O campeão olímpico Wallace é um apaixonado por carros, mas foi a bicicleta que o conduziu às quadras onde o atleta deu os primeiros passos rumo ao seleto grupo dos maiores jogadores do voleibol mundial. No Centro Olímpico, em São Paulo, ele teve o suporte que precisava para alcançar uma mudança de patamar na vida. Essa é a história da segunda matéria da série “Pelo Meu Caminho”, produzida pelo Web Vôlei em parceria com o Team GM.
Sob os olhares e ensinamentos do técnico Fábio Broggini, cujo perfil regrado e exigente ajudou a lapidar grandes talentos nas quadras, Wallace descobriu no projeto mantido pela prefeitura de São Paulo que poderia trilhar um caminho de sucesso.
– A primeira lembrança que tenho do Wallace é dele chegando de bicicleta e chinelo Havaianas no Centro Olímpico. Um garoto super simples, humilde e que, quando colocava a roupa de treino, se transformava em um leão voraz, com muita sede de aprendizagem – conta Fábio, de 63 anos.
De início, Wallace não sabia nem rodar o 5-1. A passada de ataque era trocada. Mas seu empenho e versatilidade chamaram a atenção do treinador, hoje aposentado, que se orgulha de como o clube conquistou o respeito dos adversários, movido pelos golpes do garoto que se tornaria campeão olímpico com Bernardinho em 2016.
– O Fábio era um cara bem rigoroso e correto. Tudo tinha horário certo. Queria sempre tudo certinho. Na minha visão, era a oportunidade que eu tinha de poder jogar federado pela primeira vez, então foi o ápice para tentar chegar em algum lugar. Eu não sabia se ia ser um jogador, mas ele me abriu uma porta. Fiquei dois anos. Com os treinamentos, fui melhorando, fui entendendo como é que funcionavam as coisas. Ele me ajudou bastante na questão de ser bem rigoroso também. São “n” coisas que, sem dúvida, se não fosse lá, eu acho que seria mais difícil eu ter avançado ou continuado minha carreira no vôlei – conta Wallace.
O ano era 2004 quando, depois de uma primeira tentativa frustrada, o atacante foi aprovado no Centro Olímpico, uma equipe recente no cenário da Federação Paulista. Em dois anos, ajudou o clube a superar seus melhores resultados e se sobressair no cenário do voleibol.
O oposto iniciou nas equipes de aperfeiçoamento e logo se destacou pelo potencial físico e pela força acima dos padrões do grupo em que se encontrava. Ex-atleta de uma geração que tinha Willian Carvalho, Amauri e Montanaro, Fábio lembra de outro ponto forte do jogador: o bom relacionamento com o grupo.
– Na época, a gente buscava respeito perante equipes mais fortes e tradicionais, como São Caetano, Hebraica, Mauá. Mas conseguimos um título de campeões da Série Prata da FPV que nos impulsionou para disputar a Série Ouro. Acredito que foi o título mais importante do Wallace no Centro Olímpico, até ele nos deixar aos 18 anos, quando buscou voos mais altos, indo fazer teste no juvenil do Banespa – relembra Fábio, que antes do Centro Olímpico, onde assumiu a coordenação de 11 modalidades, passou por Pinheiros, Sírio, Ipê Clube e outros, em mais de 35 anos entre técnico e supervisor.
O Centro Olímpico não tinha equipe juvenil masculina na época. Portanto, Fábio estimulou o oposto a tentar a peneira do Banespa. O resultado não surpreendeu. Meses após ser aprovado, Wallace seria convocado para a Seleção Brasileira da categoria, que se sagraria campeã mundial. Anos depois, se consolidaria na equipe adulta verde-amarela.
– Foi bem difícil mesmo. O começo era complicado. Eu chegava realmente de bicicleta e chinelo para treinar. Tênis de vôlei mesmo, na época, eu nem tinha. São coisas que eu fui conquistando aos poucos. Eu nem tinha a dimensão de que ajudei a colocar o Centro Olímpico mais lá em cima no quesito vôlei, sabe? Fico muito contente de saber que consegui ajudar o clube, que tinha as suas limitações, mas me abriu uma oportunidade única na minha vida, que eu agarrei com unhas e dentes – conta Wallace, prestes a disputar mais uma Superliga pelo Sada Cruzeiro.