Um mês atrás, a rotina de Marcelle Arruda, 18 anos, era treinar no Tijuca Tênis Clube, no Rio de Janeiro, em busca da realização do sonho de vários adolescentes país afora: ver o esporte transformar a vida de toda uma família. E, aos poucos, ele começa a se tornar realidade.
Depois de enfrentar Sesc RJ Flamengo e Fluminense no rápido Campeonato Carioca, ela chamou a atenção da comissão técnica de Bernardinho. O Rubro-Negro acabara de perder Natinha, a líbero titular, com uma lesão no joelho. Marcelle foi convidada para treinar com o elenco. A primeira aparição dela foi na disputa do Super Vôlei, em Saquarema, onde a colombiana Camila Gomez estreou na posição. A jovem levou a medalha de prata e a experiência de poder enfrentar craques do vôlei nacional, até então acessíveis apenas pela televisão.
Veio a Supercopa. Camila Gomez ficou fora, por lesão, e Drussyla precisou ser improvisada novamente no setor. Lá estava Marcelle no banco novamente. Nesta terça-feira, na Gávea, na abertura da Superliga, um mal estar tirou Drussyla de quadra ao fim do primeiro set diante do Brasília. E a opção de Bernardinho foi colocar a jovem, de apenas 1,63m, em quadra. E aquele sonho distante, um mês atrás, se realizou com Marcelle ganhando o Troféu VivaVôlei de melhor em quadra, ajudando na virada do time carioca para 3 a 1.
– Agradeço muito a torcida por ter sido eleita a melhor em quadra. Agradeço também a Deus e as meninas, que me dão muita força em tudo. Toda equipe poderia ter feito uma partida melhor, eu também, mas foi muito importante ter estreado na Superliga com uma vitória – disse Marcelle.
Nascida em uma comunidade da Zona Norte da cidade, ela foi convidada para treinar no Tijuca aos 13 anos, segundo reportagem da Rádio Poliesportiva, após ser vista em quadra pelo time do Acadêmicos do Salgueiro, famosa escola de samba da região.
Na base do tradicional clube, palco durante anos dos jogos do projeto adulto do Sesc, Marcelle conquistou títulos estaduais no infantil, no infanto e no juvenil. Começou a aparecer na seleção carioca em Campeonatos Brasileiros de base, até passar a ser convocada para a Seleção Brasileira. No ano passado, jogou o Mundial sub-18 no Egito, e, neste ano atípico por conta da pandemia, ela jogaria pela Seleção sub-20.
Curiosamente, toda essa trajetória foi feita como ponteira, apesar da baixa estatura. Agora, como líbero, ela começa a dar um novo rumo para a carreira. Pelo início, ela mostra que pode ir longe.