Foi em 1998 quando Roberta, a “irmã da Fernanda”, como era conhecida no meio do vôlei, de apenas nove anos, resolveu também se aventurar no esporte. Aos dez, dois anos a menos que a irmã, ela já tinha uma boa altura, um toque legal, mas não era das mais apaixonadas ainda pela modalidade. Fernanda, sim, parecia ter mais futuro. Com o tempo, no entanto, Fernanda parou de jogar vôlei para estudar e a irmã caçula continuou no esporte, melhorando a cada dia e o que era só um passatempo virou paixão. Vinte e três anos depois de começar a dar os primeiros toques na escolinha do Rexona, no Tarumã, em Curitiba, Roberta está prestes a realizar o sonho de disputar sua primeira Olimpíada em Tóquio.
Quem lembra dos primeiros passos da levantadora no voleibol é seu primeiro professor na modalidade. Vinicius Petrunko, responsável pela fase de iniciação ao esporte pelo método Mini Vôlei, no projeto do Rexona em Curitiba, e membro da comissão técnica de Bernardinho durante anos.
– A Roberta começou a carreira conosco no Rexona, no Tarumã, em 1998. Lembro que ela foi aprovada na peneira porque tinha uma altura boa já na época. Só que os olhos eram mais voltados para a irmã dela que e era um pouco mais velha e parecia ser uma grande promessa – lembra Vinicius, responsável atualmente pelas clínicas de iniciação ao voleibol no Attack Club, em Lewisville, no Texas (EUA).
Incentivadas pela família a praticarem esporte desde cedo, apenas a Roberta seguiu a carreira. “Ainda na infância ela chamou a atenção porque na época já tinha um toque muito bonitinho. A gente trabalhava no “dois contra dois – um dos métodos do Mini Vôlei – e ela já tocava fácil na bola. Com o tempo, a Roberta foi vendo que tinha talento e correu atrás – recorda-se o treinador, recentemente convidado a assumir o cargo de diretor do departamento de desenvolvimento técnico das equipes de vôlei feminino de 13 e 16 anos, no mesmo clube nos Estados Unidos.
Mais tarde a atleta saiu do projeto e foi jogar em clubes. E anos depois, voltou a trabalhar com Vinícius, porém a menina dos primeiros toques já estava em outro patamar.
– Ela já esteve em duas Universíades, tive a oportunidade de estar com ela nas duas, inclusive: em 2011 na cidade de Shenzhen, na China, quando a gente foi campeão e em 2013 em Kazan, na Rússia, onde fomos vice-campeões, sendo que as russas deveriam enviar um time universitário, mas mandou praticamente a equipe olímpica. Estou muito orgulhoso de ver a Roberta chegar no nível em que está. Acho que ela até já merecia ter ido na Olimpíada passada, mas acabou ficando fora. Então é um orgulho maior ainda ver que está indo para os Jogos Olímpicos pela primeira vez este ano – completou.
A trajetória de Roberta virou o exemplo para novas gerações
Roberta é exemplo para as alunas do Mini Vôlei, do professor Vinicius Petrunko, nos Estados Unidos. Orgulhoso, o técnico conta como a atual levantadora da Seleção começou e incentiva as novatas a terem uma referência para seguir.
– Falo que ela batalhou muito, teve muita perseverança, e que treina muito até hoje, mas que começou assim como elas. E que é importante para elas criarem uma conexão com as jogadoras adultas.
De acordo com Petrunko, o Mini Vôlei é uma iniciação ao esporte de forma lúdica, que visa estimular o voleibol a partir de oito anos de idade. O método tem como objetivo o aprendizado e o desenvolvimento físico e motor. A metodologia faz uso de uma quadra menor, bola mais leve e a altura da rede mais baixa, de acordo com a idade do aluno.
– A proposta é que a criança tenha mais acertos do que erros, que consiga fazer um passe, um levantamento e, com isso, goste e sinta prazer em jogar. Com uma quadra maior e rede mais alta, por exemplo, mais difícil o esporte se torna para uma criança e maior é a frustração”, explica.
Ciente de que Roberta foi acompanhada por diversos profissionais ao longo de sua carreira até chegar à Seleção e aos Jogos Olímpicos, Petrunko reconhece a contribuição inicial como o primeiro professor e reforça o sucesso do método.
– Existe uma equipe interdisciplinar com profissionais de ponta que acompanham os atletas durante o seu desenvolvimento. No entanto, entendo a minha parcela de responsabilidade pela forma como começamos e quanto ao meu papel como facilitador durante esta fase, porque se tivéssemos feito algo errado lá no início, talvez a Roberta tivesse perdido o interesse pelo voleibol. E quantos talentos talvez já foram perdidos por começarem de outra forma – avalia.