Em live entre duas bicampeãs olímpicas, na última quinta-feira à noite (07.05), a central Thaisa conversou com a líbero Fabi e falou sobre a ótima fase que vive tanto dentro quanto fora das quadras. Eleita extra-oficialmente por torcedores, companheiras de times e até adversárias como a melhor jogadora da Superliga 2019/2020 – que não terminou, por conta do agravamento da pandemia de coronavírus -, Thaisa foi a melhor atacante da competição em aproveitamento e também a melhor bloqueadora do torneio.
Entre outras coisas, Thaisa disse que, as críticas recebidas após a grave lesão sofrida no joelho direito em abril de 2017, quando defendia o Eczacibasi, da Turquia, a motivaram a voltar a jogar em alto nível novamente. “Falaram que eu estava manca, que eu estava lerda, que eu não me mexia mais, e teve até um ‘ser humaninho´que falou aí “Ah, essa aí não volta mais não. Pelo que eu conversei com os médicos ela não volta mais a jogar vôlei em alto nível”, contou a jogadora.
O Web Vôlei acompanhou a live e separou, abaixo, os principais trechos.
Acompanhando os jogos antigos na TV
Cara, misericórdia, graças a Deus o tempo passou porque cruz credo, a gente evita porque dá um susto (risos). Tô brincando, mas estou assistindo sim, muita saudade. É engraçado ver aquela cara de criança, eu lembro, mas vendo a gente lembra o que a gente sentia naquela época. Eu era muito moleca, tinha medinho, frio na barriga, era muito louco (risos)…
Início de carreira
No começo da carreira eu não me via na seleção. Sempre fui muito crítica comigo mesma. Lembro que no início eu sempre achava que seria cortada (risos). Já ia mentalmente preparada: “nesse corte eu saio”, tinha 15 cortes, nos 15 eu tinha certeza que eu seria cortada…
Personalidade forte
Eu sempre briguei muito pelas pessoas do meu time. Quem estava de fora acabava me vendo como grosseira e arrogante, mas sempre fui muito sanguínea dentro de quadra. Se alguém levantasse um dedo para falar qualquer coisa sobre alguém do meu time, eu era a primeira a levantar e ia para cima. Minha cobrança sempre me tirou da zona de conforto. Nunca achei que estava bom. Zona de conforto nunca existiu para mim.
Críticas motivaram retorno avassalador
Quando eu ativo o modo Hulk (risos), sai de baixo. Eu já vinha ouvindo certos comentários depois que voltei da lesão e isso me magoou muito. Eu esperava comentários, claro, mas menos de algumas pessoas específicas. Ouvi torcedores e pessoas falando que eu estava manca, que eu estava lerda, que eu não me mexia mais, e esse ser humaninho que falou aí “Ah, essa aí não volta mais não. Pelo que eu conversei com os médicos ela não volta mais a jogar vôlei em alto nível”. Fiquei muito chateada. Isso subiu na minha cabeça de um jeito, que eu decidi provar para todo mundo que estava duvidando que eu vou conseguir. Não sou manca, não sou lerda. E isso, com certeza me motivou muito. Esse ano eu tive um coach esportivo e foi muito importante. Às vezes a gente tem um gatilhozinho que pode gerar suas dúvidas, suas crenças e atrapalha muito.
Tatuagens
É uma das minhas paixões. Na de número 28 eu parei de contar. Porque está fechando, não tem como (risos). Chega, não vou contar mais. Nem sei mais quantas tatuagens já fiz. Quando eu fiz a primeira tatuagem com 15 anos, escondido, meus pais brigaram (risos).
Seleção Brasileira
Estou tentando fazendo o máximo possível para não ficar parada. Ainda mais no pós-lesão, não posso bobear. Agora tenho de pensar no clube, não tem jeito. Seleção, só no ano que vem. Agora é fazer igual ou melhor o que nesta temporada… A Sheilla fica falando comigo: “Tem de voltar para a Seleção”. Mas isso aí a gente vai ter de ver no último jogo do campeonato, se eu estiver fisicamente bem, cabeça boa, porque não? Mas acho que temos de respeitar. Meu joelho hoje tem 80 anos. Não dá para forçar demais. Preciso avaliar minha vida útil no vôlei. Tenho três cirurgias no joelho….
