“Nós estamos rezando pela paz. Deus abençoe vocês. O Brasil está com o Irã”. Um bilhete escrito à mão, em um guardanapo, foi entregue ao técnico Roberto Piazza, comandante da seleção masculina de vôlei, antes da partida entre Brasil x Ucrânia, na manhã deste sábado (14/6), no Ginásio do Maracanãzinho, no Rio de Janeiro, pela primeira semana de disputas da Liga das Nações (VNL).
Ele se emocionou. Precisou de um lenço para secar as lágrimas enquanto dava entrevista ao Web Vôlei. E agradeceu, com um gesto de apontar o coração e juntar as mãos em forma de agradecimento.
Piazza, de 57 anos, assumiu como treinador do Irã neste ano, com contrato até o fim do ciclo Los Angeles-2028. E vive, no Brasil, uma das difíceis situações de toda a carreira, com o agravamento da crise entre Israel e Irã, com dias consecutivos de bombardeios, mortes, destruição nos dois países e temor de uma guerra mais longa e até em escala mundial.
O italiano revelou como está sendo difícil manter o foco do time na VNL enquanto chegam notícias cada vez mais assustadoras dos conflitos.
– Foram dias muitos duros. É difícil explicar. Todos os jogadores têm conversado muito com familiares e amigos. Alguns tinham pessoas próximas aos locais das explosões. Nós não podemos fazer nada daqui. É devastador quando alguém fala para você que “talvez a gente não tenha outra oportunidade de falar ou ver novamente” – contou Piazza.
O técnico tem usado o exemplo de um rival nesta etapa da VNL, no Rio de Janeiro, para os jogadores iranianos não perderem a mobilização nos jogos (eles já somam duas derrotas). A Ucrânia é uma das novidades da competição, treina na Polônia desde a invasão russa e convive diariamente com as incertezas de outra guerra sem previsão de acabar e com centenas de milhares de mortes.
– Meu conselho para eles é ver com os ucranianos estão lidando com essa situação. São três anos de guerra, neste momento eles estão fora do país, não podem estar em casa. E estão honrando a todos com a performance no vôlei.
Neste momento tão delicado, as mensagens de apoio dos brasileiros têm sido um sopro de esperança para Piazza:
– O mundo do vôlei é louco. Estamos aqui no Brasil recebendo um carinho enorme. Eu só posso agradecer pela mensagem que acabamos de receber. Sabemos que ninguém gostaria de passar por esse tipo de situação e ficou muito claro que os brasileiros estão ao nosso lado.
INCERTEZAS SOBRE AS PRÓXIMAS ETAPAS
O agravamento da situação nos últimos dias fez a seleção do Irã alterar os planos para a sequência na VNL. O time voltaria para a capital Teerã antes da próxima etapa, mas agora irá diretamente para a Sérvia, local dos próximos jogos, a partir de 25 de junho.
– No começo, alguém disse: “Em 2, 3 dias a situação estará mais calma, os Estados Unidos vão resolver o problema”. Mas já ficou claro mundo afora que não será assim. Os Estados Unidos são contra o Irã, assim como estão contra a Ucrânia atualmente. Eles querem controlar o mundo todo. E o que podemos fazer agora para mudar essa situação? – finalizou o italiano.