O fulano está chegando? Existe chance de contratar beltrano? Não acredito que sicrano será mantido. É verdade?
A torcida do Sada/Cruzeiro está inquieta desde a eliminação nas semifinais da Superliga Cimed masculina. Mal acostumada pela conquista de 34 títulos desde 2010, ela tem feito diversas perguntas nas redes sociais sobre uma gama enorme de jogadores, preocupada com o processo de reconstrução do time.
Nesta quinta-feira, o clube respondeu oficialmente várias das perguntas. E foi além, com uma carta aberta de Vittorio Medioli, presidente do projeto. E é possível tirar algumas conclusões sobre a temporada 2019/2020, além de ler as entrelinhas da nota oficial do dirigente/patrocinador.
1) Renovar com Marcelo Mendez por mais dois anos é um grande acerto. Valoriza um treinador vencedor que acaba de assumir a seleção argentina e dá tranquilidade para fazer um trabalho sem obrigação imediatista que um contrato de uma temporada impõe.
2) Nenhum time do planeta passa impune com a perda de Leal, Simon e Uriarte de uma vez. Ainda mais quem valoriza a continuidade. E assim a reconstrução na atual temporada foi a maior do projeto em todos os tempos, com os resultados deixando nítida a dificuldade. Arrisco a dizer que a remontagem em curso será tão complexa quanto a anterior. Sander e Le Roux, dois nomes de peso no cenário mundial, chegaram e já saíram. E a reposição não será com figurões, mas sim com apostas. O canadense Perrin já foi anunciado, enquanto o esloveno Cebulj é uma possibilidade real. Dois ponteiros altos (2,01m e 2,00m), que dão mais possibilidade ofensiva. Resta saber como ficará a linha de passe, visto que haverá mudança na posição de líbero pela primeira vez em nove anos. O veterano Serginho, um dos ícones do Sada/Cruzeiro, dará lugar a Lukinha. Mudança radical, que necessitará de tempo para uma análise mais definitiva.
3) A possibilidade de fechar com dois pontas estrangeiros aconteceu após a tentativa de recontratar Uriarte ser frustrada. Campeão da Superliga passada com o Cruzeiro em 2017/2018, o argentino já tinha um acordo apalavrado para voltar. Mas a rivalidade latente e crescente com o EMS/Taubaté, rival na semi da competição nacional, além do vazamento da informação no meio do playoff, fez o negócio melar. O time paulista, que possui mais um ano de vínculo com Uriarte, vetou a transferência para o rival. E obrigou uma mudança de planos na montagem do elenco. E isso influencia diretamente no próximo tópico.
4) Cachopa teve um verdadeiro teste de fogo na Superliga. Reserva por algumas temporadas, ele foi alçado ao posto de titular. E a enorme responsabilidade causou alguns problemas, como a clara falta de sintonia com Le Roux, por exemplo. A torcida, acostumada com William e Uriarte, não perdoou, elegendo o levantador como o bode expiatório nas derrotas. E as críticas prosseguem após o anúncio das renovações de contrato. Algumas bem pesadas, fora de tom e pouco educadas. Só servem para aumentar a pressão sobre o atleta, que é um profissional correto, esforçado e inteligente, mas tecnicamente abaixo do patamar dos antecessores. E não vejo demérito, por exemplo, não ser tão bom quanto um fora de série como William.
5) Na carta aberta, Medioli cita nominalmente Cachopa em um dos parágrafos. Diz que o Sada/Cruzeiro valoriza a base e precisa dar espaço para que atletas explodam, uma essência do projeto. Elogiável. Ainda pede paciência ao torcedor com uma peça-chave em qualquer time de vôlei. Por tudo o que já li nos últimos tempos, não me parece que a maioria da torcida esteja disposta a isso. Em resumo: a pressão sobre Cachopa seguirá forte.
6) A liderança de Filipe será mais importante ainda dentro deste cenário já exposto. Tentar passar tranquilidade a quem for jogar e ser uma voz ativa com o torcedor, na busca pela tranquilidade que o time precisará durante a reconstrução. Mesmo que jogue pouco, ele será decisivo para buscar este equilíbrio.
7) Pelas opções de mercado e pela boa dobradinha feita na temporada, a dupla Evandro/Luan foi mantida na saída de rede. Um acerto.
8) No meio de rede, Otávio será o substituto de Le Roux. Titular de Taubaté nos últimos anos, ele vem de uma cirurgia no tendão de Aquiles. O brasileiro não tem a potência do francês no saque, mas talvez facilite a sintonia de ataque com Cachopa. A diferença pode vir deste fundamento.
Por Daniel Bortoletto
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