Adiamento da Olimpíada
Vejo esse adiamento da Olimpíada como um presente. Um ano a mais que a gente tem para treinar, para se preparar… Quem tiver intenção de ir para a Olimpíada tem mais tempo para buscar esse espaço. Apesar de toda a tristeza com essa situação que estamos vivendo, temos de ver as coisas pelo lado positivo. Evito ver muita TV para manter a cabeça sã. Porque não está fácil. Estou tentando ficar mais positiva.
Turquia
Foi uma experiência sensacional. Eles fazem você se sentir parte da família e têm uma estrutura sensacional. Eles te olham como uma rainha, valorizam muito as atletas com histórico de olimpíada. Eles fizeram de tudo para me deixar mais em casa possível. As meninas te acolhem, vão na sua casa, fazem questão de dar força por você ser estrangeira. Achei o campeonato incrível, jogar a Champions League foi incrível. Tirando o que aconteceu (lesão), que não foi culpa da comissão técnica, foi culpa de um técnico “x” lá….
Kosheleva (jogaram juntas na Turquia)
Gente boa, alto astral, dedicada, treina, que fazer… Ela é muito gente boa. Depois que eu machuquei ela ia todo dia na minha casa. Teve um dia que ela apareceu com 5kg de morango na minha casa na Turquia porque ficou sabendo que eu gostava (risos). Uma brasileira em corpo de russa (risos).
Kim
Não joguei com a Kim. Joguei contra, mas ela foi ao hospital me visitar… Uma querida, muito engraçada (risos).
Time da história
Fofão, Sheilla, as ponteiras eu colocaria Sokolova, que era o demônio, e a Nat; centrais eu e Fabi e líbero Fabizinha, você conheceu ela? (risos). Numa inversão, eu colocaria Egonu e Maja Ognjenovic.
Jogadora que gostaria de ter jogado junto e não jogou
Difícil achar…. joguei com tanta gente legal… Gostaria de ter jogado com a Kim. Ela é craque.
Boskovic
Toda menina, envergonhada, tranquila, se cobra bastante no treino. Ela é diferenciada. A impressão que se tem é que ela é meio largada.. ela não tem noção do potencial que tem. Tem ângulo, tem golpe, força… O saque dela quando entra é uma bomba. É uma fofinha, uma criança, esticaram o bebê (risos).
Substituto de Zé Roberto na Seleção
Não querendo desmerecer ninguém, respeito todos os técnicos, mas hoje, para ter o nível do Zé Roberto, não tem como não pensar em outro nome que não seja Bernardo. Para ser coerente, seria Bernardo.
Nova geração do vôlei brasileiro
Acho que todo mundo merece ter um coach, ainda mais essa geração, que tem passado por muitos conflitos internos, crenças limitantes, coisas que podem atrapalhar dentro e fora de quadra. Acho que essa geração tem mais problemas nessa área. A nossa era mais bem resolvida. Seria bom buscar algo para melhorar a performance emocional. Principalmente porque essa geração mais nova se baseia muito nas redes sociais. Se você joga bem, você é rainha. Se você joga mal, vira lixo. Eu tenho a sensação de que tem muita gente que se abala muito com os comentários das pessoas nas redes sociais. Muitas dessas jovens precisam de mais autoconhecimento. Passei a me entender demais, a entender as coisas que estavam me bloqueando. Se essas meninas trabalharem mais isso, vão voar. Porque talento, a gente tem de sobra. A próxima central não tem de ser a próxima Fabiana, a próxima Thaisa. A próxima central tem de ser ela mesma. Autoconhecimento é tudo. Ter uma meta e traçar uma ação. E trabalhar esse emocional. Eu trabalhei, eu fiz isso, porque eu achava que tinha algo para melhorar. Isso acrescenta demais.
Maternidade
É um sonho da gente, e vai vir só bichão (o marido, ex-jogador de basquete, tem 2,13m de altura), mas agora não. Para ser mãe, você tem de parar por um tempo, quase como um tempo de lesão. Voltei bem, quero manter o momento, vamos adiar por um tempo.