Rômulo Mendonça é uma das principais vozes dos Canais Disney. Versátil, detalhista, bem-humorado e uma máquina de criar bordões de sucesso, o narrador comandará as transmissões do Campeonato Europeu de vôlei, já a partir deste fim de semana, com dez jogos do feminino e em setembro, com mais dez do masculino, ao lado de André Heller, campeão olímpico e mundial.
O vôlei é uma modalidade pouco presente nas grades de ESPN e Fox Sports nos últimos tempos, mas tem um espaço mais do que especial no coração de Rômulo.
Na Rio-2016, ele fez narrações históricas, até hoje recordadas pelos fãs, com a cereja do bolo sendo na conquista da medalha de ouro da Seleção masculina. Os 15 dias no Maracanãzinho foram um divisor de águas na carreira de Rômulo, como o próprio admite. Durante os Jogos de Tóquio, ele compartilhou nas redes sociais alguns trechos dos momentos marcantes daquela cobertura.
Nesta entrevista ao Web Vôlei, Rômulo relembra os bons momentos da Olimpíada no Brasil, revela a admiração pelo vôlei e fala sobre a preparação para narrar o Europeu.
Como está a sua preparação para voltar a narrar o vôlei?
Primeiro acompanhei bastante os torneios de vôlei de Tóquio dando atenção especial para os europeus e lutando contra o fuso. E durante a primeira fase do Europeu feminino consegui acompanhar diariamente uma média de dois jogos por dia pela internet para saber qual o contexto da competição, quem está melhor, quem tem desfalques em relação à Tóquio, etc. Por não ser um esporte que narro com frequência, o desafio de pegar um ritmo rápido acaba sendo maior.
Tecnicamente, o estilo de narração do vôlei muda muito em comparação a outros esportes, como o basquete, por exemplo?
Sim, porque no caso do vôlei valorizo muito o relato exato de cada ação, identificando quem recebeu, quem levantou, quem atacou, quem eventualmente defendeu. É um esporte de ações rápidas individuais e isso demanda um estudo mais aprofundado dos elencos para uma identificação rápida. Então pelo menos pra mim no caso do vôlei ver jogos anteriores dos times envolvidos se torna ainda mais importante para o dinamismo da narração. Não é um esporte que permite preencher lacunas com outros temas, é um esporte que exige um relato mais objetivo e direto para de fato ser uma narração de qualidade.
As suas narrações no vôlei na Rio-2016 ainda são muito comentadas pelos fãs do vôlei. As coloca entre as melhores da carreira?
Sim, considero uma das melhores da minha carreira. Sou muito crítico em relação ao meu trabalho. Então se por exemplo eu acompanhar hoje aquelas narrações de 2016 certamente vou encontrar detalhes e falas que talvez evitaria agora. Mas de qualquer maneira a memória que tenho daquele momento é mágica. Duas semanas em que consegui fazer um trabalho de muita criatividade, informação, humor e sempre com o apoio do Jahu, do Maurício Lima e da Ana Moser (com a Mireya Luis comentando ao lado na Fox). E para completar foi um trabalho encerrado com a narração de uma medalha de ouro. Aliás acho que é a minha narração favorita da carreira: “Nossa casa, nossas regras, nosso ouuuuuuroooooooooo”.
Você escreveu recentemente nas redes sociais sobre importância daquelas transmissões no Maracanãzinho para uma guinada na sua carreira. Existe um Rômulo antes da Rio-2016 e um Rômulo depois da Rio-2016? Qual a principal mudança entre os “dois Rômulos”?
Uma bela mudança foi que após as Olimpíadas eu passei a desejar sempre novas oportunidades de narrar vôlei. Não era algo que fazia parte da minha rotina de trabalho e não sabia que seria tão bom. Esse desejo de narrar mais vôlei já esbarrou muitas vezes em questões de direitos de transmissões, mas por outro lado transforma cada eventual e não frequente oportunidade em algo ainda mais especial. Narrar vôlei não é uma rotina pra mim, mas quando vem me enche de satisfação. Uma outra mudança foi a visibilidade que as transmissões do vôlei me deram como narrador e já me ajudaram bastante a conquistar espaço na carreira desde então, incluindo as transmissões de finais da NBA, algo que sempre ambicionei. Muita gratidão ao vôlei por sua grandeza. Espero ainda viver e narrar novos grandes momentos do vôlei no futuro em especial em Jogos Olímpicos.
Como é o seu processo criativo para os bordões? Tem facilidade para criá-los?
Sempre busco enaltecer personagens e as grandes jogadas. Identifico quem são as estrelas e suas principais características. Sejam Boskovic, Fedorovtseva, Egonu, Ngapeth… Tento dar um toque diferente, expressões diferentes, ironia, humor. Vejo os jogos e tento demonstrar para quem está assistindo que estou me divertindo tanto quanto essa pessoa que está acompanhando a transmissão. Quando se cria essa sintonia o caminho se torna mais suave.
Qual sua relação com o vôlei? Jogou na escola, adolescência? Gosta de acompanhar como torcedor?
Na verdade joguei mais basquete e futebol. Mas no vôlei lembro que eu tinha um saque que continha o sedutor veneno da jararaca. Vôlei pra mim na infância é ouvir o Marco Antônio narrando muitas vezes in loco Liga Mundial, Grand Prix e dando um espetáculo de criatividade na Band nos anos 90. O ouro em Barcelona, o time de Cuba no feminino e o técnico Karpol xingando uma pobre russa são imagens muito marcantes na minha memória. Mas a lembrança da voz do Marco Antônio está sempre acima. Que narrador lendário de voleibol ele foi! Quanto a torcer uma das primeiras lembranças que eu tenho de vôlei são finais de Liga Nacional do Fiat/Minas, com Pelé em quadra. Tinha até narração em rádio em jogos contra o Banespa e Pirelli no Mineirinho, etc. Eu era muito criança nessa época, mas é uma lembrança que vem de longe e ficou guardada. Eu lembro também do L´Acqua di Fiori, um timaço. Gostava do nome.
Para encerrar, lamenta muito o Lanza não estar presente na Itália? (rs)
Lamento demais. Lanza e suas sobrancelhas impecáveis. Que homem! E também lamento a ausência do Zaytsev, a saída do Juantorena, etc. Mas quem sabe o “xóvem” Michieletto viva o seu momento.