O líbero Maique foi a surpresa mais agradável do vôlei brasileiro no ano. De segunda opção para a posição no Fiat/Minas, passou a ser um dos destaques do Brasil no Campeonato Mundial. Foi um turbilhão de novidades e emoções na vida do jovem de 21 anos. E olha que o sonho de infância de vencer na vida por intermédio do esporte esteve prestes a não se concretizar.
Três anos atrás, Maique enfrentava a difícil transição das categorias de base para o profissional. Era atleta do Três Corações, time mineiro com histórico de participação na elite nacional no passado. Com o desempenho aquém do esperado e com dificuldades financeiras, a equipe estava prestes a fechar as portas. Com poucas perspectivas, o líbero se deu um prazo limite para arrumar uma nova equipe. Já entrava no mês de setembro e aguardaria em janeiro uma resposta. Sem jogar, começou a estudar e pensar em prestar vestibular. Até que o telefone tocou, em novembro.
– Eu tinha mesmo a opção de parar. Estava em Três Corações, o time não tinha ido bem na Superliga B, iria parar o trabalho de base e não iria disputar nem Superliga B nem Campeonato Mineiro Adulto no ano seguinte. O projeto lá iria acabar. E eu já estava em negociação com o Minas. Mas iria esperar uma resposta deles só em janeiro. Em um golpe do destino, o Lucianinho (líbero do Minas), acabou se machucando e o Nery (Tambeiro) me ligou no dia 19 de novembro. Eu me lembro, não esqueço nunca do Nery falando que eles estavam sem o segundo líbero. Aí eu voltei ao vôlei. Estava parado por dois meses, estudando, queria fazer faculdade. Tinha realmente pensado: “Talvez não dê certo”. Aí apareceu o Nery, um anjo, e eu consegui dar sequência ao meu trabalho – relembra Maique, em entrevista ao site Web Vôlei.
Até hoje no comando do Minas, Nery Tambeiro é conhecido no meio do vôlei por lapidar talentos. É também auxiliar das Seleções Brasileiras de base e tem olho clínico no trabalho de formação de atletas. Ele lembra da estreia de Maique com a camisa minastenista na temporada 2015/2016.
Sempre tivemos uma parceria com o técnico principal da base do Minas. Na época em que o Maique veio para o clube era o Sérgio Veloso, que hoje está nos Estados Unidos. Ele falou de um jogador que estava se destacando no Campeonato Mineiro. Eu vi o Maique jogar e pensei que seria bom ter um atleta para substituir o Lucianinho no caso de uma eventual contusão. E ele correspondeu bem. Logo no primeiro jogo ganhou o troféu de melhor da partida. Mostrou ali que tinha muito potencial a ser desenvolvido. Vimos um menino carente de trabalho para explorar. Mas, a gente só desenvolve o que já pré-existe no organismo do atleta. Vimos no Maique uma capacidade incrível. Nós só o ajudamos a aflorar essa capacidade com a equipe multidisciplinar do Minas, que conta com uma estrutura maravilhosa de nutricionista, psicólogo etc – conta Nery, dividindo os louros.
Três anos depois, Maique mudou de patamar no vôlei nacional. Em outubro, ele foi um dos representantes do Minas na cerimônia de abertura da Superliga, em São Paulo, ao lado do experiente levantador Marlon, campeão mundial com a Seleção em 2010, na Itália, e do próprio Nery Tambeiro.
Entra na Superliga com status de novo ídolo do Minas, uma das mais tradicionais equipe do país, e aposta para o futuro da Seleção Brasileira.
Será que a ficha dele já caiu?
– Aos poucos ela vai caindo. Olho para a medalha (prata no Mundial) e a ficha vai caindo aos poucos. Realmente eu vivi um sonho que não almejava, era uma coisa mais para o futuro e acabou acontecendo. Viver esse momento foi maravilhoso, ao lado de ídolos que sempre admirei, tive a oportunidade de trabalhar com eles. Foi um momento único na minha vida, difícil falar da dimensão dele. Apesar de ter disputado um Mundial sub-21 é completamente diferente saber que você conseguiu integrar uma Seleção Brasileira adulta ainda com 21 anos. Eu falo: “Meu, o que está acontecendo na minha vida?”. Minha vida hoje virou de ponta cabeça pelo lado positivo, mas foi uma reviravolta – admite Maique.
A surpresa de Maique é compreensível. Ao ser convocado para os treinos em Saquarema para o Mundial, o jogador do Minas sabia que Thales era o titular de Renan Dal Zotto. Ele não tinha qualquer indício de que o treinador levaria dois líberos para a competição na Bulgária e na Itália. Existia uma dúvida sobre a presença de quatro ou cinco pontas, já que a posição enfrentava problemas físicos (Maurício Borges, Lipe, Lucarelli) e de performance (Douglas Souza).
Para Maique não importava. Ele iria enfrentar cada treinamento no Centro de Desenvolvimento da CBV, no litoral carioca, como uma decisão de Mundial. Até que Renan, após semanas de treinos e com a proximidade da definição dos nomes que viajariam para a Europa, chamou o jovem para uma conversa.
– Ele me chamou no quarto. Eu estava naquela pressão se iria ou não, porque também acreditava que ele poderia levar cinco ponteiros. Realmente estava na dúvida do que iria ouvir, mesmo sabendo que tinha dado meu máximo nos treinos. E aí eu cheguei lá e ele começou a falar: “Você tem prestado um bom trabalho em quadra, mas fora também, sempre disposto a ajudar, tendo um bom convívio com o pessoal. Mesmo sendo muito novo, todos no grupo gostaram muito de você. Tudo isso influenciou. Não só pelo seu talento, mas pela sua postura fora de quadra”. Eu saí do quarto explodindo de alegria.
Era o passaporte carimbado para o Mundial adulto. A primeira reação foi pegar o telefone e avisar a mãe, Maria das Dores.
– Minha mãe foi o ponto básico de tudo, o pilar de tudo. No começo, ela ficava meio na dúvida sobre meu futuro no vôlei. Ela falava: “Meu filho, só vai conseguir jogar quem tem dinheiro para pagar conta num grande clube. Nós nos temos”. Eu fui persistindo. Ela tinha os receios de a vida me dar uma rasteira, mas sempre acreditou e me apoiou. Mas, certamente ela nunca imaginou que eu chegaria onde cheguei hoje, com a idade que eu tenho – conta Maique.
E até onde o menino pode chegar? O “anjo” Nery Tambeiro projeta e também aconselha:
– Sabemos que ele tem um futuro brilhante, mas tem de ter pé no chão, trabalhar forte para poder se manter onde está e conquistar outras coisas. É um menino que tem a cabeça no lugar e tenho certeza que vai saber conduzir essa situação.
E o próprio “menino com a cabeça no lugar” completa:
– Almejo crescer muito mais como pessoa e profissional. O sonho de todo atleta é ser um campeão olímpico. Disputar uma Olimpíada é um dos pontos principais. Estou trabalhando para isso. Quem sabe?