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Paulo Coco: “O Minas tem uma das melhores linhas de recepção do mundo”

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Atual campeão da Superliga com o Dentil/Praia Clube, o técnico Paulo Coco inicia a busca do bicampeonato neste domingo, às 11h, no Mineirinho, em Belo Horizonte (MG), onde as duas equipes começam a jogar o playoff melhor de três da final da competição (com transmissão pelo SporTV 2).

Depois de um início de temporada de altos e baixos, como a inesperada derrota para o São Caetano, no começo do returno, problemas na linha de recepção, críticas pela falta de entrosamento da levantadora norte-americana Carli Lloyd com as atacantes, e as derrotas para o Minas nas finais do Campeonato Mineiro, do Sul-Americano e da Copa Brasil, o time de Uberlândia chega bem mais confiante à essa decisão.

A confiança vem dos jogos impecáveis protagonizados pela equipe mineira nas quartas de final da Superliga contra o Fluminense e nas semifinais contra o Sesi/Bauru, com vitórias incontestáveis por 3 sets a 0. Além disso, a linha de passe melhorou sensivelmente, jogadoras que vinham alternando bons e maus momentos – como a oposta norte-americana Fawcett e a central Fabiana – voltaram a ser decisivas, o entrosamento com  a Lloyd é visivelmente melhor, a alegria voltou e o time desembarcou em Belo Horizonte em um momento bem mais seguro.

Entrosamento da levantadora Carli Lloyd com as atacantes melhorou bastante (Nadine Oliver/Divulgação)

Em entrevista exclusiva ao Web Vôlei, Paulo Coco falou sobre Minas, Tifanny, entrosamento, a falta de mais opções de ponteiras-passadoras no vôlei brasileiro e mundial, Rosamaria, Mineirinho, Sabiazinho, Lavarini, ranking, Mundial de Clubes e muito mais. Confira o bate-papo com o treinador:

Como está sendo essa adaptação aos ginásios de grandes dimensões, Mineirinho e Sabiazinho, palcos das finais?

A gente já teve uma situação positiva no Sabiazinho no ano passado (na conquista do título da Superliga sobre o Sesc RJ, com a vitória por 3 a 0 no jogo e depois no golden set), é mais uma questão de adaptação às dimensões do ginásio. Não é do tamanho do Mineirinho, mas já nos ajuda. Jogar nesses ginásio muda muito as referências para as levantadoras, que sempre usam alguns espaços específicos para se adaptar. Muda também para as atacantes de bola alta. E afeta principalmente algumas características de sonoridade. Num ginásio menor é mais fácil você se adaptar ao som, à batida na bola,  você se prepara de uma maneira pelo baruilho, então você usa vários sentidos para isso, não só a visão. E nesses ginásios grandes você perde um pouco a referência de sonoridade do adversário. Então é importante você focar no gestual do adversário, no movimento, seja na hora do saque, seja na hora de recepcionar … É  fundamental essa antecipação. Ajuda ter jogadoras que já jogaram nesses ginásios. Ano passado, a adaptação foi mais difícil do que agora, justamente porque algumas atletas  já tinham jogado no Sabiazinho.

O Praia é o atual campeão da Superliga Feminina (Divulgação)

Como é se preparar para enfrentar o Minas?

O Minas tem um sistema de recepção super equilibrado, um sistema defensivo muito atuante, onde o bloqueio é muito bem postado. Individualmente, são grandes defensoras, o que faz com que o sistema delas seja muito efetivo. Precisamos fazer com o que nosso sistema defensivo, que também é muito forte, mas com outras características, funcione. Precisamos de um saque agressivo para minimizar um pouco a velocidade do ataque delas. A Macris vem imprimindo bastante velocidade em suas atacantes… E precisamos jogar taticamente muito bem. Nosso sistema de recepção precisa jogar bem para que a gente possa jogar com ofensividade e tranquilidade.

Dois times mineiros disputam a final de um campeonato em que há bem pouco tempo era dominado por  Rio e São Paulo. Qual a interpretação que você faz disso?

Acho que é um momento diferente que o vôlei feminino brasileiro vem passando. O Dentil/Praia Clube já conseguiu quebrar essa hegemonia de Rio e Osasco depois de 15 anos, no ano passado, e esse ano chega o Minas, que já foi terceiro lugar no ano passado… Mostra essa evolução, essa estrutura em termos de organização, de montagem de equipe e mostra sua força. Isso é importantíssimo para o estado de Minas Gerais.

