Os Jogos da Juventude, disputados em Ribeirão Preto (SP), estão sendo marcantes para a líbero Brendha Batista. A atleta defende a seleção de Goiás e teve uma recuperação destacável nos últimos meses. Em fevereiro, ela completou 10 meses parada após uma ruptura do ligamento cruzado anterior do joelho esquerdo. Na ocasião, ela mal conseguia caminhar sem mancar, ainda com o sonho de defender o estado na competição nacional.
Para chegar aos Jogos da Juventude e realizar um antigo sonho, não faltou garra para Brendha, que foi coroada com a vitória sobre Alagoas na estreia por 2 sets a 1 (17/25, 25/10, 15/6), nesta quarta-feira (6), no Ginásio Cava do Bosque, pela 3ª divisão.
– Estou radiante de estar aqui. Era o meu sonho desde 2019 e esse ano é o meu último para poder disputar os Jogos da Juventude. Vou dar tudo de mim. Graças à paixão pelo esporte, me entreguei de coração para vir (para Ribeirão Preto). Depois de tanto tempo parada e de ficar sem a minha paixão, cheguei a me questionar se aquilo era para mim. Fiquei com tantas dores que nem conseguia assistir vôlei. Ir para um lugar que só tem aquilo que você ama e não poder fazer é muito doloroso – contou Brendha, emocionada ao lembrar a fase mais complicada.
Além da lesão física, o período foi ainda mais difícil para Brendha, que enfrentou ainda outros problemas.
– Quando eu me lesionei, não conseguia mexer a perna. Coloquei gesso, tomei remédio e, uma semana depois, peguei Covid. Em julho, consegui fazer a ressonância magnética e descobri o diagnóstico. Procuramos vender rifas, pois a cirurgia custa em torno de 10 a 12 mil reais. Entrei com pedido para fazer pelo SUS e consegui em outubro. Perdi muita massa magra – completou, em entrevista ao COB.
Parceria com treinador
A lesão de Brendha aconteceu um dia antes dela disputar a fase municipal de uma competição em Goiânia. Por falta de atacantes, ela acabou improvisada na função de ponteira, com a qual não estava habituada. Na época, não fazia musculação. Quando foi tentar a primeira ação de ataque no aquecimento, o joelho não aguentou. Com o episódio, ela aprenderia uma lição para toda a vida: teria de ser uma atleta mais disciplinada do que a média.
O técnico Otoniel, o He-Man, já a conhecia de seletivas, mas só começou a trabalhar com a atleta após um pedido do pai de Brendha, Wolney José, para que o professor ajudasse sua filha a voltar a fazer o que tanto ama.
– Ela chegou muito ansiosa. Queria fazer as mesmas atividades que as outras. Eu avisei que faria um trabalho responsável, sem ultrapassar limites. Depois de focar no fortalecimento, melhorou das dores e conseguiu estar apta para vir aos Jogos da Juventude. Hoje, ela consegue correr atrás da bola, cair sem dar susto na gente, mas é preciso manter essa disciplina. É aquela menina que grita o tempo inteiro e puxa as outras meninas, tem aquela autoestima – diz Otoniel.
O pós cirurgia foi um período de abalo físico e emocional para Brendha. Ela não conseguia completar os movimentos de extensão e flexão da perna esquerda. Mas a família e o treinador nunca mediram esforços para apoiar a menina a alcançar seus sonhos.
– Meus pais e o ‘He-Man’ foram a minha base! Eu tenho até dó do meu técnico, porque eu não conseguia nem andar sem mancar e ficava pedindo para ele lançar a bola. Eu estava há tanto tempo sem jogar, que só entrar na quadra me fazia querer pular e correr, mas não tinha joelho para isso. Ele me regrou. Foi um período difícil. Tive que entender que eu ainda não estava apta. Foi um trabalho muito bom. Ele teve muita paciência comigo e estou pronta para buscar essa medalha – disse Brendha.
Inspiração
Após retomar a rotina nas quadras, Brendha recuperou o gosto de assistir aos jogos, tanto dos amigos quanto pela televisão. A líbero Camila Brait, do Osasco, é uma das inspirações. A outra é a bicampeã olímpica Fabi, protagonista de uma cena icônica, que a goiana sonha em reproduzir um dia: uma recuperação com o pé, em partida da Seleção Brasileira contra o Japão, na Copa do Mundo de 2007.
– Sempre que passa um jogo eu paro e penso: “Um dia quero estar lá”. A Camila Brait e a Fabi são inspirações. Aquela defesa que a Fabi fez com a perna, nossa! É o filme que sempre passa na minha cabeça quando uma bola espirra para longe. Me dá vontade de fazer o mesmo, mas lembro que meu joelho não aguenta. Quem sabe um dia? O vôlei tem muitas histórias de superação e me inspira – disse Brendha.