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Sheilla: “Temos de voltar a jogar rápido”

Sheilla fala sobre renovação e acredita que jogo do Brasil está um pouco mais lento que o da Itália: "Temos de voltar a jogar rápido"
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Em uma live nesta quarta-feira com o amigo e jogador de basquete Bruno Fiorotto, a bicampeã olímpica Sheilla voltou a falar sobre Olimpíada, Superliga, futuro, renovação, maternidade, continuidade no Itambé Minas, divertiu os fãs com casos da carreira e falou das experiências em jogar no exterior (Itália e Turquia). Uma das jogadoras mais importantes da nossa história alerta que achou a Superliga um pouco “lenta”, ao contrário da Itália, que está mais veloz. “Temos de voltar a jogar rápido”, disse oposta do Minas.  O Web Vôlei acompanhou a live e separou os principais trechos para os seus leitores. Confere aí:

Superliga 2019/2020

A gente queria a chance de disputar o bicampeonato. O Minas era a favor de adiar e não de cancelar a Superliga inicialmente, mas acho que acabaria sendo cancelada por conta dos contratos que seriam encerrados agora no final do maio. Estamos vivendo, com o coronavírus, algo que nunca aconteceu antes na nossa história. Tinha de ser assim. Mas fica o sentimento de frustração porque a gente achava que dava para brigar pelo bicampeonato

Fim do ranking

Acho que não muda muito, para o campeonato, o fato de não ter mais o ranking. Mas, as jogadoras de 7 pontos vão ter mais livre arbítrio, e por isso foi importante. Você pode escolher onde vai jogar. Muitas vezes, jogadoras saíram do Brasil porque não tinham time aqui para pagar o salário. O clube até te queria, mas já tinha duas jogadoras de 7 pontos. O ranking, ao meu ver, nunca foi decisivo para equilibrar a Superliga. Durante 10 anos, mesmo com ranking, duas equipes decidiram a Superliga, que eram Rio e Osasco. Com o dólar e o euro tão altos, as jogadoras que podem jogar lá fora vão querer continuar jogando no exterior, claro.  Mas agora elas têm essa opção.

As bicampeãs olímpicas Fabiana e Sheilla vibram (FIVB/Divulgação)

Juvenis no grupo

Acho que tem de ser proposto o que acontecia quando eu comecei a jogar, que era obrigatório ter, no banco, pelo menos duas jogadoras juvenis. Isso, pra mim, é muito válido. Porque isso força os clubes a ajudar na renovação do nosso voleibol. Isso é mais importante do que qualquer coisa no momento.

Três estrangeiras

Ainda não sei se sou contra a favor. Preciso ver para ter uma opinião. Com o dólar e o euro nas alturas, a tendência é que não tenhamos tantas estrangeiras na Superliga, ou venham estrangeiras mais baratas, medianas. Pode ser que isso fortaleça a Superliga em algum momento. Não sei se tira espaço das brasileiras. Tem de deixar acontecer, jogar um ano, dois, para ver se vale a pena ou não.

Velha forma

Eu acho sim, que consigo voltar a jogar na minha boa forma de antes. Hoje eu tenho um problema que é a parte física. Estou mais velha, é mais difícil ganhar massa muscular e sempre fui magra. Ficar mais forte é o meu objetivo. Tecnicamente acho que não tenho problema.

Adiamento da Olimpíada

Se for pensar em tempo, o adiamento da Olimpíada foi bom pra mim porque terei mais tempo para me preparar. Mas, por outro lado, ficou mais longe. Eu não tinha objetivo de voltar para a Seleção, nem de voltar a jogar na quadra no início do ano passado. Depois que eu tive as meninas, a intenção era jogar na praia. Já tinha uma estrutura pensada, parceira e tal. Mas, o Zé (José Roberto Guimarães) pediu para eu e a Fabi (central Fabiana) voltarmos para a Seleção. Tinha muitas meninas pedindo despensa. Ele pediu para eu tentar ir para Tóquio. Voltei para a quadra com o objetivo de ir para a Olimpíada. Então, como jogadora, ganhei mais tempo. Mas ficou mais distante. Tenho de ver se vou ter cabeça para me preparar mais um ano.

Perfeccionista

Sempre fui perfeccionista. Meu objetivo era sempre evoluir. Minha disputa sempre foi comigo mesma. Eu sempre quis ser melhor do que eu estava ontem, sempre fazendo muito extra, desde nova eu fazia isso, treinava mais, queria evoluir de um treino para outro, de um dia para o outro… Isso me fez chegar onde cheguei. Eu não queria ser melhor que nenhuma jogadora. Queria sem melhor do que eu mesma. Treinei pra caramba a vida inteira.

Renovação

Quando eu era mais nova, vivia o vôlei integralmente, deixava namoro de lado, saída… E hoje eu não vejo o mesmo comprometimento das jogadoras que estão começando. Acho que por isso está tendo o “Gap” (buraco) na renovação.

Campeã da Superliga em 2002, aos 18 anos

“Velha” depois dos 30?

Eu lembro que tinha 28 anos em Londres e já era chamada de velha. E hoje tem jogadora com 26 anos ainda é novinha e renovação. Tem alguma coisa errada já aí né. Eu sempre me cuidei, não dormia tarde, bebia socialmente de vez em quando, nunca tive nenhuma contusão séria e isso foi importante para eu voltar agora, tecnicamente. Meu foco hoje é ganhar massa muscular. Os maiores objetivos do Minas na temporada eram o Sul-Americano e a Superliga. E ganhamos o Sul-Americano comigo de titular, que era um dos meus objetivos. A Superliga, infelizmente, não conseguimos terminar a temporada.

