejo boas possibilidades de o vôlei contribuir para o quadro de medalhas.
Como você se prepara para uma partida ou mesmo para uma competição como o Pan? Como é a sua rotina? Estuda, vê vídeos, conversa com treinadores e dirigentes?
Precisamos separar um tempo sempre para estudar, ver como está o mercado, entender as questões físicas, buscar conversas com os treinadores. Todo dia busco separar um tempo para me dedicar à internet na busca por informações. Faço planilhas para acumular informações dos times, balanços, vários momentos. Acho importante conhecer as atletas, assistir a muitos jogos. A ideia sempre é acompanhar de perto as jogadoras.
O que mudou nessa preparação, agora, com um bebê em casa? A Malu bagunçou essa rotina de estudos? O dia do nascimento dela se compara com alguma das suas conquistas olímpicas?
A mudança na rotina com a chegada da Malu traz uma certa inconstância na dinâmica dos estudos. Quem tem um recém-nascido em casa sabe como funcionam os primeiros de vida e eu quero participar de todos os momentos. Malu deu uma bagunçada boa na rotina, até dos exercícios, do sono, mas ela só veio para trazer mais alegria para o dia a dia e não atrapalha em nada.
As minhas conquistas olímpicas foram sensacionais, eu tive o privilégio de representar meu país ao lado das minhas companheiras. São duas medalhas olímpicas que, apesar de terem a mesma cor, têm histórias completamente diferentes. Mas o nascimento da minha filha realmente foi uma das emoções mais incríveis, a maior conquista da minha vida. É difícil traduzir em palavras o que eu senti no dia 2 de julho. Posso dizer que sou muito grata ao universo por ter vivido tanta coisa bacana ao longo desses 39 anos. Foi um dos momentos mais sensacionais da minha vida.
Andei de ônibus a vida inteira. Gosto de metrô e ônibus. De alguns anos para cá, tentei fazer com que o uso do transporte público fosse menos estressante. Passei a andar de bicicleta também, que é algo que eu gosto, para observar tudo que o Rio tem de bacana. Tudo isso me trouxe uma tranquilidade a mais, mais conexão com os livros. No trânsito, não fico mais preocupada de dirigir, frear e andar. Sempre vivi a rotina de transporte público. Sou nascida e criada no subúrbio. É uma forma de ajudar o meio ambiente também, menos carros na rua, com oportunidades de conhecer pessoas novas. Passei a escutar bastante podcast também.
Sente falta de jogar vôlei ou acredita que parou na hora certa mesmo? Acha que ainda vai voltar a jogar num master, de repente?
Eu fui até o momento onde tinha que ir. Foram 20 anos vivendo sensações incríveis, muito mais do que podia imaginar. É uma saudade nostálgica. Quando entro no ginásio lotado, faço o mesmo caminho de quando eu era atleta mas, ao invés de ir para a quadra, vou para a cabine. Amo o vôlei. Foram momentos incríveis. Fiz amigos, conheci pessoas e convivi com meus ídolos. É uma saudade bacana e que só me traz lembranças boas para o resto da vida.
Estamos com uma dificuldade de revelar mais ponteiras-passadoras, mas esse não é um problema exclusivo do Brasil. Hoje vemos alguns times no mundo em busca de uma oposta definidora, com pouca relação da ponteira-passadora, quem de fato traz o dinamismo para o jogo, para entregar um bom passe para a levantadora e tornar a partida mais dinâmica.
Acredito que com a quantidade de competições que estão aparecendo, naturalmente haverá mais chances para as atletas mais jovens. Espero que a gente volte a produzir ponteiras-passadoras como já fizemos antes e que inspiraram atletas no mundo inteiro.
Já teve algum problema com jogador (a) ou integrante de comissão técnica por conta de um ou outro comentário seu durante uma partida por conta atuação dele (a)? Quando você era jogadora, ficava irritada com os comentários? Chegou a contestar um comentarista por conta da opinião dele?
Nunca tive problema. As pessoas conseguem entender que o nosso trabalho é falar sobre o que está acontecendo na partida, não tem nada pessoal, nada para diminuir o atleta. Tento fazer minhas ponderações baseada no que eu vivi. Cada um tem uma forma de analisar. Discordar faz parte, mas o mais importante é ser íntegro com a sua verdade e falar em cima da vivência das quadras e em cima do que você realmente acredita.
Como atleta, nunca tive problemas com comentários, nunca contestei comentaristas. Tudo é feito na base do respeito e isso é o ideal. Tudo começa pelo respeito. Ter opinião diferente faz parte. O mais importante é que o respeito norteie as nossas opiniões.
Como é a relação entre vocês, comentaristas? Trocam ideias, se falam, tem algum comentarista que você se espelha mais?
Minha relação com os comentaristas é muito bacana. Reunimos um time de ídolos. Sou novata nesse time, mas a chance de conviver com grandes ídolos como o Carlão, Nalbert, Marco Freitas, um amigo de muitos anos e nosso mestre, é muito bom. Sempre busco trocar ideias, aprender. Escuto muito todos eles. Trabalho com feras e busco aprender com todos eles.
Por Patrícia Trindade