Ele tem a difícil missão de substituir o técnico Stefano Lavarini, que caiu nas graças da torcida do Itambé/Minas, chegando à final de cinco dos cinco torneios disputados na última temporada – conquistou os títulos da Superliga, da Copa Brasil, do Campeonato Mineiro e do Sul-Americano e foi vice do Mundial de Clubes, perdendo para o Vakifbank e Ting Zhu e cia na decisão. Aos 38 anos, Nicola Negro, novo comandante do time minastenista, no entanto, revela que gosta de desafios.
Nicola estava, há duas temporadas, no Trentino Rosa, que disputa a série A2 do vôlei italiano. Ele teve breve carreira como jogador. Aos 20 anos, assumiu função fora das quadras e foi assistente técnico no Conegliano, atual campeão da Liga Italiana. Além da longa experiência na escola do seu país, ao longo de seus 18 anos como treinador, Nicola passou também por clubes da Eslovênia, Polônia, Romênia, Azerbaijão e, entre 2007 e 2010, foi um dos assistentes da Seleção da Turquia.
Nesta entrevista exclusiva ao Web Vôlei, Nicola mostrou que já entende o português perfeitamente e que responde bem em espanhol, já arriscando algumas frases na nossa língua.
Times diferentes
Ele contou que não pensou duas vezes antes de aceitar o convite para comandar o atual campeão da Superliga; disse que sempre acompanhou o vôlei brasileiro; falou dos técnicos que foram inspiração na sua carreira e admitiu que o atual time é bem diferente do do ano passado e que, talvez, o passe não tenha a mesma eficiência de quando Gabi e Natália faziam parte do grupo. “O time da temporada passada é passado. Vamos fazer o melhor com o que temos em mãos e temos um time de alto nível”, disse o treinador.
Web Vôlei: Como foi o convite para você assumir o Itambé/Minas?
Fiquei surpreso. Foi uma proposta da minha agente que trabalha em contato com a agente do Brasil, Ana Flávia, e confesso que fui surpreendido, mas não pensei duas vezes, porque nesse momento da minha carreira é uma oportunidade grande. Estou feliz e orgulhoso de fazer parte desse clube, desse projeto nesse momento.
Web Vôlei: Chegou a falar com o Lavarini?
Tive sim a oportunidade de falar com o Lavarini e ele falou muito bem do clube e das jogadoras. Não poderia ser diferente. Falou muito da equipe, embora o time tenha mudado muito nesta temporada.
Web Vôlei: Como você vê a escola brasileira de vôlei?
Uma das maiores escolas do mundo e com grande tradição. Há vários anos a Itália recebe jogadores brasileiros importantes e durante anos aprendemos com eles. É uma honra estar participando desta escola agora.
Web Vôlei: Quais são as características que não podem faltar eu um time de alto nível atualmente?
Cada time tem diferentes características. Claro que hoje, para jogar em alto nível, um time precisa ter técnica, potência física e velocidade de jogo.
Web Vôlei: O que você pode falar sobre as ponteiras Deja McClendon (norte-americana, 27 anos) e Roslandy Acosta (venezuelana, 27 anos), as duas estrangeiras contratadas pelo clube nesta temporada e que não são muito conhecidas no cenário mundial?
Posso falar seguramente da McClendon, porque tive a possibilidade de treiná-la na Itália (no Trentino Rosa, pela Série A2 italiana). É uma jogadora muito completa. Seu ponto forte, sem dúvida é o ataque, mas vai bem no fundo, no passe e na defesa e é uma atleta que, em minha opinião, tem uma boa margem de crescer e melhorar. Acosta, não conheço diretamente, mas sempre a vi jogar. É uma jogadora muito física, alta, que salta bem e também tem o ataque como ponto forte.
Web Vôlei: A Liga Italiana sempre foi muito forte. Quais são as ligas mais importantes na sua opinião hoje e em que lugar o Brasil se encaixa entre as principais competições nacionais no mundo?
Falando da liga de clubes, posso assegurar que a brasileira está entre as maiores do mundo. Na Europa, temos como destaque a Italiana, a Turca e a Russa. Mas, agora também temos um nível muito alto no voleibol asiático, com as ligas chinesa e japonesa. Acho que a Superliga está entre as quatro, cinco ligas mais importantes do mundo.
Web Vôlei: Quais treinadores serviram de inspiração na sua carreira?
Vários. Procurei sempre me inspirar em vários treinadores, buscar em cada um características que eu considero importantes, um pouco de todos. Depois, claro, formei meu próprio estilo de treinamento, mas tive a oportunidade de aprender muito com Zé Roberto (técnico da Seleção Brasileira Feminina, tricampeão olímpico e técnico do São Paulo/Barueri), Karch Kiraly (técnico da Seleção dos EUA), Giovanni Guidetti (técnico do Vakifbank e da Seleção Turca) e Massimo Barbolini (técnico do Novara e ex-técnico da Seleção Italiana). Foram os treinadores que mais tive a oportunidade de seguir e aprender.
Web Vôlei: Você tem duas opostas de alto nível, mas não sabemos como elas estarão nesta temporada. A Bruna Honório vem de uma cirurgia no coração e a Sheilla não joga há três anos. Como você acha que vai ser a volta dessas atletas?
Elas vêm de situações especiais, particulares. Sheilla três anos sem voleibol e Bruna com o problema de saúde. Mas, se dermos a elas o tempo correto de recuperação e adaptação, estou seguro que as duas vão somar muito à equipe. São duas grandes opostas.
Web Vôlei: O seu português, está muito bom. Chegou a estudar na Itália antes de vir para cá? Já entende tudo?
Não estudei. Falo espanhol e passo a passo estou buscando adaptar o espanhol ao português. Já compreendo tudo. A comunicação não será um problema. E também não é difícil, por conta do italiano, entender o português. Ainda, claro é um problema falar corretamente e escrever, mas com o tempo vou melhorando.
Web Vôlei: Acompanha os outros times da Superliga? Conhece os principais concorrentes?
Sim, claro. Independentemente de atuar ou não no Brasil, sempre gostei de acompanhar as maiores ligas do mundo e conheço as equipes, conheço as jogadoras, já vi em vídeos, joguei contra quando estava na Turquia, conheci bem as atletas brasileiras que já jogaram na Europa.
Web Vôlei: O passe foi o diferencial do Itambé/Minas na temporada passada. Há uma apreensão da torcida mineira se o time vai conseguir manter o bom nível neste fundamento, após as saídas de Natália e Gabi.
Primeiro creio que Natália e Gabi têm um valor que não temos de discutir. Todo mundo sabe o valor dessas duas jogadoras. Bom, mas elas saíram e isso é passado. Agora temos de pensar nessa temporada e no time que temos nas mãos. Certamente, são times com características diferentes. Pode ser que não tenhamos a mesma qualidade na recepção. Assim, vamos trabalhar bastante no dia-a-dia para buscar passar o melhor possível. O objetivo desse time tem de ser o de construir nosso jogo de acordo com o passe que vamos ter.
Web Vôlei: Como você se define como treinador?
Sou muito físico (risos). Não mental, muito físico. Posso até parecer um pouco brasileiro… Sou um treinador que gosta muito do jogo atual, moderno e que estuda bastante, principalmente a parte tática.