Trabalhador(a) brasileiro(a), imagine ter iniciado o seu emprego em 22 de julho do ano passado e estar até hoje sem receber o salário. Imaginou? Então saiba que esta é a realidade de vários jogadores do América na Superliga masculina.
Na semana passada, o líbero Kachel, um dos jogadores nesta situação, desistiu de esperar por uma resolução dos problemas e deixou o projeto. Não irá disputar o segundo turno, mesmo ciente de que dificilmente conseguirá jogar por outro clube nesta temporada (não é possível mais a transferência para clubes da mesma divisão e os times da Superliga B já estão com os elencos montados).
Em contato com o Web Vôlei, Kachel explicou o motivo de ter tomado a decisão.
– Eu moro de aluguel com o Renan (central) em Montes Claros. Como sou da seleção militar, arquei com os nossos custos, fui pagando as contas até agora. Na virada do ano, a renovação com as Forças Armadas não aconteceu e fiquei sem essa ajuda financeira. Então não fazia mais sentido continuar. Conversei com os meus pais para saber se poderia voltar para casa (Curitiba), expliquei a situação para o Henrique (Furtado, treinador) e decidi. Nesta semana estou indo embora. Acabou a grana que me sustentava – contou o líbero.
Além de Kachel, mais seis jogadores do América estão na mesma situação: Rafa Bairros, Renan, Thiago, Lucas, Pedrão e o argentino Johansen. Os demais atletas pertencem ao Sada Cruzeiro e estão emprestados. Assim recebem do projeto de Belo Horizonte. Antes de Kachel, Jonatas deixou o time no ano passado ao receber uma proposta do Oriente Médio. Já o experiente Thiago Alves saiu antes mesmo de a Superliga começar.
Na montagem do projeto, os jogadores foram informados de que a verba para pagamento de salários sairia de uma lei de incentivo que estava em tramitação.
– Estamos cobrando desde o Campeonato Mineiro. Seis meses se passaram… Fazíamos reuniões quase toda semana para cobrança, já estava até ficando chato para aqueles que recebem do Sada. E o Henrique sempre tentando nos acalmar. No fim do ano, fomos avisados que seríamos liberados caso quiséssemos, já que a lei não seria aprovada. Foi uma incompetência administrativa montar um time sem ter o dinheiro garantido – comentou o jogador, que estuda entrar na Justiça para receber os atrasados.
Não foi a primeira passagem de Kachel por Montes Claros. Ele diz ainda ter débitos da passagem anterior, na temporada 2016/2017:
– Lidar com pequenos atrasos no vôlei não é incomum, mas atraso desta forma é a primeira vez que eu enfrentei. Eu fiquei com um salário pendente da outra passagem e ele foi renegociado dentro do contrato atual. Sei que outros atletas daquele time também não tiveram os acordos quitados – contou o jogador.
Por intermédio da assessoria de imprensa, o América se posicionou sobre o caso:
“A diretoria do América Vôlei informa que busca todas as possibilidades de resolver a não liberação do recurso pela Lei Federal e, inclusive, já ajustou com vários atletas sobre o pagamento. Quanto a saída específica do atleta Kachel, trata-se de uma decisão pessoal do líbero em deixar o clube em função da sua não titularidade e sua demissão da Seleção Militar e frustração com a profissão. A diretoria ressalta que Kachel sempre foi um atleta que apoiou e contribuiu para o projeto do Vôlei em Montes Claros, e, por isso o América Vôlei deseja sorte ao atleta em sua trajetória profissional e pessoal”.