Destaque da Seleção Brasileira feminina na vitória sobre a China por 3 a 1, no último sábado, no encerramento da primeira fase do Campeonato Mundial, a oposta Tainara passou por maus momentos na temporada, antes de ganhar a confiança necessária para representar a equipe em grande forma. Após de apresentar ao time verde e amarelo com um problema no ombro direito, a atleta de 22 anos conviveu com a depressão e a falta de confiança.
– Eu só queria ser cortada. Tive uma crise como se tivesse tendo um pânico. Eu olhava e falava: “Gente, eu estou acima do peso, o que eu tô fazendo aqui? Eu sou imprestável. Eu não presto para nada. Por que eles querem ficar comigo? Eu não quero estar aqui. Eu só quero me cuidar” – contou Tainara, no terceiro episódio da série “Sem Bloqueio”, veiculada pelo “sportv”.
A atleta foi chamada pelo técnico José Roberto Guimarães para os treinos com foco na Liga das Nações, mas desde o início dos trabalhos enfrentou limitações no ombro e não conseguiu se manter no nível do grupo. Mas o problema não era apenas físico.
– Pelo fato de eu ter tido a lesão no ombro, cheguei a Saquarema em uma condição ruim. Minha cabeça não estava lá. Eu só queria ir embora, um tempo para mim. E quando você fica lá, tem de abrir mão de você, para conviver com o grupo. Tem de mostrar trabalho o tempo inteiro. E eu não estava pronta para poder dar o melhor de mim – relatou a jogadora.
A atacante contou que nunca havia morado longe da família até os 21 anos, quando foi contratada pelo Dentil/Praia Clube e se mudou para Uberlândia. Disse que sentiu falta dos pais e da rotina, o que mexeu com o psicológico. A lesão tornou a experiência ainda mais complicada.
– Tive depressão. Fiquei muito mal. É uma tristeza que eu não sabia de onde vinha. O que me deixava bem, feliz, era se eu comesse. Fui levando, levando, ao ponto de não aguentar mais e pedir socorro. Às vezes, ainda é um tabu falar disso, que você precisa de um tempo. Porque as pessoas acham, principalmente as gerações de antes, que a gente fala isso porque a gente é “Nutella”. Mas às vezes não é isso. Pode ser que a dor que essa pessoa tenha sentido seja muito mais intensa do que é pra mim.
Tainara acabou cortada antes da terceira fase da Liga das Nações e não participou da conquista do vice-campeonato. No período, cuidou do ombro para voltar 100%. O retorno ao grupo na condição ideal era algo que ela perseguia diariamente.
– Era meu objetivo voltar muito melhor do que como eu me apresentei. Não teve um trabalho só físico, mas também mental, com minha psicóloga. Então, isso me tornou uma pessoa diferente hoje. Virei uma chave grande e importante para minha carreira. Eu falei que ressurgiria como uma Fênix. Isso para mim é uma segunda chance. Hoje, eu me vejo com uma oportunidade muito grande. Desde o primeiro dia, eu agarrei como se fosse a última – contou Tainara, que renovou contrato com o Praia Clube para a próxima temporada.
O Brasil inicia a segunda fase do Mundial nesta terça-feira, contra a Itália, às 12h15 (de Brasília), em Roterdã, na Holanda. As comandadas de Zé Roberto ainda terão pela frente nesta etapa Porto Rico (quinta, às 11h), Holanda (sexta, às 15h15) e Bélgica (sábado, às 12h).