O campeão olímpico André Heller entregou, na quinta-feira, a carta de renúncia de todos os membros da Comissão de Atletas de vôlei de quadra da CBV. Insatisfação com a confirmação da inscrição de Montes Claros na próxima Superliga masculina, chancelada pela entidade, foi o principal motivo.
Em declaração ao Web Vôlei, ele explicou as razões da saída. Confira a íntegra:
“Nos últimos cinco anos, escolhemos nos dedicar de forma voluntária à Comissão de Atletas. Sacrificamos nossos compromissos profissionais e pessoais, doamos nosso tempo, gastamos do nosso bolso. Fomos em busca de conhecimento para conseguir alguma mudança, sempre de maneira ética, transparente e seguindo parâmetros legais. Participamos de todas as reuniões da CBV com os clubes. Passamos a ter voz e voto nas AGO´s e AGE´s esperando contribuir para decisões mais assertivas da CBV.
Tomei a difícil decisão de sairmos, tendo o aval dos outros membros, por não concordar com os rumos tomados no caso da inscrição de Montes Claros. Ouvi na reunião para definição de regulamento e tabela que tratou-se, entre aspas, de uma “decisão da alta administração da CBV”. Isso não é aceitável.
Montes Claros processou os atletas usando uma brecha no regulamento para viabilizar a inscrição, porém ainda existem pendências quanto aos salários dos atletas. Além disso a Certidão Negativa de Débitos não foi entregue na data prevista, e não sabemos se ela foi entregue efetivamente. Em resumo: o regulamento não está sendo cumprido.
A inclusão do fair play financeiro foi um dos maiores avanços da Superliga. É um dos componentes para proteção dos atletas e comissões técnicas e médicas, uma garantia de cumprimento dos compromissos assumidos pelos clubes. Tínhamos convicção de que isso faria com que casos de não pagamentos aos atletas e às comissões técnicas, tão comuns durante muito tempo deixariam de acontecer. Durante os cinco anos, a Comissão foi procurada várias vezes para ajudar a resolver casos de atrasos salariais, quase sempre dos times que ocupavam os últimos lugares na classificação. E tivemos esse retrocesso agora.
E não foi por falta de alerta. Desde o início de julho, a Comissão fez cobranças sobre os prazos não-cumpridos neste processo. E muitas vezes ela ficou sem resposta. Para mim, regulamento deve ser cumprido. E isso não aconteceu.
A nota oficial da CBV sobre o fim da comissão também provou que tenho todas as razões para não fazer mais parte deste ambiente. O fato de se dizerem surpresos é ainda pior. Estão surpresos com a Comissão por não concordarmos com o fato de não terem cumprido o regulamento. Isso é inadmissível. O voleibol brasileiro não tem mais espaço para este tipo de conduta!
Se queremos que o esporte se transforme, precisamos começar no nosso microambiente. Se queremos mudanças, ela deve começar por nós. Se os atletas querem mudanças, que comece por eles. Se a CBV quer mudanças, que comece por ela. A longo prazo, isso vai acontecer. É minha convicção. Porém temos que ter em mente que para termos mudanças e resultados diferentes, temos que ter atitudes diferentes, caso contrário, teremos sempre os mesmos resultados!”