O central Victor Hugo, do Saneago/Goiás, aprendeu desde cedo a valorizar os conselhos dos mais velhos, mesmo quando ainda não sabia que o destino lhe reservava um pioneiro do voleibol nacional como referência. Cria do bairro de Bangu, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, o goiano mostra muita gratidão a Hamilton Leão de Oliveira, que integrou a primeira Seleção Brasileira olímpica da modalidade, nos Jogos de Tóquio 1964. Essa é a terceira história da série “Pelo Meu Caminho”, produzida pelo Web Vôlei em parceria com o Team GM, com o objetivo de resgatar memórias de quem marcou a trajetória de astros e estrelas das quadras.
Nascido em Goiânia, mas com a vida consolidada no Rio de Janeiro, Victor Hugo cresceu cercado por apaixonados pelo esporte. O pai Nilson, que é engenheiro agrônomo, é atleta amador. Desde os campeonatos universitários, passando pelas peladas e torneios de rua, ele se tornou, nos últimos anos, figura carimbada nas competições master em Saquarema. E Hamilton, que morreu em 23 de dezembro de 2015, aos 81 anos, era como se fosse de família.
– Tive a grande sorte de ter o Hamílton, um jogador olímpico, convivendo com a minha família. Ele sempre foi um grande amigo. Um parente para a gente, mesmo. Por muitos anos, eu não tive noção dos feitos dele no voleibol, mas depois comecei a entender. Foi ele quem, efetivamente, ensinou o meu pai a jogar voleibol em um nível mais alto, nos campeonatos universitários e nos torneios de rua que eram promovidos pelo jornal “O Globo”. Eu me lembro de quando ainda nem tinha interesse pelo vôlei, mas o Hamilton vivia lá em casa. Graças a ele, o meu pai acabou passando essa paixão e esses ensinamentos para mim e meu irmão – conta Victor Hugo.
Enquanto o central, repatriado pelo Saneago/Goiás para o retorno do projeto goiano à elite, se profissionalizou após fazer as categorias de base no Fluminense e no Minas Tênis Clube, o irmão Vinícius jogou até juvenil no Tricolor Carioca e se dedicou aos estudos para se tornar engenheiro ambiental. Independentemente do caminho, a semente do voleibol foi plantada na família.
Natural de Porto Seguro (BA), Hamilton conheceu o pai de Victor Hugo quando alguns amigos de Nilson o chamaram para jogar uma pelada em Bangu, onde a família mora até hoje. Por lá, o ex-jogador da Seleção Brasileira era professor de Educação Física e comandava uma equipe amadora. Os dois logo vestiram a mesma camisa, nas quadras e na vida.
Hamilton foi o único baiano presente na delegação brasileira de Tóquio-1964, de um total de 68 atletas. O vôlei estreou como modalidade olímpica justamente naquela edição. O Brasil terminou na sétima colocação.
Após a aposentadoria como atleta, Leão trabalhou como professor e técnico. A sua relação com a Cidade Maravilhosa também passa por ter defendido o Flamengo nos tempos de jogador.
Com alegria, ele celebrou o fato de presenciar Victor Hugo dar os primeiros ataques na quadra da Praça Leopoldina e trilhar um caminho de sucesso, dentro e fora do Brasil. Com as orientações certeiras de Hamilton e do pai, o goiano resolveu investir na carreira, transformando o hobby em ganha-pão.
Antes de se integrar ao Saneago/Goiás, o central passou por Juiz de Fora, Canoas, Sesc RJ, Pamvochaïkos (GRE), Maringá, Vedacit Guarulhos, Sporting (POR), Rapid Bucareste (ROM) e Omonia Nicosia (CHP).
– Quando eu estava na base do Fluminense, o Hamilton sempre fazia um esforço muito grande para poder ir me ver – recorda Victor Hugo, que estreou como profissional em 2007/2008, defendendo o Minas, quando ainda via Hamilton nas arquibancadas vibrando com suas conquistas e se divertia com os presentes que o mentor o trazia.
– O Hamilton vivia viajando, mas, quando voltava, sempre contava como tinha sido e me trazia um cartão telefônico de onde ele tinha ido. Eu achava aquilo o máximo. Além, é claro, de um refrigerante em uma sacola de plástico – lembra Victor Hugo.