Em mais de 20 anos de profissão eu nunca tinha visto nada parecido no vôlei. E, horas depois de ter acompanhado José Roberto Guimarães tirar o São Paulo/Barueri de quadra, como protesto pelos erros da arbitragem na partida contra o Dentil/Praia Clube, com o time ainda com chances de se classificar para a semifinal da Copa Brasil, tive uma enorme dificuldade para organizar os pensamentos e tentar escrever algumas linhas sensatas para algo tão surreal.
Antes de julgar a atitude do técnico, admito estar surpreso até agora. Se não tivesse visto ao vivo, na transmissão do Canal Vôlei Brasil, teria dificuldade para acreditar. Porém, como vi todo o jogo, tento me colocar no lugar de Zé Roberto e pensar com a cabeça dele.
Foram vários os lances polêmicos no jogo. As reclamações do técnico com a arbitragem começaram no primeiro set, quando ele levou o amarelo por reclamação. O primeiro vermelho aconteceu na segunda parcial. E olha que o duelo entre mineiras e paulistas possuía o desafio eletrônico para auxiliar a arbitragem. Dá para imaginar o que teria acontecido sem a tecnologia? Na reta final do quarto set, as reclamações aumentaram. Zé questionou dois toques não marcados de Carol e reclamou de uma bola que teria tocado no chão após tentativa de defesa de Martinez… E as cerejas do bolo foram o desvio na defesa marcado após um ataque do Praia para fora e na sequência o cartão vermelho para Nyeme. E é bem possível que ele tenha razão em todas elas.
Ao somar a insatisfação crescente de Zé set a set, é possível entender a revolta nos dois pontos decisivos da quarta parcial. A paciência dele chegou ao limite ali.
O comentarista Maurício Jahu, do Canal Vôlei Brasil, chegou a usar a seguinte expressão no fim do jogo, antes do desfecho final: “Barueri foi operado”. Pode parecer pesado, mas deve ter sido a mesma sensação que Zé Roberto teve.
Juntando tudo isso, é possível entender a decisão de Zé. Isso não quer dizer, porém, concordar com ela.
E aí me permito tentar também me colocar no lugar das jogadoras de Barueri. Passaram 2h30 em quadra, ainda tinham chance de vencer um favorito, fora de casa, e passar para a semifinal de um campeonato. Talvez a imagem do choro de Lorenne, sendo consolada pelas adversárias, ajude a entender o turbilhão de sentimentos vividos pelas atletas. A decisão foi do comandante e, mesmo não concordando, elas foram obrigadas a aceitar. Deixaram de lutar pela vitória e entregaram a classificação para o Praia. Vai contra a essência do esporte.
Zé, um tricampeão olímpico, um herói do esporte nacional, é um exemplo para muita gente. E, neste caso específico acontecido em Uberlândia, a imagem deixada por ele não foi positiva. Com o tamanho, a importância e a relevância na modalidade, ele teria outras formas para contestar ou protestar contra uma arbitragem ruim. A principal delas seria vencer o jogo.
Por Daniel Bortoletto