Você espera algo diferente do lado do Minas? São duas equipes que já se enfrentaram muitas vezes nessa temporada.

Espero, porque eles são uma equipe com muitas possibilidades. Eles têm jogado muito bem estrategicamente nesse sentido, usando determinadas jogadoras cada jogo, algumas estratégias diferentes de jogo a jogo, dependendo do do adversário, então estamos tentando mapear tudo, vendo o que eles fizeram contra a gente, o que fizeram contra outros adversários fortes e o que eles podem fazer para nos surpreender. É um jogo de detalhes, é um jogo de xadrez, você vai mexendo de um lado e do outro e quem conseguir, no dia, executar de maneira mais positiva, vai levar vantagem.

Fê Garay é a principal jogadora do time (Nadine Oliver/Divulgação)

O que o Lavarini trouxe para o vôlei do Minas? E você para o Praia?

A gente tem uma filosofia de trabalho, a gente acredita em equipe. Temos jogadoras individualmente muito fortes, mas o coletivo tem de sobressair. Foi o que sofremos no início dessa temporada, até elas entenderem que a força da equipe é maior do que a força de cada uma, individualmente. Esse é o nosso diferencial. Do lado deles, o que eu vejo é um trabalho muito bem feito desde o ano passado, buscando as características do voleibol italiano, buscando uma estratégia bem apurada, um sistema tático onde se joga um voleibol de alto nível. Sem dúvida nenhuma, a aquisição da Natália e da Gabizinha levou a equipe para um patamar complemente diferente. Elas deram um equilíbrio em todos os setores. O sistema de recepção do Minas talvez seja um dos mais equilibrados do mundo, falando em termos de clubes, e até seleção, porque é uma base de seleção brasileira, a recepção delas. São jogadoras que dão um volume incrível de defesa no fundo de quadra, naquela posição 6 é difícil a bola cair, então propicia muito contra-ataque para elas, facilita a vida da Macris, que pode jogar com mais velocidade. Ela, sem dúvida nenhuma, foi o grande diferencial da equipe nesta temporada.

Ser o atual campeão da Superliga aumentou muito a pressão do time nessa temporada?

Acredito que não. Pressão normal, de um campeão, de ser a equipe mais visada, de as equipes estudarem mais, estarem mais preparadas para jogar contra a gente.

Como é para você já saber da renovação do Dentil antes do início da temporada?

Uma integração importante. Não acredito que aumente a tranquilidade porque eu trabalho do mesmo jeito independentemente de qualquer coisa eu tenho um contrato a ser cumprido e eu faço o meu melhor em qualquer condição. A renovação antecipada só demonstra a confiança que eles têm em meu trabalho.

Rosamaria vem se adaptando à função de ponteira-passadora (Nadine Oliver/Divulgação)

Qual foi o pior momento para o Dentil/Praia Clube em toda a Superliga?

Acredito que o início da Superliga foi o mais complicado para a gente devido ao pouco tempo de treinamento. Tivemos só três treinamentos antes de jogar o Mineiro, aí emendou com a Supercopa, Superliga, Mundial de Clubes, e a questão do entrosamento pesou. Não tínhamos tempo para treinar, tendo de jogar treinando, treinar jogando… Foi a situação mais complicada.

O passe do time foi muito criticado na fase classificatória. Como vocês lidaram com isso?

Tivemos um monte de problemas. O passe foi um dos sistemas que teve uma irregularidade grande. A gente trabalhou com tranquilidade, tentando melhorar tecnicamente as jogadoras, tentando entrosá-las no sistema de recepção, e tentando achar uma melhor formação. Isso tem sido uma tônica do voleibol mundial, que carece de ponteiras-passadoras, de ponteiras com essa característica. Não foi um problema só nosso. Com a exceção do Minas, que tem uma linha de passe mais regular, os outros times da Superliga sofreram com a linha de recepção. A gente tem conseguido equilibrar e o trabalho é que faz com que a gente melhore.

Como você classificaria essa Superliga em termos de equilíbrio?

