Oleh Plotnytskyi, 25 anos, é a grande referência do vôlei da Ucrânia. Atua desde 2019 no Perugia, um dos principais clubes do mundo, é capitão da seleção e talvez a voz mais ativa da modalidade em tempos de guerra no país-natal contra a Rússia.
Nos últimos meses, ele atuou com as cores azul e amarela pintadas no rosto, viu o hino nacional ucraniano ser tocado antes de partidas na Itália, ajudou com campanha humanitárias, recebendo apoio de companheiros de time e adversários. Formas encontradas por Oleh para lidar com a angústia de ver a própria cidade ser bombardeada.
Ele nasceu em Vinnytsia, localizada a cerca de 260 quilômetros da capital Kiev, e alvo de vários ataques com mísseis nos últimos meses. A cidade do ponta Oleh Plotnytskyi também está marcada pelos horrores da Segunda Guerra Mundial, após ser invadida por nazistas em 1941, com a construção de um quartel-general, visitado algumas vezes por Adolf Hitler. Estudos sobre o Holocausto apontam mais de 20 mil judeus mortos na cidade. Um passado triste e um presente ainda acerto, enquanto a guerra iniciada pelos russos ainda prossegue.
– No começo da guerra era um pouco mais difícil para mim, pois ainda não se sabia o que estava acontecendo, eu não sabia como ajudar. Agora você já sabe, já tem como ajudar, acaba sendo um pouco mais fácil, se é possível dizer assim – disse Oleh Plotnytskyi, ao Web Vôlei, após a vitória do Perugia sobre o Sada Cruzeiro, na noite de sexta-feira, em Betim.
A preocupação do jogador, atualmente, é com o inverno rigoroso na Ucrânia, com grande parte da população sem acesso a energia elétrica por conta da destruição das estruturas de produção e distribuição do país.
– É sempre difícil lidar com essa situação, pois cada vez que vejo as notícias pela TV e pela internet elas são sobre bombas e mais bombas jogadas nas cidades. Estamos no inverno e as pessoas não têm eletricidade para o aquecimento – comentou ele, tentando buscar algum viés positivo diante da guerra.
DIFICULDADE COM O CLIMA BRASILEIRO
Titular na vitória sobre o Sada Cruzeiro, Oleh Plotnytskyi anotou 12 pontos (dez no ataque e dois no saque). Durante a partida, ele foi nitidamente o jogador que mais sofreu com o calor e com a umidade. A cada ponto, ele precisava de uma toalha para secar o suor. Em determinados momentos, o técnico Andrea Anastasi já ficava com uma toalha em mãos para ajudar o ucraniano. O desgaste foi nítido. Na foto do time pós-jogo, ele deitou no chão, numa clara tentativa de demonstrar exaustão total. Entre uma resposta e outra na entrevista, ele se abaixava e tentava se alongar. Pela primeira vez no Brasil, o jogador admite que esperava tal cenário.
– Para mim, é realmente difícil jogar assim, mas eu já esperava. Pensei: “estou indo para o Brasil e lá o clima é sempre assim”. Nós não nos preparamos para isso, pois diria que na Itália é impossível nesta época de inverno, pois teríamos de treinar em uma sauna para ter a mesma sensação. Mas isso não é desculpa, todos os times enfrentam a mesma situação. Quem sabe no futuro eu não volte para jogar uma, duas temporadas aqui para me adaptar – revelou.
Por Daniel Bortoletto, em Betim