Medalhista de prata nos Jogos Olímpicos Pequim 2008, Fábio Luiz Magalhães voltou ao vôlei após quase 10 anos. Depois de se dedicar aos estudos e se formar em Direito e Educação Física, o ex-jogador de vôlei de praia retornou ao esporte, mas de uma forma diferente. No lugar do papel de atleta, o de técnico. Em vez da areia, a quadra. Em substituição aos principais campeonatos mundiais, assumiu o trabalho no início do processo de formação, como treinador da equipe masculina de vôlei do Espírito Santo, que disputa a terceira divisão dos Jogos da Juventude João Pessoa 2024, encerrados na última quinta-feira (28/11).
– A minha medalha olímpica nasceu dentro de uma escola. A minha conquista olímpica tem vários fatores, mas entre os principais estão dois profissões de Educação Física que acreditaram em mim quando eu tinha 12 anos”, afirma Fábio, que é também professor universitário e dá aulas de vôlei na faculdade – explica Fábio, que foi vice-campeão nos Jogos Olímpicos ao lado de Márcio Araújo. A dupla também foi campeã mundial em 2005, em Berlim.
Natural de Marataízes (ES), Fábio foi convidado e participou do projeto de montar uma seleção de vôlei que representaria o Espírito Santo em campeonatos nacionais, como os Jogos da Juventude, a principal competição multiesportiva do Brasil para jovens de até 17 anos, organizada pelo Comitê Olímpico do Brasil (COB).
– Fizemos uma seletiva boa em todo o estado, construímos um time, treinamos durante um ano para os campeonatos. O trabalho tem que ser feito no dia a dia. Esse trabalho de base é o que eu acredito – explica o agora treinador de vôlei.
O trabalho começou um ano atrás, para o campeonato municipal, e segue em passos firmes. Sob comando de Fábio, o time da Federação do Espírito Santo foi campeão da segunda divisão do Campeonato Brasileiro de Seleções sub-18 em 2023. Agora, o objetivo é buscar o acesso para a segunda divisão nos Jogos da Juventude.
– O Espírito Santo tem uma hegemonia muito grande no vôlei de praia e queremos criar essa cultura de ser bom também no vôlei de quadra – diz Fábio Luiz.
O Espírito Santo conta com três medalhistas olímpicos no vôlei de praia: Alison “Mamute” Cerutti (ouro na Rio 2016 e prata em Londres 2012) e Larissa França (bronze em Londres 2012), além de Fábio Luiz (prata em Pequim).
Fábio conquistou tudo que pôde nas areias, mas foi nas quadras onde tudo começou, chegando a integrar a seleção brasileira de base. Segundo o ex-jogador, a geração que chegou junto dele nas quadras era muito forte, a ponto de fazê-lo migrar para o vôlei de praia aos 20 anos, em 2001. A decisão lhe rendeu todo tipo de títulos, desde campeão brasileiro a campeão mundial, com direito a medalha olímpica. A aposentadoria chegou aos 35, após muitas lesões e cirurgias.
Após um período sabático no esporte que ficou dedicado aos estudos, Fábio contou com um incentivo extra para voltar ao vôlei. O filho João Vítor Magalhães é o levantador do time do Espírito Santo nos Jogos da Juventude, em João Pessoa.
– Eu tentei me afastar, porque desde os meus 12 anos eu respiro vôlei. Mas os filhos vêm me puxando, os amigos também. Depois, vendo o sonho dessas crianças, penso que eu posso ajudar a concretizá-los – conta Fábio.
Apesar de ser filho de medalhista olímpico do vôlei de praia, João Vítor treina vôlei apenas há um ano – até o ano passado, o esporte dele era a natação, fruto do incentivo da mãe. A irmã Lara, de 12 anos e alta para a idade, também já mostra que herdou a habilidade do pai para um dos esportes mais populares do Brasil. A volta de Fábio ao vôlei, porém, foi no cenário onde toda essa paixão começou:
– Eu sempre fui um apaixonado pela quadra e já vivenciei muito a praia. Agora, eu queria algo diferente”. Nem sempre a tarefa de estar fora do jogo é fácil. Estar dentro de quadra no vôlei era a minha paixão, agora é estar fora. Mas, claro, tem hora que eu tenho vontade de atacar a bola, porque ela vem tão boa, que dá vontade – confessa Fábio Luiz.
Ainda assim, no papel de treinador, ele mantém um temperamento calmo, sem exaltações, mesmo nos momentos mais difíceis do jogo. Sorte da turma que tem o privilégio de contar com um técnico medalhista olímpico.
– Eu falo com eles direto. A minha medalha olímpica eu construí com muito trabalho, treinando no dia a dia, com acertos e erros. Eu não vejo outro caminho para o sucesso e passo para eles essa experiência. Claro que também tem muitas histórias, os sacrifícios que fazem parte da vida de um atleta, mas a satisfação de saber que tudo vale a pena também. No fim, eu aprendo muito mais com eles e me sinto motivado por pegar uma geração de meninos que confiam em mim, que gostam de trabalhar e ver que estamos em um bom caminho – completa Fábio.