O pedido de dispensa do Campeonato Mundial de 2022 pode ter um custo bem alto para a sequência da jovem Ana Cristina na Seleção Brasileira. Inclusive colocando em risco a continuidade no ciclo olímpico até Paris-2024.
Vamos aos motivos:
– A forma com que o processo foi conduzido e comunicado talvez tenha surpreendido até mais do que a dispensa em si. Não houve nenhum tipo de aviso prévio para Zé Roberto e para a comissão técnica antes de uma ligação do empresário da atleta ao treinador, revelando que ela não aceitaria a convocação. Todos contavam com Ana Cristina no Mundial, com todo o planejamento prévio tendo sido passado ao término da VNL, em Ankara.
– Com todos os envolvidos cientes de que Julia Bergmann já seria um desfalque certo para encerrar a graduação em Física na Universidade de Georgia Tech, a importância das demais jogadoras da posição seria naturalmente maior para o Mundial. Por isso o impacto do pedido de dispensa de Ana Cristina aumenta.
– O motivo também não “colou”: ganhar espaço no Fenerbahce. Na Seleção, Ana Cristina teria mais tempo para se entrosar com Macris, futura titular no levantamento do time turco. E, neste momento, o Fener está muito desfalcado, já que os principais nomes do elenco estão se dedicando às seleções. Até Arina Fedorovtseva, com a Rússia suspensa das competições internacionais, está fora. Seria que estar lá, simplesmente, fará essa diferença toda?
– No último ciclo olímpico, Zé Roberto também sofreu com pedidos de dispensa. E ele sempre bateu na tecla de que as novas gerações precisavam aprender com as anteriores a dar mais valor para a Seleção. Isso ajudou na decisão de trazer de volta Fabiana e Sheilla, por exemplo. Além da contribuição em quadra, Zé queria influenciar as novatas, no dia a dia, com histórias de vida e superação de atletas vitoriosas e icônicas. A ideia era ver a Seleção como objetivo de vida, consequência principal dos feitos no clube, não um fardo. E ele valoriza demais quem dá valor para a Amarelinha.
Juntando tudo isso, não duvidaria se Ana Cristina fosse para o fim da fila na Seleção. E fico incomodado em escrever e pensar na possibilidade. Mesmo com um potencial tremendo, sendo trabalhada desde muito cedo para alçar voos altos, já com uma Olimpíada no currículo antes da maioridade, Ana Cristina, 18 anos, não é diferente das demais atletas para ter qualquer tipo de tratamento diferenciado.
Além de ganhar espaço e jogar muito pelo Fener, ela terá de reconstruir um importante laço de confiança para voltar a somar pontos na Seleção.
Por Daniel Bortoletto