Eu participei de todas as Superligas, seja como jogador, como auxiliar técnico ou como técnico. Acho que fiquei de fora duas temporadas que eu tive na Espanha e uma quando a Amil acabou e a gente ficou fora. Dos 25 anos, praticamente fiquei fora, participei de 22. Para mim, essa é a Superliga mais forte dos últimos tempos devido ao equilíbrio das equipes. Força intermediárias entraram na disputa. Tivemos equipes tradicionais que ficaram fora dos oito, casos de Pinheiros e São Caetano, que participaram de todas as Superligas, uma briga grande para entrar na semifinal. A equipe que é a maior vencedora da história da competição, o Rio de Janeiro, ficou fora de uma semifinal. E, pela primeira vez, uma final entre equipes mineiras. Isso demonstra que foi a mais equilibrada de todos os tempos.

Escalar a Rosamaria como ponteira-passadora foi uma aposta? Você acredita que, até mesmo pensando em Seleção, seria uma boa ela se manter nessa posição?

Tem sido uma aposta, não só minha, mas um consenso entre ela querer e ser útil tanto na seleção quanto no clube. Na Seleção, o Zé Roberto tem esse interesse. É uma deficiência do voleibol feminino mundial. Ela vem evoluindo muito bem na recepção. Ela tem o interesse. Na minha opinião, vem melhorando e pode sim executar essa função. Claro que nunca será uma passadora nata, mas poderá executar essa função, desde que ela esteja disposta a isso.

Suelen é a líbero do Dentil/Praia Clube (Nadine Oliver/Divulgação)

Por que o Brasil está sofrendo tanto com a revelação de novas ponteiras-passadoras? É um problema na base?

Não acredito que seja um problema só do Brasil. É uma deficiência mundial. Desde que ocorreu a especialização das funções, diminuiu o número de jogadoras que executam essa função. Antigamente, todos participaram dessa função (de passar), inclusive as centrais. E, na minha opinião, o erro da formação de base é especializar muito cedo. Acho que deveria segurar um pouco mais. Até um certo momento, todas deveriam executar todos os fundamentos até certa idade, para que elas pudessem se desenvolver no fundamento de recepção e a gente pudesse ter um número maior de atletas executando esses fundamentos, ter jogadoras com essa aptidão.

Você é a favor ou contra o ranking na Superliga Feminina?

Agora, já faz alguns anos, que eu sou contra. Eu percebi que não tornou a Superliga mais equilibrada. Não acho que o ranking trouxe equilíbrio. Acho que a situação com ou sem ranking vai dar na mesma. O fator financeiro é que vai prevalecer.

Você se arrepende de ter escalado o time reserva na segunda parte da última partida da fase classificatória do Mundial de Clubes? Teria feito algo diferente?

Não teria feito nada diferente não. Não houve opção pelo time reserva. Nós começamos com o time titular e dentro do nosso planejamento, devido às questões físicas e de lesões que as jogadoras tinham naquele momento, nosso planejamento era da participação de um set e um set e meio como foi feito, em virtude da classificação antecipada para a semifinal. E, na verdade, o adversário nosso seria definido na partida posterior, entre o Minas e o Vakifbank. Nós não escolhemos adversários, como não escolhemos nunca. Foi só uma questão de planejamento. O fator principal naquele momento foi físico.

O Praia terminou a fase classificatória da Superliga na vice-liderança (Nadine Oliver/Divulgação)

Você pensa que a Tifanny leva vantagem em relação às outras jogadoras?

E não sou especialista nessa função, mas os estudos que fizeram, médicos e fisiologistas que se pronunciaram a respeito do caso provaram diversas vantagens. Mas quem tem de responder isso são os órgãos responsáveis, como a CBV, a Fivb e o COI. Eles aceitaram ela jogar e a gente de aceitar e encarar de frente. Apesar de a gente ouvir opiniões de médicos e fisiologistas contrários por causa da questão biológica.

Por Patrícia Trindade

SUPERLIGA CIMED FEMININA 18/19 – FINAIS

PRIMEIRA RODADA

21.04 (DOMINGO) – Itambé/Minas (MG) x Dentil/Praia Clube (MG), às 11h, no Mineirinho, em Belo Horizonte (MG) – SPORTV 2

SEGUNDA RODADA

26.04 (SEXTA-FEIRA) – Dentil/Praia Clube (MG) x Itambé/Minas (MG), às 21h30, no Sabiazinho, em Uberlândia (MG) – SPORTV 2

TERCEIRA RODADA (SE NECESSÁRIO)

03.05 (SEXTA-FEIRA) Itambé/Minas (MG) x Dentil/Praia Clube (MG), às 21h30, no Mineirinho, em Belo Horizonte (MG) – SPORTV 2

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Tags: Dentil/Praia ClubePaulo Coco

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