Após o anúncio do ambicioso plano estratégico que projeta transformar a SV.League na melhor liga de vôlei do mundo até 2030, o presidente Masaaki Okawa conversou com o Web Vôlei sobre os desafios e prioridades da nova fase da competição no Japão.
Em entrevista exclusiva, o executivo aprofundou os conceitos apresentados no projeto “Reborn II”, lançado em outubro, que prevê metas ousadas de crescimento, internacionalização e impacto social para o vôlei japonês.
Ele explicou como a liga pretende atingir um volume anual de negócios de 50 bilhões de ienes (R$ 1,7 bilhão), ampliar o público para 2,5 milhões de espectadores e consolidar o Japão como referência global em gestão esportiva.
Além das metas econômicas, o presidente destacou que o plano busca “criar o novo padrão mundial” do vôlei, baseado em três pilares: excelência de gestão, impacto social e performance esportiva.
Confira a entrevista completa:
Tornar-se a melhor liga de clubes de vôlei do mundo até 2030 é uma meta muito ambiciosa. Como é trabalhar todos os dias em direção a um objetivo tão desafiador?
Estamos empenhados em transformar a SV.League na principal liga de vôlei do mundo até 2030, com base em três pilares de fortalecimento. O primeiro é a excelência de gestão – reforçar a governança, construir uma base operacional sólida, lançar novas iniciativas de negócios e investir em marketing digital para criar o maior ecossistema empresarial do vôlei mundial. O segundo é o impacto social – por meio das nossas atividades comerciais e de programas de engajamento social, queremos mover corações e economias, no Japão e além. O terceiro é a performance esportiva – aprimorando os sistemas da liga e aprofundando parcerias com ligas e federações internacionais, buscamos formar uma competição capaz de produzir campeões mundiais no Mundial de Clubes e de desenvolver jovens talentos que aspiram se tornar atletas profissionais de vôlei.
O sucesso da temporada 2024/25 inspirou o plano estratégico “Reborn II” da SV.League?
Em nossa temporada inaugural, 2024/25, o público total chegou a 1,12 milhão de espectadores, mais que o dobro do registrado na antiga V.League. O volume combinado de negócios da liga e dos clubes já atingiu 25 bilhões de ienes (cerca de 850 milhões de reais), um patamar comparável ao de grandes ligas internacionais. Embora estejamos avançando mais rápido do que o previsto no plano anterior, “V.League Reborn”, alcançar o status de melhor liga do mundo exige visão compartilhada e esforço constante entre liga e clubes. Para aprimorar o roteiro até 2030 com mais clareza, formulamos o novo plano estratégico, o “Reborn II”.
Na última temporada, a liga anunciou ter alcançado um volume de negócios próximo de 25 bilhões de ienes. Pode detalhar como essa receita se distribui entre as diferentes fontes?
A receita total da liga foi de 3,6 bilhões de ienes, enquanto a receita combinada de todos os clubes chegou a 22,4 bilhões de ienes. O patrocínio representa pouco mais de 50% da receita total, seguido pela venda de ingressos como a segunda maior fonte.
A expansão internacional faz parte do plano estratégico. Qual é a importância do Brasil entre os mercados que a SV.League no Japão pretende alcançar?
O Brasil, uma das potências mundiais do vôlei, é considerado um dos mercados prioritários. Reconhecemos a tradição da Superliga e a maturidade da base de fãs do esporte no país. Ficamos surpresos e honrados com o fato de a SV.League já ser frequentemente mencionada na mídia especializada em vôlei, como o Web Vôlei. Para que possamos nos tornar a principal liga do mundo, é essencial que grandes jogadores se interessem em atuar no Japão. Esperamos que o sucesso de atletas brasileiros na SV.League desperte ainda mais o interesse dos torcedores – tanto no Brasil quanto na comunidade brasileira que vive no Japão.
O Japão é um dos países com a maior comunidade brasileira. A liga possui dados sobre a presença desses torcedores nas arenas japonesas?
Atualmente, não temos dados precisos sobre a presença de torcedores brasileiros nos jogos. No entanto, segundo estatísticas oficiais do governo, 85 mil visitantes do Brasil estiveram no Japão em 2024 – um aumento de 69% em relação ao ano anterior. Como Japão e Brasil celebram 130 anos de relações diplomáticas neste ano, acreditamos que o interesse por viagens e intercâmbio cultural está crescendo. Queremos continuar envolvendo a comunidade brasileira residente no Japão como torcedores apaixonados da SV.League.
As seleções japonesas têm conquistado bons resultados internacionais nos últimos anos. Esse momento positivo tem impacto direto no crescimento da liga e no interesse do público?
Na abertura da temporada feminina, a média de público chegou a 1.867 espectadores, cerca de 1,5 vez maior que a do ano anterior. No masculino, a média foi de 3.928, um aumento de 25% em relação à temporada passada. O crescimento no público feminino certamente foi influenciado pelo desempenho da seleção japonesa no Campeonato Mundial. Nosso desafio agora é transformar esse impulso em fidelidade de longo prazo. Como os resultados das seleções podem oscilar, liga e clubes estão trabalhando juntos para manter o engajamento dos fãs para além do entusiasmo momentâneo.
Internacionalmente, há muita discussão sobre o calendário de competições. Com as recentes mudanças da FIVB para reduzir a sobrecarga dos atletas, uma temporada regular de 44 jogos no Japão não parece longa demais?
Na temporada 2025/26, tanto as divisões masculina quanto feminina continuarão com 44 partidas, sem alteração. No entanto, para 2026/27, planejamos reorganizar a estrutura da liga, e a temporada regular feminina deverá ter 38 jogos. No caso da divisão masculina, seguimos avaliando a possibilidade de aumentar o número de partidas no futuro, mas, por enquanto, manteremos as 44 rodadas. Também estamos observando atentamente o número de jogos das principais equipes europeias como referência para nossos ajustes.
No Brasil, discute-se atualmente a possibilidade da liga nacional deixar de ser administrada pela federação. O senhor gostaria de deixar algum conselho ou observação para nós, brasileiros?
Acredito que cada país ou região tem sua própria forma adequada de operar uma liga. Não cabe a mim aconselhar uma nação tradicional do vôlei como o Brasil, mas posso compartilhar nossa experiência. No Japão, a Japan Volleyball Association e a SV.League assinaram um acordo de cooperação no ano passado. Criamos grupos de trabalho em três áreas – “negócios e marketing”, “identificação e clube de fãs” e “fortalecimento, desenvolvimento e promoção” -, atuando diariamente para desenvolver ainda mais o vôlei japonês e liderar a comunidade global do esporte. No nosso caso, como a SV.League é uma liga profissional e seus stakeholders diferem dos da federação, acreditamos que atuar de forma independente é o modelo mais apropriado.


