A oportunidade de disputar o mais importante campeonato adulto de vôlei feminino do Brasil – com apenas 12 equipes – é reservada a pouquíssimas jogadoras. Mas a Superliga Cimed também é um laboratório de formação de atletas para equipes como o São Cristóvão Saúde/São Caetano que tem trabalho de base e tradição. A oposta Kisy, de 19 anos, 1,89m, e a central Lia, 18 anos, 1,85m, da categoria infanto-juvenil ganharam a chance de evoluir.
– Sempre é possível pinçar alguma jogadora das categorias menores – garante o técnico Antonio Rizola que deu essa chance para Kisy e Lia.
Kisy, que foi descoberta por um professor na Escola Estadual Alberto Francia Gomes Martins, ganhou bolsa para estudar e jogar pelo Colégio Nelson Gaspar, ambos em Santo André, e depois vista nos Jogos Escolares por um árbitro e indicada para São Caetano, aos 13 anos, em 2013, é pura felicidade.
– Estou muito feliz porque sei que são poucas as meninas que têm esta oportunidade, ainda mais sendo infanto-juvenil. Acho que evolui muito no controle de bola, na frequência e também no aspecto psicológico, de ter mais concentração. Estou muito feliz com a oportunidade porque posso vivenciar os dois mundos, o do adulto e o da minha categoria.
Kisy está treinando, viajando com o grupo e entra em quadra em alguns momentos em algumas partidas.
– Tem jogadoras que quando eu comecei a jogar já eram consagradas. Quando estou em quadra, com elas… a gente até brinca: ‘Nossa, ela bateu na minha mão’.
Ela admira Sonaly, do São Cristóvão Saúde/São Caetano, Gabi e Natália, do Itambé/Minas, e Joycinha, do Fluminense.
Em 2018 integrou a Seleção Brasileira juvenil que foi campeã sul-americana.
– Até hoje eu me emociono porque era um sonho representar o meu país. Só o campeão canta o Hino Nacional e escutar o nosso hino no fim foi sensacional – diz Kisy.
Ela tem o apoio dos pais, Tony e Luciana, da irmã Nicole, e aponta São Caetano como referência na formação de atletas para o vôlei.
– Tudo o que eu sei até hoje aprendi aqui no São Caetano, nunca joguei em outra equipe e aqui eu evolui demais. Quando cheguei aqui não sabia nem andar!
Lia começou a jogar no Clube Ary De Von, de Mauá, aos 10 anos. Parou um pouco, voltou em 2014 e no ano seguinte (2015) num jogo de Mauá contra Guarulhos foi vista e convidada para atuar em São Caetano por uma técnica do infantil. Também tem o apoio dos pais Ilza e Antonio. A mãe sempre aconselhou a tentar o vôlei.
– Eu sou muito nova e não tenho a mesma noção e vivência que a Kisy tem. Eu tenho muito para aprender. E quando ele (o técnico Antonio Rizola) me chamou para fazer parte dessa Superliga foi uma imensa alegria.
Ela fez um jogo da Superliga, contra Osasco.
– Nossa, estou aqui mesmo? É com aquela jogadora que estou jogando? Não conseguia nem fazer as coisas direito em quadra – conta.
Dayse e Flávia são os espelhos em São Caetano, mais Carol Gattaz, do Itambé/Minas, e Walewska de Osasco/Audax.
O assistente técnico Fernando Gomes, que conhece Kisy desde o início, diz que os fundamentos foram trabalhados desde o comecinho.
– Ela já era alta, a rede para a categoria é mais baixa e ela nem saltava para atacar. Foi preciso insistência para ela fazer a passada, aprender a se posicionar no bloqueio e agora, a parte final, que é a defesa – não colocar o joelho no chão, saber rolar.
Nas categorias iniciante e pré-mirim Kisy sempre foi o destaque do time, mas foi subindo de categoria que conheceu as dificuldades do esporte e buscou evolução. Em 2017 foi titular do juvenil no primeiro ano de infanto. Disputou o Paulista Juvenil, que é bem forte. Em 2018, já entrou no adulto em um jogo da Copa do Brasil, em Uberlândia.
– Tem de aproveitar, pegar os bons exemplos, saber o que precisa saber, conseguir separar o que não é bom para a carreira de atleta e dar sequência na evolução. Tem de saber sair da dificuldade. Tem jogadora que tem de vôlei o que ela tem de idade – afirma Fernando.
Rizola observa que a central Lia só treinava com o infanto quando foi puxada para os treinos do adulto.
– Eu chamei. Estou trabalhando com ela mais fora da equipe do que na parte coletiva, ensinando bloqueio, a sacar, a cair no chão, para que ela possa ser um terceira central, jogar na próxima Superliga.
(Osvaldo F./Contrapé)
– A Kisy entra e sai. Também estou trabalhando tecnicamente fora do treino. Normalmente chegam uma hora antes para isso. Mas são meninas espetaculares que a gente valoriza a vontade que têm – acrescenta Rizola, satisfeito com as nove jogadoras do time que fizeram parte da base do São Caetano.
– Isso valoriza o trabalho que São Caetano realiza. Infelizmente, hoje no Brasil são poucos os clubes que mantém esse trabalho de base. São Caetano conta com um esforço muito grande da Marina Miotto e a cidade se manteve por 25 anos da Superliga por ter um histórico de base.
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