Tratar Isabel Salgado como Isabel do Vôlei ajuda a entender o tamanho de uma das maiores da modalidade no país. Mas tratá-la “apenas” como Isabel do Vôlei não faz jus ao conjunto de uma obra interrompida precocemente, nesta quarta-feira (16/11), aos 62 anos.
“Bel” transcendeu o status de atleta e treinadora. Ao se transformar em ícone e carregar o nome do esporte no apelido carinhoso, ela fez o vôlei “furar a bolha”, muito antes de a expressão se popularizar, para trazer o holofote para a discussão de tabus da sociedade. Era uma mulher à frente do seu tempo.
Direitos iguais para as mulheres, a possibilidade de conciliar a vida profissional com a maternidade, preocupação com o social, liberdade de expressão, democracia… Se até hoje os temas geram desconforto em alguns, imagine 40 anos atrás, ainda sob as trevas da ditadura?
Ela nunca se preocupou em fechar portas por conta de suas posições por um mundo mais igual. Essa coragem para incomodar ajuda a entender melhor o legado deixado por ela. Atleta, treinadora, musa, mãe, amiga, empresária, cidadã, gestora, avó… Por tudo isso, Isabel do Vôlei é muito pouco para defini-la com exatidão para as novas e futuras gerações perpetuarem as conquistas que ela ajudou a construir.
Por Daniel Bortoletto