Vai ficar no Minas?

Meu contrato com o Minas vai até um pouco mais para a frente das demais jogadoras, porque eu cheguei depois, vai acabar em julho. Ainda vamos começar a negociação.

Sonha em ser técnica?

Não. Meu técnico na Turquia (Giovani Guidetti) disse que era para eu ser técnica, no Brasil também as pessoas falam que eu tenho visão de jogo, mas acho que não teria paciência para ser técnica.

Qual o time mais forte? 2008 ou 2012?

O mais forte foi o de 2008. A gente estava sobrando. Tanto, que ganhamos todos os jogos por 3 a 0, só a final por 3 a 1. A gente sabia que era superior e que seria campeã. O de 2012 foi mais difícil. A gente tinha muita confiança, mas não tinha aquela certeza de 2008.

Personalidade forte

Acho que as grandes jogadoras têm personalidade forte, mas aprendem a lidar com as outas personalidades. Aprendem a respeitar, a entender e a saber lidar. Cada jogadora reage de um jeito. Tem jogadora que o técnico tem de gritar com ela, outras que tem de elogiar, outras tem de falar mais manso…

Renovação

As jogadoras mais novas não têm que se acomodar. Senão, chegam aos 26 anos achando que ainda são novas. Tem de manter os campeonatos sub 21 e sub 23, internacionais é importante. Me perguntam muito sobre a Lorenne. Torço muito por ela. Acho uma pessoa fantástica e uma jogadora que pode evoluir muito. Tem muito futuro. Foi uma jogadora que assumiu a Seleção na reta final da temporada passada por conta da contusão da Tandara e segurou bem, diante do possível, jogando com consistência. Já falei com ela que ela tem de jogar um pouco mais rápido (rs).

Hyago de Paula/Divulgação

MVP da Superliga 2019/2020

Thaisa, com certeza. Do jeito que ela jogou nessa temporada e voltando de contusão, ela seria MVP, certamente. Ela se preparou muito, fez uma pre temporada muito forte e voou.

Egonu, Zhu ou Boskovic?

Zhu é mais completa. Mas quem estava melhor atualmente, antes dessa parada, era a Egonu.

Seu auge foi em 2012?

Acho que o jogo da Rússia ficou muito marcado (quartas de final em Londres-2012), da maneira como foi, pelo título individual de melhor atleta no ano, o que foi inédito em esporte coletivo… Foi um ano muito bom. Eu sempre tive uma regularidade, não deixava o nível cair muito. Um dos picos do augo foi 2012, com certeza. Eu sempre trabalhei para chegar melhor nos campeonatos mais importantes tanto no exterior quanto no Brasil.

Pior derrota

A derrota para a China nas quartas de final da Rio 2016 foi bem doída, por ter sido em casa, com família perto e tal, mas não foi a que mais me marcou. Tem derrotas que você pensa: “poxa, se eu pudesse feito algo diferente, o resultado poderia ser diferente”. Mas, em 2016, eu tive certeza de tudo o que eu poderia ter feito pelo grupo eu fiz. Não vejo nada do que eu poderia ter feito diferente que poderia mudar o resultado. A derrota na final do Mundial de 2014 marcou mais.

Aprender a valorizar o pódio

Em 2004 perdemos uma semifinal olímpica para a Rússia e em 2006, perdemos a final do Mundial para a Rússia num jogo 3 a 2. Foram duas gerações diferentes Em 2004, era uma geração antes da minha. Em 2006, nossa geração era nova e já chegava a uma final. Uma coisa que eu aprendi a valorizar mais velha, fora do Brasil, foi o pódio, o segundo e o terceiro lugar. No Brasil não é assim. Fui jogar na Turquia, ficamos em segundo na Champions, as minhas colegas de time ficaram felizes pelo vice e eu arrasada… Com o tempo, aprendi a valorizar o pódio. Os torcedores, a imprensa e os próprios jogadores brasileiros têm essa mentalidade, infelizmente.

Pequim-2008 (Divulgação)

Itália

Fui para a Itália com 20 anos porque queria viver sozinha, viver a experiência, fiquei quatro anos e foi maravilhoso. Depois, já bicampeã olímpica fui para a Turquia. Antes de ir para a Itália, o Ary (Graça, ex-presidente da CBV) tentou barrar a minha ida porque eu era muito nova. Mas eu bati o pé, fui até o Rio e falei na cara dele que ele não poderia me impedir de jogar onde eu quisesse. Depois disso, ele baixou uma regra que jogadora de Seleção Brasileira só poderia jogar no exterior depois dos 23 anos. Se não me engano Mari e Jaque só puderam jogar fora depois dos 23… Anos depois eu encontrei com ele num evento, já bicampeã olímpica, e ele disse que sabia que aquela menina que entrou na sala peitando teria futuro (rs).

A Itália está mais rápida

Fora do Brasil você é um produto. No Brasil é mais família. Mas não posso falar nada das estruturas, tanto na Itália e na Turquia, estruturas maravilhosas. Em relação ao treino, acho que a Itália hoje esteja um pouco na frente. A Itália está voltando a jogar mais rápido. O Brasil está jogando mais lento, acho.

Jogo rápido x lento

Depois de três anos parada, voltei para o Minas, que joga rápido, com a Macris. Mas, achei o voleibol do Brasil de forma geral mais lento. A gente não tem jogadora muito alta como a Gamova, por exemplo, para ir na força, na altura, para brigar lá em cima. Temos de voltar a jogar rápido.

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