Mari Steinbrecher, 36 anos, e Paula Pequeno, 38, são campeãs olímpicas – e acumularam uma experiência enorme ao longo dos cerca de 20 anos de carreira no vôlei de quadra. Agora tudo mudou. Elas resolveram trocar de piso, optaram pela areia, e chegaram como iniciantes à etapa do Circuito Brasileiro de Vôlei de Praia em Aracaju (SE).
Em entrevista ao site da CBV, nesta semana, as duas falaram da derrota na estreia, simplesmente para a dupla número 1 do país – Ana Patrícia e Rebeca – e dos desafios de começar tudo de novo (veja coluna de Daniel Bortoletto sobre o tema). Quebraram recorde de audiência na transmissão via internet, e corresponderam às expectativas dos fãs com atenção e carinho a todo momento. A troca também aconteceu com os jogadores já experientes no vôlei de praia, que receberam muito bem a nova dupla do circuito.
O que motivou a mudança da quadra para a praia?
MARI – Na verdade, eu estava batendo bola na areia mais de brincadeira, só para não ficar totalmente parada. E, conforme foi passando o tempo, fui pegando gosto pelo esporte. Acho que o maior desafio foi aprender um negócio novo. A verdade é que depois que a gente para, falta a adrenalina de jogo, a gente sente falta da rotina de treino e eu sentia falta de alguma coisa que me desafiasse, me motivasse e a areia acabou se encaixando muito bem nessa questão.
PAULA – A grande motivação foi o convite da Mari. Naquele momento não conseguia entender se era uma missão dela ou minha, mas, se for dela, quero fazer parte. Se for minha, que bom que é com ela. Depois do convite, quando percebi o tamanho do desafio, que é muito grande, isso mexeu comigo de uma maneira positiva.
Qual é a maior dificuldade nessa transição?
MARI – Todas (risos). Nada é fácil nessa adaptação ao novo esporte. A primeira coisa é aprender a andar na areia, depois a se deslocar, saltar com os buracos que desequilibram. Como entrar para atacar a bola, levantar, passar, o tempo de saída do bloqueio. Então, na verdade, não tem nada fácil. Depois disso, tem o vento de todas as direções que nos forçam a precisar entender como levantar, como acelerar o saque, enfim, são milhões de detalhes que só com o tempo vai ficar automatizado na nossa cabeça.
PAULA – Primeiro, a física. Até condicionar, até acrescentar a parte de resistência, demora. Na quadra nós damos ênfase à explosão e potência, e na areia, tem isso também, mas com uma boa dose de resistência. A parte física pesa e o fato de precisar perder alguns vícios da quadra, como posicionamento tanto de defesa, quanto do passe. A quadra é muito grande, saber dividir melhor os espaços e saber fazer leitura mais rapidamente por sermos só duas. Nesse caminho, a dificuldade vai aparecendo.
O que tem feito você mais feliz no voleibol de praia?
MARI – Os locais onde a gente treina, a liberdade de estar ao ar livre, acordar e sair de short e top, de chinelo, o sol que vai estar lá praticamente todos os dias. A liberdade de fazer os nossos horários, tudo isso a gente valoriza muito porque são coisas que não tínhamos na quadra, onde era preciso renunciar a muitas questões por motivos óbvios. Na quadra, somos um time e temos que seguir aquelas regras estabelecidas. Isso está sendo um ponto muito importante até para a nossa cabeça porque depois de 20 anos trabalhando na quadra, essa flexibilidade ajuda muito.
PAULA – A atmosfera, o estilo de vida, sempre em contato com a natureza, um clima mais leve. Sem contar que em um time só com duas pessoas, tudo fica mais flexível. Nós que decidimos a maioria das questões e isso tudo está me fazendo muito bem.
Quais são os objetivos nesta nova fase da carreira?
MARI – Primeiro aprender a jogar direito. Estamos treinando bem, mas não conseguimos jogar ainda como estamos treinando. Eu credencio isso ao fator emocional, vento, pelo fato de não jogar muito com duplas femininas. É outro jogo do masculino, com quem treinamos. As meninas normalmente largam mais, por exemplo. Muda bastante. Agora precisamos pegar mais essa experiência.
PAULA – O primeiro, sem dúvida, é aprender a jogar vôlei de praia (risos). É um processo longo, lento, até porque precisamos aprender a malícia do jogo e isso só se consegue rodando mesmo, competindo bastante. E depois temos as metas de médio e longo prazo. Primeiro, quem sabe daqui a um ou dois anos, começar a disputar os torneios internacionais para ganhar um novo parâmetro. Depois, sonhamos com os Jogos de 2024. É um sonho bem ambicioso, até porque as meninas que estão aí jogam esse esporte há mais de 10 anos. Vai ser uma missão bem difícil, mas sonhar não custa nada.
Vocês se conhecem há muito tempo, mas é diferente conviver tanto assim como agora?
MARI – A gente se conhece há 20 anos e está sendo muito legal conviver assim, mais próximo do que nunca. Além de parceira de quadra, a Paula é minha amiga fora dela. Lógico que tem horas que vamos discordar e mesmo discutir na quadra, isso é normal dentro da parceria, mas entendemos que fora de quadra não vamos levar isso adiante. Às vezes é difícil, mas a gente se senta, conversa, acerta os pontos e o mais importante é que estamos sempre abertas uma a outra. Está sendo muito legal estar com ela todos os dias.
PAULA – Sim, há cerca de 20 anos. Temos muita afinidade. É claro que essa convivência fora e dentro de quadra, com mais intensidade, não tendo mais gente para dividir o estresse e tudo mais, gera um desgaste. Mas o fato de ter muito carinho entre a gente, vai levar a tirar de letra os momentos difíceis.
O que você mais gosta na sua parceira?
MARI – É difícil falar porque a gente é muito amiga, mas, dentro de quadra, vejo ela com muita sede de aprender, muito disponível a aceitar as coisas, correr atrás, encarar novos desafios. E essa disponibilidade e a vontade de aprender faz a Paula parecer uma jogadora infanto em um esporte novo. Acho bonito ver ela empolgada e chegar feliz a cada treino.
PAULA – O lado descontraído da Mari extra-quadra. Apesar de não parecer, de algumas pessoas pensarem que ela é fria, não é nada disso. Ela fala para caramba, é super engraçada, e esse alto astral ajuda bastante nos momentos sensíveis e delicados.