Assumir uma equipe não estava na lista de desejos de Renan Dal Zotto, técnico da Seleção Brasileira masculina, em 2019. E um dos motivos era permanecer o maior tempo possível ao lado da família em Florianópolis, ciente de que um ano pré-olímpico já demandaria muitas semanas de viagem mundo afora. Quando a proposta do EMS/Taubaté chegou, em meados de fevereiro, ele pediu alguns dias para os dirigentes do time paulista, justamente para discutir a situação com os familiares.
O “sim” aconteceu após Renan ganhar apoio da família para o desafio de dar ao Taubaté o primeiro título de Superliga da história. E o processo decisório contou com uma ajudinha do destino. O convite para assumir a equipe aconteceu no mesmo momento em que Ana, a esposa do técnico, precisava passar mais tempo em São Paulo para expansão da empresa dos Dal Zotto, a Par Mais, de Planejamento Financeiro.
No sábado, na vitória sobre o Sesi por 3 a 0, no Ginásio do Abaeté, em Taubaté, ela e os dois filhos do casal (Enzo e Gianluca) estiveram presentes para apoiar Renan.
– Não foi uma decisão familiar fácil. Eu admito que não consigo passar muito tempo longe e 2019 já seria um ano puxado (Brasil jogará Liga das Nações, Pré-Olímpico, Sul-Americano, Copa do Mundo e o Pan, este último, com um time B). Pesou demais minha esposa estar abrindo empresa em São Paulo e precisar vir direto para cá. Isso foi muito importante para eu poder ter tranquilidade de assumir o comando do EMS/Taubaté – revelou Renan ao Web Vôlei.
Renan assumiu o Taubaté na reta final da fase de classificação da Superliga, após o time terminar a Libertadores em uma decepcionante quarta colocação, com as finais sendo jogadas no Abaeté. A pressão sobre o elenco era enorme, visto que o investimento feito para a temporada visava conquistar os títulos mais relevantes em disputa.
O primeiro passo do técnico foi definir um time base, algo que o argentino Daniel Castellani, amigo de Renan, preferia não fazer, mudando constantemente a formação titular. Rapha assumiu de vez o levantamento, Douglas Souza passou a dividir a ponta com Lucarelli antes de se lesionar, com Otávio voltando de lesão com vaga na equipe.
– Eu não peguei um trabalho zerado. Temos uma equipe muito capacitada, competitiva e bem montada. Dei alguns direcionamentos, fiz ajustes e comecei a implantar a minha forma de trabalhar. Me dou muito bem com o Castellani, tanto que trocamos mensagens durante os playoffs. Mas eu não quis analisar o que deu errado com ele. Passei a régua no que tinha acontecido e fui em frente.
Taubaté se classificou em terceiro, teve dificuldade para superar o Vôlei Renata nas quartas de final por 2 a 1 e se garantiu para enfrentar o Sada/Cruzeiro. E foi no playoff semifinal que o novo trabalho deu provas de que a equipe mudou de patamar. Três vitórias sobre o atual pentacampeão, duas delas jogando no Ginásio do Riacho, em Contagem, e a classificação para a final.
– Jogo é o reconhecimento do dia a dia. O time estava treinando bem, pegou pesado. E foi essa entrega que nos ajudou a eliminar o Cruzeiro e chegar à decisão. Se você olhar os números, vai ver que um dos jogos terminou 104 a 104 nos pontos, o outro 116 a 115. Reflete o equilíbrio, a intensidade… Foi uma série duríssima contra um rival muito gabaritado – analisou o treinador.
Prova de que a aceitação pelo grupo foi boa tem sido a importância dos argentinos Uriarte e Conte nesta reta final de temporada. O levantador e o ponta, que viraram reservas com a chegada de Renan, têm ganhado cada vez mais espaço em momentos-chave dos últimos jogos, inclusive com Conte sendo usado como titular na vaga de Douglas Souza.
Com a final contra o Sesi empatada em 1 a 1, um novo ingrediente será incluído a partir de terça-feira. Por decisão dos dois clubes, a Arena Suzano foi escolhida como palco do terceiro, quarto e quinto jogo (se necessário). Um palco inaugurado no ano passado e quase desconhecido para a maioria dos atletas.
– Gostei do que vi. O ginásio tem um piso bom, boa iluminação, é maior do que a Vila Leopoldina e o Abaeté, dará conforto aos torcedores. Teremos pouco tempo para pegar as referências para o terceiro jogo, mas na sequência poderemos fazer mais treinos lá e a tendência é melhorar para ambos os lados. Creio que foi uma boa ideia – contou Renan.
Sobre o rival, o treinador da Seleção Brasileira faz elogios para dois setores do Sesi em especial:
– O William é excepcional. É um daqueles levantadores que fazem a diferença, constrói o jogo de uma forma quase única. Fora isso, o Sesi tem a melhor linha de passe do país, independentemente de quem jogar (Lipe, Lucas Lóh e Murilo são os titulares, com Renato na reserva) – disse o treinador do Taubaté e da Seleção.
Ao fim das finais da Superliga, ele completará a lista de convocados para os treinos da Seleção Brasileira. E não faltarão protagonistas desta decisão: William, Lóh, Alan, Eder, Rapha, Lucarelli, Lucão, Otávio, Thalles… Rivais por mais duas semanas e depois companheiros com a Amarelinha.
– Será um ano muito desgastante. Vou precisar de todos inteiros e dispostos, com foco principal na conquista da vaga olímpica – encerrou Renan, lembrando do torneio que acontecerá em agosto, na Bulgária, contra os donos da casa, Egito e Porto Rico.
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